Guardar os dias de preceito
Por ocasião da Devoção Reparadora dos Cinco Primeiros Sábados o Santuário do Pai das Misericórdias está promovendo uma série acerca da relação dos dez Mandamentos da Lei de Deus com a Mensagem de Fátima, dando continuidade ao estudo do livro “Apelos da Mensagem de Fátima” da autoria da serva de Deus Irmã Lúcia, “pastorinha” que foi escolhida por Deus para propagar a Devoção ao Coração Imaculado de Maria no mundo. Para exprimir a grande relevância do terceiro Mandamento que consiste em “Guardar os dias de preceito” ela parte da Sagrada Escritura que apresenta esta ordem de Deus com os seguintes dizeres:
Lembra-te do dia de sábado para santificá-lo. Trabalharás durante seis dias e farás todas as tuas obras. O sétimo dia, porém, é o sábado do Senhor, teu Deus. Não farás nenhum trabalho […]. Porque em seis dias Iahweh fez o céu, a terra e o mar, […] mas repousou no sétimo dia. (Ex 20, 8-10).
Salienta que o descanso querido por Deus é aquele que é feito em ação de graças por toda sua obra criada, ou seja, é um dia para lhe ser inteiramente consagrado. Entretanto, a Sagrada Escritura também evidencia a ligação deste Mandamento com a libertação do povo de Deus da escravidão do Egito quando diz: “Recorda que foste escravo na terra do Egito, e que Iahweh teu Deus, te fez sair de lá com mão forte e braço estendido. É por isso que Iahweh teu Deus te ordenou guardar o dia de sábado” (Dt 5,15). Logo, pode-se compreender que, para Deus, este dia foi instituído como sinal de uma Aliança irrevogável com seu povo: “Os filhos de Israel observarão o sábado, celebrando-o de geração em geração, como uma aliança eterna” (Ex 31,16). Então, compreende-se que o Senhor reservou este dia para o louvor de sua obra criada e também para o memorial da poderosa libertação de seu povo da escravidão.
Depois de compreendermos o significado do sábado como dia consagrado ao Senhor para a Antiga Aliança, pode-se colocar em relevo as seguintes palavras da Irmã Lúcia acerca do novo dia consagrado ao Senhor para a Nova Aliança:
A Igreja, autorizada por Deus – ‘Dar-te-ei as chaves do reino dos Céus, e tudo quanto ligares na terra ficará ligado nos Céus’, e tudo quanto desligares na terra será desligado nos Céus’ (Mt 16,19) – substituiu o sábado pelo domingo, para comemorar, juntamente com a obra da criação, a obra da redenção efetuada por Cristo, nosso Salvador que ressuscitou num domingo. (IRMÃ LÚCIA, 2007, p. 224).
Tendo em conta a importância deste dia, explicita que este não deve ser somente dedicado ao descanso físico, mas, é, sobretudo, um dia consagrado ao Senhor e por isso devemos buscá-lo por meio da oração para agradecer-lhe todos por todos os benefícios que fez em prol do gênero humano – principalmente a salvação que nos trouxe –, sendo este também um dia propício para lhe apresentarmos as nossas necessidades. A respeito do domingo como o dia dedicado por excelência ao Senhor Jesus Cristo, também merece relevo o ensinamento do Catecismo da Igreja Católica (n. 2174) quando diz:
Jesus ressuscitou dentre os mortos ‘no primeiro dia da semana’ (Mc 16,2). Enquanto ‘primeiro dia’, o dia da Ressurreição de Cristo lembra a primeira criação. Enquanto ‘oitavo dia’, que segue ao sábado, significa a nova criação inaugurada com a Ressurreição de Cristo. Para os cristãos, ele se tornou o primeiro de todos os dias, a primeira de todas as festas, o dia do Senhor, o domingo.
