O que é virtude?
Para falarmos das virtudes cardeais, a princípio, necessitamos definir o que seja “Virtude”. A palavra virtude, do latim virtus e do grego areté (ἀρετή), pode-se ser entendida no sentido de hábito ou maneira de ser de uma coisa (MORA, 2001). Contudo, Aristóteles escreve em sua Ética a Nicômaco que, não somente basta entender a virtude como hábito ou modo de ser, mas faz-se necessário dizer especificamente qual é esta maneira de ser (II, 6, 1106 a). Completa, ainda, Aristóteles que: a virtude é aquilo que faz a coisa ser o que é. Por assim dizer, a virtude caracteriza o homem, e as virtudes se relacionam ao caráter específico do ser humano. Para o filósofo, a virtude encontra-se no meio. Evitando o perigo dos extremos (Ética a Nicômaco, II, 6, 1107 a).
O Catecismo da Igreja Católica define virtude como sendo “uma disposição habitual e firme para fazer o bem. Permite à pessoa não só praticar atos bons, mas dar o melhor de si. com todas as forças sensíveis e espirituais, a pessoa virtuosa tende ao bem, procura-o e escolhe-o na prática” (1803).
É importante esclarecer aqui que as virtudes naturais de forma geral, são adquiridas por meio atos frequentemente repetidos. Em função disso, devemos seguir o conselho do Apóstolo Paulo quando fala aos Filipenses: “Ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável, tudo o que há de louvável, honroso, virtuoso ou de qualquer modo mereça louvor” (Fl 4,8).
Virtudes Cardeais
As Virtudes Cardeais são assim chamadas devido ao significado da palavra “cardeal”, que vem de gonzo ou dobradiça. Assim dando a entender que são as virtudes principais, das quais derivam tantas outras. As Virtudes Cardeais são um número de quatro: a prudência, a justiça, a fortaleza e a temperança.
A prudência é a virtude que dispõe a razão prática a discernir as circunstâncias, escolhendo assim o meio adequado para realizar algum bem (cf. CIC 1806). Santo Tomás de Aquino ainda vai dizer que a virtude da prudência é a mãe de todas as virtudes, sem a prudência, as demais virtudes poderiam até causar danos ao homem (Suma Teológica, II-II, q. 47, a. 13).
Na Sagrada Escritura, encontramos alguns textos sobre a prudência: “O ingênuo acredita em tudo o que dizem, o homem sagaz discerne seus passos” (Pr 14,15). A Epístola de São Pedro nos apresenta: “Levai, pois, vida de autodomínio e de sobriedade, dedicado à oração” (1Pd 4,7).
Diante do que foi exposto, as virtudes crescem com a educação, pelos atos deliberados, pela perseverança, pela repetição; e não podemos esquecer do auxílio da graça divina que potencializa a sua ação e seus efeitos.
A justiça “é a virtude moral que consiste na vontade constante e firme de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido (cf. CIC 1807). Essa virtude, coloca regra a nossa convivência, tornando possível o bem comum, defende a dignidade humana e está ligada aos direitos humanos. “O homem justo, muitas vezes mencionado nas Escrituras, distingue-se pela correção habitual de seus pensamentos e pela retidão da sua conduta para com o próximo” (CIC 1807).
Vejamos alguns textos bíblicos que relatam a virtude da justiça: “Não cometerás injustiça no julgamento. Não farás acepção de pessoas com relação ao pobre, nem te deixarás levar pela preferência ao grande: segundo a justiça julgarás o teu compatriota” (Lv 19,15). São Paulo também escreve: “Senhores, dai aos vossos servos o justo e equitativo, sabendo que vós tendes um Senhor no céu” (Cl 4,1).
A fortaleza “é a virtude moral que dá segurança nas dificuldades, firmeza e constância na procura do bem” (CIC 1808). Santo Tomás afirma que a virtude da fortaleza, torna o homem pronto para afrontar o perigo e suportar a adversidade, por causa de uma justo bem. A virtude da fortaleza, ainda nos torna capazes de vencer o medo, suportar as provações e perseguições (cf. CIC 1808).
As Sagradas Escrituras nos apresentam os textos seguintes sobre a virtude da fortaleza: “minha força e meu canto é Iahweh, ele foi a minha salvação” (Sl 118,14). O Evangelho de João também nos fala que: “No mundo tereis tribulações, mas tende coragem: eu venci o mundo!” (Jo 16,33).
A temperança “é a virtude moral que modera a atração pelos prazeres e procura o equilíbrio no uso dos bens criados” (CIC 1809). Com essa virtude, o homem pode dominar sua vontade sobre seus instintos e seus desejos não tomam uma proporção indevida. “A pessoa temperante orienta para o bem seus apetites sensíveis, guarda uma santa discrição e ‘não se deixa levar a seguir as paixões do coração’” (CIC 1809).
Por fim, a Bíblia vai nos apresentar inúmeros textos sobre a virtude da temperança e sua valiosa necessidade: “Não te deixes levar por tuas paixões e refreia os teus desejos” (Ecl 18,30). E ainda nos orienta como devemos viver: “a viver neste mundo com autodomínio, justiça e piedade” (Tt 2,13).
Diante do que foi exposto, as virtudes crescem com a educação, pelos atos deliberados, pela perseverança, pela repetição; e não podemos esquecer do auxílio da graça divina que potencializa a sua ação e seus efeitos.
Fábio Nunes
Seminarista da Canção Nova
Fontes:
BÍBLIA. Português. Tradução da Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002. 2206p.
CATECISMO da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2000.
MORA, Ferrater. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Loyola, 2001, tomo IV.
TOMÁS de Aquino. Suma Teológica. São Paulo: Loyola, 2006.