Em todo o percurso da história de salvação, Deus, na sua infinita bondade e misericórdia, quis se manifestar ao homem de diversos modos. No primeiro momento, frente a frente com o próprio homem, como com Adão e Eva, e após a queda do pecado, perdemos a graça de contemplá-Lo face a face nesta vida terrena.
Mesmo assim, por meio de Sua Palavra, pronunciada pela boca dos profetas, pela Sagrada Escritura, e na Pessoa do próprio Cristo, somos alcançados pelo amor e misericórdia do Senhor. Todavia, no Templo, temos um lugar privilegiado para que vivamos o encontro com Deus de forma intensa. O Templo é o lugar do culto, da reunião, ali onde depositamos nossas ofertas, nossos clamores, e experimentamos a manifestação gloriosa do Senhor.
Desde os tempos remotos, até hoje, temos, neste lugar sagrado, a graça de um verdadeiro e profundo encontro com o Senhor, no qual podemos adentrar no mistério da reconciliação e da esperança.
Lugar da presença e manifestação de Deus
A história do povo de Israel é permeada pelas lutas, durezas, quedas, vitórias. Uma história que revela a nossa. Muitas vezes, nós nos reconhecemos naquele povo, por vezes chamado de “cabeça dura”, e não somente, mas também de corações endurecidos. Mesmo assim, aquele povo não deixou de experimentar das consolações que Deus os enviava, seja na fome, na sede ou diante dos perigos frente às nações mais poderosas:
“O Senhor vosso Deus é quem combate por vós, conforme vos prometeu. Portanto, cuidai bem de vós mesmos, para que ameis o Senhor, vosso Deus.” (Js 23,10b-11)
O povo sabia bem que, ali, estava Aquele que os segurava, que os defendia, independente de seus méritos e forças. E por muito tempo, o Senhor caminhava com Seu povo na presença da Arca da Aliança. Em certo ponto, este era um incômodo no coração do Rei Davi, pois não se tinha um lugar digno para que a Arca fosse colocada:
“Estando sentado em casa, disse Davi ao profeta Natã: Vê, eu moro numa casa de cedro, enquanto a arca da aliança do Senhor está numa tenda. Natã disse a Davi: Faze tudo o que tens no coração, pois Deus está contigo. Mas, naquela mesma noite, veio a Natã a palavra de Deus: Vai dizer ao meu servo Davi: assim fala o Senhor, não serás tu que me construirás uma casa para eu morar. Nunca morei numa casa, desde o dia em que fiz sair Israel até hoje. […] Quando completares teus dias e te reunires a teus antepassados, farei surgir depois de ti um descendente teu, um de teus filhos, cujo reinado eu tornarei estável. Ele me construirá uma casa e eu firmarei seu trono para sempre.” (1Cr 17,1-5.11-12)
Esta palavra se cumpre no reinado de Salomão, filho de Davi. É muito bela a narrativa do dia da dedicação do Templo de Jerusalém, que percorre os capítulos 5, 6 e 7 do livro de 2 Crônicas:
“Quando todos unidos se puseram a tocar as trombetas e a cantar, ouvia-se como um único som, louvando e dando graças ao Senhor. Ao som das trombetas, dos címbalos e dos instrumentos musicais cantou-se em honra ao Senhor: Sim, ele é bom, eterno é seu amor. Nesse momento o templo se encheu com a nuvem da gloria do Senhor, e os sacerdotes nem podiam continuar o ato litúrgico por causa da nuvem, pois a glória do Senhor enchia a casa de Deus.” (2 Cr 5, 13-14)
Naquele momento, iniciava-se um novo tempo na vida do povo de Israel. Deus quis se fazer presente em um lugar, em um Templo Sagrado. Lugar do culto, da oração, da súplica, do louvor, da alegria, mas também local de depositar as lágrimas e angústias, na certeza de que Deus ali se inclinava e acolhia tudo o que era colocado. Tudo isso se faz presente na bela oração de Salomão elevada a Deus por ocasião desse momento sublime da dedicação do Templo:
“Teus olhos estejam abertos, dia e noite, sobre esta casa, sobre este lugar no qual puseste teu nome, para escutares a oração que teu servo te dirige voltado para este lugar. […] escuta do céu, do lugar de tua morada, perdoa e retribui a cada um segundo teu proceder, visto que tu conheces cada coração. Sim, só tu conheces os corações dos filhos de Adão […] Portanto, meu Deus, que teus olhos estejam abertos e teus ouvidos atentos à oração feita neste lugar.” (2 Cr 6, 20.30.40)
O Templo era o lugar da manifestação do Sagrado, das ofertas e súplicas do povo, lugar sobretudo de encontro com Deus. Era tão forte a relação do Templo com o judeu, que não poderia ser diferente quando a tristeza tomou conta do povo, ao ver o Templo destruído no episódio do exílio da Babilônia. Muito além somente da perda física do Templo, mas se tratava da perda da identidade de povo de Deus. Após o período do exílio e com a volta do povo para Israel, o livro de Esdras nos apresenta o momento da reconstrução de Jerusalém e do Templo. Uma nova página na história do povo de Israel se iniciava:
“Esta casa de Deus foi concluída no terceiro dia do mês de Adar, no sexto ano do reinado de Dario. Os israelitas, os sacerdotes, os levitas e os demais repatriados do cativeiro, celebraram com alegria a dedicação desta casa de Deus. […] Celebraram com alegria durante sete dias, a festa dos Pães sem fermento, porque o Senhor lhes tinha causado alegria, inclinando o coração do rei da Assíria a favor deles, para lhes dar a força na reconstrução do templo do Deus de Israel.” (Esd 6,15-16.22)
Encontro consigo e com Deus
Jesus, como um bom judeu, também buscava momentos de intimidade com o Pai nas suas visitas ao Templo. Em primeiro lugar, o próprio Cristo foi apresentado ao Templo por seus pais junto ao velho Simeão. Aos doze anos, foi encontrado por Maria e José, em meio aos doutores do Templo falando e discutindo sobre as coisas sagradas. No próprio Templo, falava ao seu povo, realizava curas, libertações.