O Catecismo (ns. 2175 e 2176) segue explicitando que o domingo se distingue do sábado e o leva à plenitude, no sentido de que celebra a Páscoa de Cristo, que é a definitiva libertação do pecado do homem, prefigurada na libertação da escravidão do povo de Deus no Egito, e também porque, através da Ressurreição de Cristo, o homem obteve o seu repouso eterno em Deus. Por conseguinte, alude à Eucaristia dominical, assegurando que este culto da Nova Aliança cumpre o preceito da Antiga Aliança, uma vez que se trata de um memorial ao Deus Criador e Redentor de seu povo. O Código de Direito Canônico (cânon 1246 § l) se exprime sobre a importância de celebrar dignamente a celebração dominical da Eucaristia e os dias de preceitos instituídos pela Igreja, com os seguintes termos:
O domingo, em que se celebra o mistério pascal, por tradição apostólica, deve guardar-se como dia festivo de preceito em toda a Igreja. Do mesmo modo devem guardar-se os dias do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, Epifania, Ascensão e santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, Santa Maria Mãe de Deus, e sua Imaculada Conceição e Assunção, São José e os Apóstolos S. Pedro e S. Paulo, e finalmente de Todos os Santos.
O Código de Direito Canônico (cânon 1247) segue afirmando que, nos domingos e demais dias festivos de preceito, os fiéis têm a obrigação de participar da Missa e, além disso, devem abster-se daqueles trabalhos e negócios que os impedem de prestar o culto a Deus ou de viver o devido repouso do espírito e do corpo. Logo, o não cumprimento deliberado desta obrigação é considerado pela Igreja um pecado grave, a não ser que o fiel por uma causa justa seja dispensado por seu pároco ou por seu superior caso seja religioso.
Considerando todo o desenvolvimento doutrinal acerca deste Terceiro Mandamento, bem como o lugar das Revelações Privadas na Igreja – nas quais se enquadram as aparições de Fátima – que de modo geral ajudam a viver o Evangelho de Cristo, verifica-se que a profunda relação da Mensagem de Fátima com este preceito é expressa nas seguintes palavras da Santíssima Virgem: “Não ofendais mais a Deus Nosso Senhor que já está muito ofendido.” (IRMÃ LÚCIA, 2015, p.181). Pode-se compreender que Nossa Senhora veio pedir a conversão dos pecadores através de uma vida penitente e reparadora, ou seja, veio alertar a humanidade sobre a urgência de abandonar as transgressões contra os Mandamentos da Lei de Deus que acarretam a perdição eterna das almas, se não houver abertura ao arrependimento. Com efeito, Ela nos convida a colocar um maior empenho na vivência das palavras de seu Filho que disse: “Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição.” (Mt 5,17). Maria Santíssima apela à obediência ao Evangelho que une de maneira profunda o homem a Deus e o coloca numa condição de santidade, isto é, de conformidade com Sua santa vontade. Sua interpelação aos pastorinhos: “Quereis oferecer-vos a Deus” (IRMÃ LÚCIA, 2015, p.173) continua a ecoar no tempo presente como um chamado a uma entrega radicada no amor de Deus e testemunhada através da vivência de seus Mandamentos que garantem a posse da vida eterna.
Este será o tema da catequese que acontecerá na Devoção Reparadora dos Cinco Primeiros Sábados no Santuário do Pai das Misericórdias no próximo dia 02 de janeiro de 2021 com início às 10h. Este momento mariano será aberto ao público no Santuário e também transmitindo pelas redes sociais facebook e instagram, para que, junto com Nossa Senhora, possamos “engrandecer o Senhor” (Lc 1,46) colocando em prática os Seus Mandamentos!
Atenção: Por medida de segurança, informamos que o limite de público é até 40% da capacidade total do Santuário.
Áurea Maria,
Comunidade Canção Nova
Referências
BÍBLIA de Jerusalém. Tradução de Euclides Martins Balancin et al. São Paulo: Paulus, 2002.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Tradução da Conferência nacional dos Bispos do Brasil. 10. ed. São Paulo: Loyola, 2000.
CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO. Tradução da Conferência nacional dos Bispos do Brasil. São Paulo: Loyola, 2011.
IRMÃ LÚCIA. Apelos da Mensagem de Fátima. 4. ed. Fátima – Portugal: Secretariado dos Pastorinhos, 2007.
IRMÃ LÚCIA. Memórias da Irmã Lúcia. 17. ed. Fátima – Portugal: Fundação Francisco e Jacinta Marto, 2015.