Sejamos expressão da bondade misericordiosa de Cristo, pede Dom João Inácio

Convite ao contínuo testemunho da misericórdia na nossa vida

Confira a homilia de Dom João Inácio Müller, bispo de Lorena (SP), na Missa de encerramento do Jubileu da Misericórdia, no Santuário do Pai das Misericórdias, às 9h.

“Saúdo com muito carinho Monsenhor Jonas, saúdo todos os sacerdotes que estão conosco, vários deles de outros estados do Brasil; saúdo os seminaristas, religiosos e religiosos; saúdo todos os missionários e missionárias da Canção Nova e também de outras comunidades que estão aqui presentes. Também queria saudar o confundador e a confundadora: sra. Luzia e sr. Eto. Saúdo com muito carinho esta grande família de Deus que está congregada aqui, no Santuário do Pai das Misericórdias, todos nós recebendo este abraço bonito que este filho está recebendo do Pai; o filho que volta e recebe o abraço do Pai misericordioso que não olha o pecado: é um pai perdoar. Com muito carinho queria saudar todas as pessoas que nos acompanham através da TV, da Rádio, de outros meios; as pessoas que em casa, em várias situações, talvez muita gente que nem como ir até à sua igreja mas reza, nos acompanha através da TV, esta Santa Missa do Encerramento, aqui, na nossa diocese, do Ano Santo com o fechamento da Porta Santa.

Confira as fotos da celebração.

A ternura misericordiosa de Deus salva

Irmãos e irmãs, o Evangelho revela o sentido último das coisas e garante em meio à violência: a ternura misericordiosa de Deus salva. Muitas situações de violência, de tristeza que todos nós padecemos. A ternura misericordiosa de Deus salva. O Evangelho nos garante isto. Bela esta frase no final do Evangelho de hoje, de grande conforto: ‘Vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça’, ou seja, Deus cuida de cada um de nós, de tudo de nós. No mundo (e nós experimentamos isso) parece que os mais violentos, os fortes, os mais poderosos, os mais cruéis, que mais se impõem, vencem. Mas com Deus há sempre um depois e as coisas não são assim. Os discípulos não são nem otimistas nem pessimistas. Os discípulos são aqueles que sabem cuidar e cultivar a esperança e praticar a fé numa vida de caridade. Diante das catástrofes, Nosso Senhor diz forte, Ele grita: ‘nada de medo’! Os prepotentes que imputam dor e morte aos pequenos e pobres nada podem contra o amor a a ternura de Deus; nem no tempo de Jesus, nem hoje. São impotentes. Os prepotentes são impotentes. Sabemos o amor que tocou o chão deste mundo é pequeno e dinâmico como o grão de mostarda e atua de Deus como o fermento na massa. O olhar de Deus está sempre sobre os Seus filhos. Não duvidemos disso! O olhar de Deus está sempre sobre você. O olhar de Deus nunca se desvia de nós. Porque Deus tem uma paixão muito grande em nos contemplar, em nos acompanhar: cada passo que nós fazemos. O Coração misericordioso, o Coração cheio de amor de Deus por nós (por isso é que Ele nos criou), Ele não devia nunca o olhar de nós: mesmo quando a gente peca. Deus não sabe desviar o Seu olhar de nós. Ele nos acompanha sempre. Deus é o cuidador enamorado de cada um de nós. Deus é o cuidador enamorado de cada um de nós. Quantas e quantas vezes a Bíblia fala, falando de Deus, e Deus proclama pela voz dos profetas e depois em Jesus: ‘Eu sou o bom pastor’. Como é bonito aquele Salmo 23 que nós rezamos tantas vezes: ‘Nada, nada me falta. O Senhor é meu pastor nada me falta. Nada me falta.’ Quanto mais nós conhecemos Deus mais nos convencemos disso. Por isso, paz no coração, olhar alargado.

(Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com)

Chamados a ter um coração alargado

O poder e a força se auto destruirão. O poder e a força do mal se auto destruirão. O mal tem o mal dentro que o corrói. Nunca nos podemos contaminar pelo verme do mal. Por isso que Jesus diz: ‘Vigiai sempre’. Não se apaga o mal com o mal. Não se apaga o mal com o mal. Esse Ano da Misericórdia nos ensinou que nós, em Cristo podemos e somos chamados a usar sempre bondade, amor, coração alargado. Agarrados em Deus, como Jesus, resistamos ao mal e promovamos o bem e o mundo justo e solidários, misericordioso. Mantenhamos em nossos olhos e corações a bela frase de Jesus: ‘É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida’. Quantos de nossos irmãos e irmãs não permanecem firmes? Eu fico pensando em bispos, padres e religiosos, pessoas consagradas em tantos carismas, em casais, que assumiram um juramento, se comprometeram (e tinham a certeza absoluta). Depois, por várias situações de fraqueza, de não cultivo, começaram a esfriar, titubiar, não cultivaram mais com a mesma força e o mesmo vigor e parece que dão para trás. E Nosso Senhor insiste: ‘É permanecendo firmes que ganhareis a vida’. Eu pergunto a vocês? Nosso Senhor deu para trás quando as coisas ficaram difíceis para Ele? Nunca! Nunca deu para trás.