Olhando para o modelo do povo de Israel e para o próprio Jesus, temos o Templo, a Igreja, o lugar do culto, como um lugar privilegiado para nos encontrar com o Senhor. E encontrando com Ele, encontramos conosco mesmo. Estamos enfrentando um momento difícil na sociedade, com o ritmo frenético que estamos imersos, e assim podemos cair facilmente no ativismo, nos perdendo do essencial que é a busca do silêncio, do descanso, da oração e meditação. E, nesse sentido, a busca do Templo, de estar na presença do Senhor, faz-se mais do que necessário.
O sentido da busca do Templo, seja uma Igreja, Basílica ou Santuário, porta o sentido da peregrinação. Ser peregrino, ir em caminhada e busca Daquele que pode nos saciar a sede e fome daquilo que o nosso coração mais anseia, e que as realidades humanas e do mundo não podem completar. O Papa Francisco, em sua Carta Apostólica em forma de “Motu Proprio”, Sanctuarium in Ecclesia, nos declara:
“Estes lugares, não obstante a crise de fé que afeta o mundo contemporâneo, são ainda percebidos como espaços sagrados rumo aos quais ir como peregrinos para encontrar um momento de descanso, de silêncio e de contemplação na vida, muitas vezes frenética, dos nossos dias. Um desejo escondido faz surgir em muitos a nostalgia de Deus; e os Santuários podem ser um verdadeiro refúgio para redescobrir si mesmos e reencontrar a força necessária para a própria conversão. Por fim, no Santuário os fiéis podem receber um apoio para o seu caminho ordinário na paróquia e na comunidade cristã. Esta osmose entre o peregrino no Santuário e a vida de todos os dias é uma valiosa ajuda para a pastoral, porque permite revigorar o compromisso de evangelização mediante um testemunho mais convicto. Portanto, caminhar rumo ao Santuário e participar na espiritualidade que estes lugares exprimem já são gestos evangelizadores, que merecem ser valorizados pelo seu intenso valor pastoral.” (n.3)
A busca desses lugares santos revigora, revitaliza o coração e a fé daqueles que os buscam de coração aberto. Tudo converge para que o peregrino seja como que reabastecido em sua jornada, em sua caminhada como peregrino nesta terra. É verdadeiramente um encontro consigo mesmo, pois a presença nesses locais sagrados, reverbera na ação de revisitar a própria vida que se entrelaça com a presença do Senhor que se faz de maneira “poderosa”, como anteriormente demonstrado nas passagens bíblicas. É o mesmo Deus e Senhor que se manifesta nesses lugares santos, e revigora os corações com a alegria e a fé.
Reconciliação e esperança
O Papa Francisco continua o texto da Carta Apostólica:
“Por conseguinte, por sua própria natureza, o Santuário é um lugar sagrado onde a proclamação da Palavra de Deus, a celebração dos Sacramentos, em particular da Reconciliação e da Eucaristia, e o testemunho da caridade exprimem o grande compromisso da Igreja para com a evangelização; e, portanto, caracteriza-se como lugar genuíno de evangelização, onde a partir do primeiro anúncio até à celebração dos mistérios sagrados se torna manifesto o poder da ação com a qual a misericórdia de Deus age na vida das pessoas.” (n.4)
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Além do lugar de acolhida aos peregrinos, esses lugares santos trazem em si uma força sobrenatural que adentra no coração daqueles que os visitam. É belo ver tantas vidas transformadas, muitos testemunhos de pessoas que, há anos, por exemplo, não frequentavam a Santa Missa, uma confissão. Quantas vidas e famílias inteiras restauradas pelo encontro com Deus nesses lugares!
Como acena Papa Francisco, trata-se do lugar da proclamação da Palavra, da pregação, do anúncio da Boa Nova. O lugar da Reconciliação, da Eucaristia, casa da Oração. Portanto, é o ambiente propício para que o fiel viva a experiência da Reconciliação com Deus, mas com suas próprias realidades humanas, familiares, curas e retomada da caminhada de peregrino cansado e sem esperança. É o próprio Senhor a fonte de alegria e esperança que preenche os corações, trazendo novo ardor e novo vigor.
Aqui, na Canção Nova, por exemplo, temos o Santuário do Pai das Misericórdias, e temos a oportunidade de colher tantos belos e fortes testemunhos de pessoas restauradas ao visitarem este Templo. Ao mesmo tempo, quando contemplamos o Santuário Nacional de Aparecida, quanta graça na vida de tantas pessoas pelas mãos da Mãe Aparecida!
Concluímos com as palavras do Papa Francisco com a mesma Carta Apostólica:
“O Santuário possui, na Igreja, um ‘grande valor simbólico’ e tornar-se peregrinos é uma genuína profissão de fé. Com efeito, através da contemplação da imagem sagrada corrobora-se a esperança de sentir mais forte a proximidade de Deus, que abre o coração à confiança de sermos ouvidos e de ver realizados os desejos mais profundos. A piedade popular, que é uma ‘verdadeira expressão da atividade missionária espontânea do povo de Deus’, encontra, no Santuário, um lugar privilegiado onde pode exprimir a bonita tradição de oração, de devoção e de entrega à misericórdia de Deus enculturados na vida de cada povo.” (n.1)
Deus abençoe você.