“O jejum limpa a alma, levanta a mente, submete a carne ao espírito, torna o coração contente e humilde, dispersa as nuvens da concupiscência, apaga o fogo da luxúria e acende a verdadeira luz da castidade. Entra novamente em si mesmo”. (Santo Agostinho)
Na vida espiritual, na caminhada com Deus, cada um passa por um contínuo processo de mudança e conversão, a fim de se colocar cada vez mais na vontade de Deus e em um fiel seguimento a Ele. Um dia, em um momento específico, vivemos o nosso encontro pessoal com Deus, descobrimos a grandeza do Seu amor por nós, e esse encontro iniciou um grande processo de mudança e conversão de vida. A vida na graça de Deus passou a nos atrair, e foi dado o início a uma grande batalha: a luta contra o pecado.
Iniciado esse tempo novo, inicia-se também o tempo de hábitos novos. Começamos a nos dedicar mais à vida de oração e às práticas espirituais – Santa Missa, Adoração Eucarística, Oração Pessoal, o Santo Terço, o Estudo Bíblico, a busca pela Confissão Sacramental. Mas, ainda assim, a batalha contra o pecado permanece e nos tornamos necessitados por um auxílio neste combate.
No Catecismo da Igreja Católica, a penitência apresenta como finalidade “adquirir o domínio sobre nossos instintos e a liberdade de coração” (CIC 2043). Trazemos, dentro de nós, más inclinações, chamadas de concupiscências que nos levam a pecar. As penitências são para nós um grande auxílio para que não nos tornemos dominados por essas inclinações.
Entre tantas penitências, vamos adentrar de forma mais específica quanto ao valor do JEJUM.
Primeiramente, o que é jejum?
O padre Adolphe Tanquerey descreve como um dos grandes meios de expiação (purificação das faltas) e mortificação. O jejum consiste na renúncia de um alimento ou bebida, a fim de encontrar um equilíbrio, e, unida à oração, à busca por Deus e por uma conversão sincera, nos preenche de Deus, além de nos educar a viver conduzidos não pelos prazeres do corpo, mas pela vontade do Espírito.
Desde já, deixo como dica um livro escrito por Monsenhor Jonas Abib, chamado “Práticas de Jejum”. De modo simples e concreto, ele nos ensina o que é o jejum e como fazê-lo bem.
Há diversas formas de fazer o jejum. Trago aqui algumas delas:
Jejum da Igreja
Uma forma simples e prática de se fazer jejum consiste em apenas tomar o café da manhã e fazer apenas mais uma refeição (almoço ou jantar). Em casos necessários, pode substituir a terceira refeição por um lanche simples. Esse tipo de jejum nos ajuda a trabalhar a disciplina, além de ser uma forma possível aos que desejam jejuar, mesmo em casos de enfermidades.
Jejum a Pão e Água
Como o próprio nome apresenta, esse tipo de jejum consiste em comer pão e beber água nos momentos que sentir fome ou sede. IMPORTANTE: evitar consumir o pão e a água juntos. Esse jejum ajuda a trabalhar o pecado da gula.
Jejum à Base de Líquidos
Consiste na retirada de todos os alimentos, permitindo o consumo de líquidos (chás, sucos naturais, água de coco por exemplo). Ajuda a trabalhar tanto a gula quanto a busca por disciplina.
Jejum Completo
Consiste em não tomar nenhum alimento, exceto o consumo de água.
Monsenhor Jonas nos relembra, no livro citado acima, que a prática do jejum nos deixa mais favoráveis à oração e a uma maior busca por Deus. Por isso, é importante viver o dia de jejum associado à oração. Antes de especificar os frutos do jejum, é bom lembrar que ele não tem a finalidade de nos fazer passar fome ou, até mesmo, causar algum prejuízo à nossa saúde. Assim, é importante estar atento a esses detalhes, além de buscar orientações com um diretor espiritual quanto à melhor forma de fazer o jejum.
E os benefícios espirituais? Quais são?
“O jejum é o leme da vida humana e governa todo o navio do nosso corpo”
São Pedro Crisólogo
O jejum é um grande aliado para quem deseja se converter. Ele educa nossa vontade e nos coloca na busca da vontade de Deus, nos organiza interior e exteriormente, ajuda-nos no domínio de si mesmo, purifica a alma e os sentidos, convida-nos à busca das virtudes, provoca-nos à conversão mais profunda.
O jejum é este fortalecimento do espírito. Creio que é do nosso desejo a busca pela santidade, pela conversão, o anseio em fazer a vontade de Deus, a fidelidade no dia a dia, a luta contra o pecado, a vida no Espírito. Na Carta aos Romanos, São Paulo escreve: “Vós, porém, não viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito” (Rm 8,9). Se assim desejamos, se é essa a nossa meta, precisamos fortalecer o espírito e lutarmos contras as concupiscências da carne, e por isso precisamos viver este grande aliado, que é o jejum.
Busque uma orientação com seu pároco, seu diretor espiritual, e encontre a melhor forma de fazer o jejum. Que possamos colher todos os frutos destes meios que nos concede a Santa Igreja.