O Reino de Deus está vivo dentro de nós

Como Jesus quer ver os Seus discípulos? Como Jesus quer ver os Seus discípulos? Ele quer vê-los imersos e perseverantes na prática do Evangelho, com fé em Deus, olhar no horizonte pois a realidade não é somente isto que se vê. Nós sabemos disso: a realidade não é somente isto que se vê. Deus misericordioso, libertador e redentor trabalha sempre. O Seu Reino vem constantemente e acontece em cada gesto de misericórdia e solidariedade que todos nós realizamos. Dia após dia, quanta coisa boa nós fazemos, coisas de bem que nós fazemos aos outros, dia após dia. De vem em quando, nós nos deixamos banhar demais por aquele lógica do mundo, que nós somos promotores do mal, que vivemos imersos ao mal… De vez em quando, fazemos um pecado. Muito raramente. Nós não somos pecadores que estamos sempre pecando. O mal não tem força sobre nós, Cristo já quebrou a força do mal. De vez em quando, sim, nos descuidos, quando paramos de vigiar, nós sucumbimos. Mas a graça de Deus atua em nós e o Reino de Deus trabalha em nós, no dia a dia. Quanta caridade nós fazemos aos outros? Quantas gestos de gentileza nós temos? Isto é o quê? O Reino acontecendo em nós. É aquela semente que Jesus semeou. É aquele grão de mostarda. É aquela semeadura que o semeador fez. Ele vai dormir e levanta e a semente cresce. O Reino vai acontecendo. Nós nem nos damos conta. Nós nem fazemos força, nem esforço. É meio que natural em nós. O Reino de Deus nos pervarde. Nós temos o Reino dentro. Por quê? Porque somos batizados. E ainda antes disso: porque nós fomos criados por Deus, somos filhos e filhas de Deus. Nós temos que nos agarrar nisto. Depois, quantos sacramentos maravilhosos nós recebemos na nossa vida? Quantas vezes nós podemos confessar e nos confessamos? Quantas vezes nós chegamos no altar para receber a Comunhão e quantas vezes nós somos lavados pela Palavra que escutamos?

A importância de um gesto de misericórdia

Reconheçamos. A graça de Deus para conosco é grande: se chama misericórdia. Deus Se derrama sobre nós. Deus nos quer tanto bem que quase nunca está em casa. Ele sempre está conosco em nosso meio. E, quando o Pai do Céu está procurando Jesus, Ele nem sabe onde está Jesus. E o Espírito Santo diz: ‘Ele está trabalhando de novo. Ele foi passear. Foi ajudar pessoas.’ O Pai do Céu fica feliz porque Ele sabe que o Seu Filho faz aquilo que Ele mais gosta, ou seja, ajudar pessoas, cuidar das pessoas. Assim nós, assim nós. Essa é a nossa missão.

O bem ganha, perdendo

Eu estava dizendo para vocês que Deus misericordioso, libertador e redentor trabalha sempre. O Seu Reino vem constantemente e acontece em cada gesto de misericórdia e solidariedade realizados por nós. Nunca esqueçamos: isso é importante! Prestem atenção, isto é importante: o mal perde ganhando. Pensem um pouco: o mal perde ganhando. Nós achamos que ele ganha mas o mal perde ganhando. Mas, esta é a nossa certeza: o bem ganha perdendo. Não é assim na nossa vida? O bem ganha, perdendo. Mesmo parecendo perder, o bem ganha. Mesmo parecendo perder, o bem ganha. Como aconteceu com Jesus que foi morto na cruz. Até os discípulos acharam: ‘terminou tudo, perdemos tudo’. Alguns fora pescar, outros foram para Emaús tristes. Mas, Ele ressuscitou, venceu e vive! Eu quero ouvir a resposta que me vão dar: ‘o Senhor esteja convosco.’ ‘ Ele está no meio de nós.’ Estão vendo? Ele está vivo, Ele ressuscitou, Ele não perdeu, Ele não ficou na cruz, Ele não está na morte. Ele está no meio de nós! Ele é vitorioso!

