SOCORRO DE DEUS

A graça

É comum entre muitos cristãos relacionar a graça de Deus com algum pedido alcançado. Por exemplo, a pessoa pede determinada coisa, e ao ser atendida em sua oração, interpreta isso como sendo uma graça alcançada. No entanto, quando procuramos no Catecismo sobre o que é a graça, encontramos a seguinte descrição:

“A graça é o favor, o socorro gratuito que Deus nos dá, a fim de respondermos ao seu chamamento para nos tornarmos filhos de Deus, filhos adotivos participantes da natureza divina e da vida eterna.” (cf. CIC 1996)

Ou seja, a graça de Deus é algo bem mais profundo do que o simples cenário de pedir alguma coisa e ser atendido por Ele. A Igreja também ensina que existem vários tipos de graças (cf. CIC 2003), por exemplo: os carismas, as graças sacramentais, a graça de estado, a graça santificante, a graça atual etc. Neste texto, conheceremos um pouco mais sobre a graça santificante e a graça atual. Esse tipo de conhecimento pode nos levar a usufruir do que é próprio de cada uma delas, e isso nos impulsionará para a santidade.

“A graça é uma participação na vida de Deus, introduz-nos na intimidade da vida trinitária” | Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

A graça santificante

A graça santificante nos confere o que chamamos de organismo sobrenatural, que nada mais é do que o conjunto de virtudes sobrenaturais, dons sobrenaturais, também a adoção divina e, um grande tesouro, a inabitação trinitária em nossa alma. Por isso, ter essa graça é uma questão fundamental, além de termos a porta da salvação aberta, temos também as ferramentas para nos configurarmos a Cristo e a oportunidade de uma relação profunda com a Santíssima Trindade.

“A graça (santificante) é uma participação na vida de Deus, introduz-nos na intimidade da vida trinitária: pelo Batismo, o cristão participa na graça de Cristo, cabeça do seu corpo; como filho adotivo, pode doravante chamar Pai a Deus, em união como seu Filho Unigênito; e recebe a vida do Espírito, que lhe infunde a caridade e forma a Igreja.” (CIC n. 1997)

Como se adquire essa graça? Por meio dos sacramentos. Primeiro, por meio do Batismo, sacramento pelo qual recebemos, pela primeira vez, a graça santificante. Depois, pelo sacramento da Reconciliação (CIC 1446), que nos restitui a graça santificante, quando a perdemos por conta de algum pecado mortal cometido. Também por meio da Eucaristia (CIC 1391), quando comungamos o Corpo do Senhor, e o fazemos da maneira correta, é ocasião de aumento da graça santificante. Embora tenha destacado esses três sacramentos, todos os outros são meios pelos quais Deus derrama sobre nós a Sua graça.

Leia também:
:: Há pecado que não possa ser perdoado?
:: Quais sinais que você procura?
:: O pouco com Deus é muito

A graça atual

A graça atual trabalha em conjunto com o organismo sobrenatural que a graça santificante oferece. E não vejo outra forma de melhor entender essa relação do que a analogia empregada pelo padre Antonio Royo Marín em seu livro Ser ou não ser santo… eis a questão. Ele diz aproximadamente o seguinte: “Imagine a graça santificante como uma grande fábrica, com diversas máquinas que realizam diversas funções. Para que essa fábrica funcione com suas diversas máquinas, é necessário ter energia elétrica. E a energia que corre pelas máquinas faz com que elas funcionem e atinjam seus objetivos. A graça atual é justamente a energia elétrica que coloca todo o organismo sobrenatural em movimento”.

Isso significa o seguinte, as virtudes infusas, caridade, fé, esperança, prudência, justiça, fortaleza e temperança, todas elas são movidas pela força da graça atual. E o mesmo se pode dizer dos dons infusos, temor de Deus, piedade, ciência, fortaleza, conselho, entendimento e sabedoria, todos eles se movimentam por força da graça atual. 

O homem não pode colocar em movimento as virtudes infusas e os dons infusos. É o próprio Deus que, por meio da graça atual, movimenta o maquinário sobrenatural que já existe no interior do homem, quando este está em estado de graça. O resultado deste processo é um só: o crescimento na configuração com o próprio Cristo. Portanto, o homem deve colaborar com a ação divina.

O que devemos fazer?

Se a graça de Deus vem em socorro da nossa fraqueza, cabe a nós respondermos a ela com generosidade. E existem coisas práticas que podemos fazer. 

  1. A primeira delas é permanecer em estado de graça. Nunca permanecer em pecado mortal, porque isso é uma verdadeira morte espiritual. Aquele que está em pecado mortal está na inimizade com Deus, não tem o organismo sobrenatural e o seu destino após a morte é a condenação eterna (CIC n. 1861).
  2. Para se cumprir perfeitamente o primeiro requisito, será necessária uma boa participação no sacramento da Reconciliação. E quanto a este sacramento, é necessário ter a clareza de que não se trata de um momento emotivo, no qual você deve sentir uma força que te arrepia e faz chorar. Também não é uma terapia psicológica. Procure a maneira correta de como confessar-se, seguindo os passos conforme a orientação da Igreja (CIC n. 1440 a 1460).
  3. O terceiro ponto é a participação da Eucaristia. A pessoa deve comungar com verdadeira devoção. Além de receber o Senhor em estado de graça, é necessário dedicar tempo a este momento tão sublime. O momento da comunhão é ocasião para praticarmos um verdadeiro ato de fé. Todo o nosso ser deve voltar-se para Jesus, devemos conversar com Ele, adorá-Lo e amá-Lo. E aproveitar esse momento para pedir a Jesus que aumente a nossa fé.
  4. O último ponto é sobre a vida de oração pessoal. Isso é algo que deve ter uma atenção especial de nossa parte. Reserve um ou dois momentos durante o seu dia para se dedicar à oração pessoal. Comece com 15 minutos de oração e após alguns dias, aumente de pouco em pouco este tempo. Essa prática diária de oração pessoal, aumentará a intimidade com o Senhor e o crescimento espiritual. 

Um detalhe

Ao longo de nossa vida, topamos com diversas situações em que somos desafiados a viver ou não o Evangelho. Por exemplo, quando estamos realizando um trabalho de equipe e nossa paciência é provada, ou quando nossa visão é atingida por imagens impróprias que passam à nossa frente, ou quando temos que obedecer alguém apesar de nossa opinião diferente, ou quando nos humilham publicamente por coisas que não temos culpa alguma etc. Em cada uma dessas situações, somos chamados a dar uma resposta conforme o Evangelho de Nosso Senhor.

Quando estamos em estado de graça, com a vida de oração em dia e topamos de frente com uma dessas situações difíceis citadas acima e, apesar das contrariedades, damos uma resposta evangélica, temos a devida paciência, abraçamos a pureza como propósito de vida, obedecemos apesar de pensarmos diferente, não nos importamos em ser humilhados etc., agimos em colaboração com a graça atual e não perdemos a graça santificante. É justamente esse o terreno fértil para a ação de Deus em nossa vida. São nas inúmeras situações difíceis, que poderíamos agir como qualquer pagão, mas escolhemos agir como filhos de Deus, que a graça d’Ele aperfeiçoa a nossa natureza. Quanto mais agimos conforme o ensinamento do Senhor, mais a Sua graça crescerá em nosso interior e nos uniremos a Cristo. É um processo de purificação e união.

 

Deixe seu comentários

Comentário