Visita das relíquias

Santa Teresinha e os missionários sacerdotes

Futuros diáconos da Comunidade Canção Nova relatam sua experiência com Santa Teresinha, padroeira dos missionários

No livro “História de uma alma” de Santa Teresinha, vemos seu relato sobre o sonho de ter um irmão sacerdote: “Há muito, tinha um desejo totalmente irrealizável, o de ter um irmão sacerdote. Pensei muitas vezes que se meus irmãozinhos não tivessem ido para o Céu, teria tido a felicidade de vê-los subir ao altar. Mas como Deus os escolheu para fazer deles anjinhos, não podia mais esperar ver meu sonho se realizar”.

É no Carmelo que Santa Teresa do Menino Jesus recebe a missão de acompanhar, com suas orações, os padres que, finalmente, tornam real o seu desejo de ter seus “irmãos” sacerdotes. Esse desejo não parou na história do passado, ela se atualiza, hoje, de modos incontáveis na vida de muitos missionários. Afinal, sendo ela a padroeira dos missionários, acompanha com seus cuidados cada um deles. 

Os missionários seminaristas da Comunidade Canção Nova – Rafael Vitto, José Dimas, Valdeir Bento e José Márcio –,  que serão ordenados diáconos no dia 8 de dezembro de 2024, relataram como Santa Teresinha também se apresentou com seus cuidados durante a caminhada vocacional e missionária de cada um deles. Confira aqui os dois primeiros testemunhos e na próxima matéria os testemunhos de Valdeir Bento e José Márcio.

:: Visita da relíquia de Santa Teresinha ao Santuário

Crédito: Leonardo Sasseron / GettyImages

Rafael Vitto
Teresinha e a Pequena Via 

Rafael Vitto, 30 anos, a princípio, nunca tinha tido proximidade com Santa Teresinha. Foi durante a descoberta e o tratamento de um câncer de linfoma que ele relata como Santa Teresinha veio ao seu encontro.

Ele relembra seu tratamento enquanto estava no hospital: “Certa noite, eu estava com muita insônia e rezando. Não tinha o que fazer. Rezando, com insônia, desfalecido e fraco, eu lembro que tive a sensação muito forte da presença de Santa Teresinha, assim do meu lado no leito. Eu achei engraçado quando senti a presença dela. Em vez de eu ficar contente, eu comecei a rir e pensar assim: ‘Meu Deus, por que Santa Teresinha aqui? Eu não sou devoto de Santa Teresinha, nem nada! O que ela está fazendo aqui?’. Na minha sinceridade, eu fui pensando isso. E,naquela sensação, eu escutei Santa Teresinha me dizendo que muitas pessoas queriam me visitar no hospital, mas não podiam – e, realmente, as visitas eram restritas; então, essas pessoas rezavam com Santa Teresinha pedindo a minha cura, a cura da minha vida, da minha vocação.

A sensação era que Santa Teresinha me dizia isso. Essas pessoas, que não podiam me visitar no hospital, pediam para que ela me visitasse, e ela estava lá me visitando em nome dessas pessoas. Tive, então, uma sensação muito boa de céu naquele momento de conforto e, ao mesmo tempo, de perplexidade. Eu estava pensando: ‘Nossa, mas quem será que está rezando tanto para Santa Teresinha assim?. E eu me lembro que fiquei com aquela sensação de céu por muito tempo. Foi quase uma semana de experiência de paz muito grande dentro do meu coração. Eu tinha a certeza de que, realmente, tinha sido uma visita da santa.

Partilhei essa experiência com o padre Roger e falei: ‘Olha padre, eu acho que Santa Teresinha me visitou essa noite e me disse isso e aquilo’. Aí o padre disse: ‘Nossa, que legal!’. Por causa disso, ele comprou os livros de Santa Teresinha para mim e me deu, mas eu não conseguia ler. Eu passava mal, estava sem capacidade, sem energia mesmo para ler. Mas fiquei com aquele sentimento por um mês quase.