Jesus Cristo: a verdadeira Porta Santa

Hoje, com esta celebração nós fechamos a Porta Santa neste Santuário belíssimo do Pai das Misericórdias. O Ano Jubilar, como nós sabemos, terminará na solenidade litúrgica de Jesus Cristo, Rei do Universo, dia 20 de novembro, domingo próximo. Foi uma ano de graças e de bênçãos: todos nós fomos ensopados com a misericórdia de Deus. Todos nós. Durante este Ano Santo da Misericórdia Cristo esteve à nossa procura. Ele é a expressão da misericórdia do Pai que veio e vem ao nosso encontro para Se dar a nós, para ser a nossa vida. Durante este Ano, tivemos a graça de atravessar a Porta Santa e entrar mais e mais na vida de Cristo, a verdadeira Porta Santa, como diz São João Paulo II: Jesus Cristo, a verdadeira Porta Santa, que nos dá acesso à Casa do Pai e nos introduz na intimidade da vida divina. Deus não reserva nada para Si: toda a vida íntima Ele dá a nós. Deus não esconde nada. Deus não esconde nada, nada. Nós, de vez em quando, escondemos alguma coisa de nós. Deus não esconde nada. Toda a vida íntima d’Ele está aberta para nós. Deus é um livro aberto.

 

Queira Deus, terminando este Ano Jubilar, as pessoas possam ver e sentir em nós, em nós, na Igreja, que as pessoas possam sentir em nós a bondade misericordiosa de Cristo. Que acolhamos os pecadores, os pobres, os distantes da Deus e da Igreja; que ninguém fique à margem da nossa vida. Isso não é fácil, não é tão óbvio. Que a gente tenha a coragem de olhar todo mundo igual: isto não é fácil! Vamos reconhecer. Não é fácil. Temos que sempre, de novo, manter o calor de Cristo dentro de nós, a presença do Senhor dentro de nós. Deus olha todo o mundo igual. Jesus, o Bom Pastor, olhou todo o mundo igual e, com mais tempo, com mais reverência, com mais atenção, quem estava mais ferido. Jesus nunca olhou o pecado; Ele olhava a pessoa, o coração sofredor. Nós temos que aprender muito d’Ele. Mas eu creio que, nós que estamos terminando este Ano, nós aprendemos muito com a ajuda da graça do Senhor. Que acolhamos, pois, os pecadores, os pobres e distantes de Deus e da Igreja. Que ninguém fique à margem de nossa vida. Como Jesus, digamos: ‘Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos e aliviar-vos-ei. Que nós possamos dizer isto. Esta frase tão bonita que Jesus disse, o Sagrado Coração de Nosso Senhor. Que nós possamos dizer isso: ‘Vinde a mim, venham a minha, vocês vão encontrar ajuda em mim. Nossa, que maravilha! Nós somos cristãos para isso. A Igreja não vive para si própria mas para Cristo. Por isso, ela quer ser o Corpo de Cristo, a referência, a estrela que serve de ponto de referência, ajudando todos a encontrar o caminho que leva a Ele. Há até quem diga que a Igreja é como a vitrine. Todos podem olhar: ‘ah, bonito’!

Banhados em Cristo, testemunhar

Oxalá, continuemos a iluminar com a luz de Cristo que resplandece no rosto da Igreja todos os homens. Oxalá, continuemos a iluminar com a luz de Cristo todos os homens, todas as pessoas: texto bonito da Lumen Gentium.  Todos nós que visitamos a Porta Santa, visitamos Cristo, passamos pela vida de Cristo, mergulhamos em Cristo, o Bom Pastor, o rosto da misericórdia do Pai. Que este banho de Jesus Cristo seja sempre visível em nosso viver. Que todas as pessoas vejam que nós tomamos um bom banho em Cristo, que a nossa vida mostra que nós tomamos banho em Jesus. Que possamos dar testemunho do que João escreve na sua primeira Carta. Tal como Jesus é assim somos nós neste mundo. Será que nós teremos coragem de dizer isto? Tal como Jesus é somos nós neste mundo. E São João teve a coragem de escrever isto na sua carta: tal como Jesus é somos nós nesse mundo. Nós somos batizamos para isso. Nós somos Cristo. Somos os Cristinhos. Somos Cristos. Nós não somos filhos e filhas de Deus? Então? Nós temos que sinalizar Cristo. A nossa vida tem que mostrar: ‘Ah! Assim é Cristo!’ Cada um de nós. Olhando para um cristão temos de ver Cristo. Será que pode ser possível? Pode! Pode! Nós temos de trocar o nosso eu por Cristo. Então, tal como Jesus é assim somos nós. Isso é bonito e possível.

Obrigada, Senhor por esse Ano Santo, obrigado Senhor pelo belo presente que Francisco nos deu em nossos vidas. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.”

Dom João Inácio Müller
Bispo de Lorena (SP)

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