DISCÓRDIA

Pelo contrário, eu vos digo, vim trazer divisão

“Vós pensais que eu vim trazer a paz sobre a terra? Pelo contrário, eu vos digo, vim trazer divisão.” (Lc 12, 49-53)

O ser humano anseia pela paz plena, que é mais difícil de ser alcançada do que gostaríamos. Em toda a história da humanidade, foram mais numerosos os períodos nos quais a humanidade esteve em guerra do que em paz.

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O Apóstolo São Tiago pergunta: “Donde provém as guerras e os pleitos entre vós? Não são vossas paixões que combatem em vossa carne? (Tg 4,1)”.

A discórdia é, de fato, infernal e diabólica; vem do próprio satanás que foi responsável por inseri-la no meio dos anjos. As paixões humanas, como a cobiça e avareza, o meu e o teu, o orgulho, são as principais motivadoras de discórdia entre os homens.

Há, no entanto, uma divisão que não é diabólica nem pecaminosa. Tal divisão, o próprio Cristo veio realizar ao se encarnar e foi expressada pelo ancião do templo:  “Eis que este menino está destinado a ser uma causa de queda e de soerguimento para muitos homens em Israel” (Lc 2,34).

Aquele que de Cristo se aproxima logo experimenta uma divisão em sua própria consciência, entre a vida que vivia até então e aquela que se deve viver agora como correspondência à exigência do Evangelho de Nosso Senhor. 

:: As aparências enganam

Na vida cristã há uma clara divisão entre salvação e perdição. Cristo não se encarnou para ser um “bom homem”, alguém politicamente correto que sabe como ficar bem com todos os públicos. Não foram poucos os momentos nos quais a vida, palavras e gestos de Nosso Senhor desagradaram, causaram divisão, não fosse isso ele não teria sido morto crucificado.

Todo cristão católico se compromete com o meio em que vive e a sociedade. Sabe com tranquilidade que o bem maior é o Reino dos Céus, e vive voltado para essa realidade, mas não é alguém à parte, desconectado, que não opina nem interfere para “manter a paz”.

A discórdia é pecado e deve ser evitada a todo custo, é motivada pelas paixões e egoísmo, entretanto, a divisão é componente essencial da vida cristã. Não é nobre, louvável nem cristão se abster de quaisquer questões apenas para manter uma paz superficial.

No ano de 1534, o Papa Clemente VI, por fidelidade à sã Doutrina, negou-se a aceitar o pedido de divórcio do Rei inglês Henrique VIII, mesmo que essa divisão levasse à ruptura do Catolicismo com a Inglaterra. Para defender a Doutrina, o Papa Clemente VI não fugiu do conflito, e permaneceu firme mesmo perdendo todo o reino Inglês.

A tomada de uma posição, o comprometer-se, são coisas essenciais até mesmo para a defesa da Fé e da Doutrina. Certamente, eu não estaria aqui escrevendo este artigo hoje, nem participaria da Santa Missa todos os dias, e o Cristianismo não existiria mais se não tivessem havido, no passado, homens que ousaram defender a Fé, que ousaram se posicionar e comprometer-se, causando dessa forma inúmeras divisões.

Tanto quanto a discórdia movida por paixões, também é pecaminosa a covardia e o respeito humano que nos impedem tantas vezes de falar, agir e ser quem deveríamos perante Cristo e Seu Evangelho.

Kaique Duarte
Seminarista da Comunidade Canção Nova

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