Rafael Vitto – Foto: Bruno Marques

Uma outra situação: de novo eu, no meio da insônia, rezando. Já tinha até me esquecido de Santa Teresinha. De novo, mais uma vez, eu senti a presença forte dela no quarto. Dessa vez, eu disse pra ela: ‘Mas o que você está fazendo aqui de novo?’. Ela falou para mim: ‘Dessa vez, eu venho lhe pedir para que leia e estude a pequena via‘. Então, a partir daquele momento, também eu me tornei devoto de Santa Teresinha, e comecei a estudar, ler os livros e estudar a Pequena Via. E para mim é uma via muito bonita, muito importante, porque, de fato, foi ali, com o câncer, que eu descobri o que Santa Terezinha propunha como espiritualidade: uma espiritualidade muito parecida, muito próxima da Canção Nova.

Primeiramente, reconhecer a minha pequenez, e era o que eu estava vivendo com o câncer. Totalmente pequeno, totalmente frágil, dependente, muitas vezes, das enfermeiras, dos enfermeiros e médicos. Dependente das pessoas para colocar comida na minha boca, para me dar banho, aquela fragilidade. O Rafael, que sempre foi autossuficiente, sempre proativo, sempre ativista, agora, todo desfalecido, todo entregue, todo frágil. A sensação que eu tinha, no câncer, muitas vezes, é que Deus me segurava por uma linha bem fina, e se Ele me soltasse, eu morreria. Então, uma sensação muito grande de fragilidade. E ali era o primeiro passo.

Santa Teresinha, na pequena via, se reconhece a pequenininha. Então, eu estava vivendo aquilo com profundidade. E o segundo passo era abandonar-se todo, inteiramente na Providência Divina, sabendo que Deus é o nosso Pai que nos ama. Ali, também no câncer, eu fui aprendendo isso, e até hoje estou aprendendo. Ser pequeno, aprendendo a viver abandonado à Providência. Eu quero uma coisa, mas a Providência vem com outra; então, Senhor, eu confio na Sua Providência. Senhor, eu queria tanto uma coisa, então, eu Lhe peço isso e quero confiar na Sua Providência.

E Deus, como um pai, vai cuidando de mim, vai me moldando muito mais do que a minha vida de esforço, de ascese, de oração. É o próprio Pai que vem ao meu encontro, e Ele quer que eu seja santo. Ele mesmo me santifica com a Sua Providência e santifica as minhas missões da Canção Nova, santifica-me através da doença, santifica-me em todas as coisas. Basta que eu esteja aberto. A partir do câncer, eu decidi ser devoto de Teresinha; e, até hoje, eu cultivo, com muita gratidão, isso no meu coração.

Depois de um tempo, também no processo do câncer, Padre Bruno, sem saber de nada disso, visitou o Carmelo de Lisieux e deixou o meu nome para as irmãs, lá no Carmelo onde Teresinha morou. E as irmãs ficaram tão mexidas com aquela história, que me enviaram duas relíquias de segundo grau de Santa Teresinha, são as relíquias que eu tenho. Padre Bruno voltou da peregrinação de Lisieux e trouxe para mim, e eu fiquei muito emocionado com aquilo. Porque eu não tinha falado nada para ele, não tinha contado. Então, eu recebi duas relíquias, uma da terra, do caixão de Santa Teresinha, e a outra de um pedaço do hábito dela. Para mim, ficou aquilo de eu morrer no câncer, por isso a terra; e do hábito, que é o sinal da vida consagrada. Realmente, Teresinha tem cuidado da minha vocação e da minha consagração de vida.”

José Dimas 
Teresinha, a madrinha da minha vocação 

O seminarista e futuro diácono José Dimas da Silva conta do seu grande desejo de sair em missão e como esse anseio tem ligação com Santa Terezinha do Menino Jesus. Ele partilha:

“A madrinha da minha vocação é Santa Teresinha. Quando eu tinha treze anos de idade, eu fiz uma consagração a Santa Teresinha da minha vocação. Eu dizia a ela que eu ia ser aquilo que ela não foi, ia ser missionário. Ela foi monja de clausura, foi missionária, percorreu a Terra sem sair do claustro, mas eu seria aquilo que ela não foi, eu seria missionário, eu iria percorrer a Terra.” 

Dimas foi enviado, na Canção Nova, para a  missão da Terra Santa. Foi lá que teve início um processo interior sobre sua vocação ao sacerdócio. Ele lembra: “Na Terra Santa, começou essa inquietação dentro de mim, nosso Senhor me chamava para ser padre ou para ser celibatário. A questão dos estudos pesava, eu via o padre, às vezes, muito preso àquilo ali, e via o celibatário mais livre. Aí comecei um caminho de discernimento para o celibato, fiz um primeiro compromisso como leigo celibatário na Terra Santa. Só que, depois daquele primeiro compromisso celibatário que eu fiz no Carmelo de Santa Myriam, em Belém, algo mudou dentro de mim. Um mês depois de ter feito o compromisso, eu falei: “Não é isso. Eu sinto que Deus me quer padre. Deus me quer por inteiro. Eu ia para as missas na Terra Santa, via os padres pregando e dizia: ‘Meu Deus, eu me via no presbitério, eu me via no ambão pregando, eu me via na missa celebrando’.

Dimas José – Foto: Bruno Marques

Eu me lembro de que era época de inverno em Belém, eu me deitava naquele frio e via, como se passasse a cena da minha vida ali naquele quarto. Eu ali com Deus, pensava que eu deveria ir para o seminário mesmo. Mas também meditava e dizia: ‘Eu sou muito indigno, eu sou muito pequeno para uma vocação tão grandiosa’. E Deus, convencendo-me interiormente de que Ele tinha me chamado pra ser padre, e para ser padre dentro da Canção Nova.

Desde criança, eu já tinha sinais em mim, mas, ao longo da minha história, eu fui dizendo: ‘Será que é isso mesmo? Eu achava tão grande a vocação de ser padre, e eu tão pequeno. Como Deus ia me chamar para algo tão grandioso? E foram passando as cenas da minha vida ali, naquele quarto, onde eu deitava para dormir em Belém. E eu dizia: ‘Meu Deus, será que é isso mesmo?’.

Lembro que eu partilhei tudo isso com meu diretor espiritual, que, na época, era um padre religioso que morava na Terra Santa há mais de 20 anos. E ele me disse assim: ‘Dimas, é nítido três coisas em você, a gente toca em três de suas características. Primeiro, Deus o chamou para ser padre. Segundo, Deus o chamou para uma comunidade, e você não é chamado para ser sozinho, para ser um eremita ou viver em uma casa paroquial só. Deus o chamou para uma comunidade. E terceiro, uma comunidade missionária. Essas três coisas dizem muito de você: o ser padre; o ser comunitário, ser irmão, alegre; e terceiro, o partir em missão’.”

Foi no período em que estava em missão que Dimas teve a certeza de que Deus o chamava a ser sacerdote. Exatamente no ano de sua ordenação diaconal, ele também terá a alegria de ver as relíquias da madrinha da sua vocação e também padroeira dos missionários, Santa Teresinha do Menino Jesus, ser venerada na Comunidade Canção Nova. 

:: Documentário de Santa Teresinha do Menino Jesus

 

Oração de Santa Teresinha pela santificação dos sacerdotes

Ó Jesus, Sacerdote Eterno, guardai os Vossos sacerdotes no Vosso Sagrado Coração, onde nada de mal lhes possa acontecer, conservai imaculadas as suas mãos ungidas, que tocam todos os dias o Vosso sagrado Corpo.

Conservai imaculado os seus lábios, diariamente, tingidos com o Vosso Preciosíssimo Sangue.

Conservai os seus corações, que selastes com o sublime Sacramento da Ordem, puros e livres de todo o terreno.

Que o Vosso amor os proteja e os preserve do contágio do mundo.

Abençoai os seus trabalhos apostólicos com abundantes frutos.

Fazei que as almas confiadas aos seus cuidados e direção sejam a sua alegria na Terra e formem, no Céu, a sua gloriosa e imperecível coroa. Amém.

 

 

Comunicação Santuário Pai das Misericórdias
Magda Ishikawa Florêncio

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