TESTEMUNHO

Celibato pelo Reino dos céus, uma oferta de amor pelo Amor

Desde muito cedo, sonhei com o dia do meu casamento. Fechava os olhos e me imaginava entrando na Igreja, sorrindo, indo ao encontro do noivo.

Sonhava em ter muitos filhos. Cresci, tive diversos namorados, sempre em busca do meu futuro esposo e pai dos meus filhos. No ano de 2003, estava namorando com alguém — e era provável que me levaria para o altar. Nessa fase, conheci a Canção Nova e senti o Senhor me chamando para “deixar tudo” e segui-Lo. Que loucura, mas é preciso ser um pouco louco para seguir a Cristo! Pois, me parece loucura Ele ter dado a vida numa cruz por amor a mim. 

“Edcleide, tu me amas mais do que estes?” | Foto ilustrativa: Arquivo Pessoal/Santuário

Cheguei na Canção Nova dia 5 de janeiro de 2006, achando que já tinha dado tudo a Ele. Mas, com o passar dos anos, percebi que eu precisava ofertar também o meu sonho de me casar e ser mãe. Ofertei tudo para ficar com o Tudo. Vale destacar que, o celibatário não é alguém que simplesmente renuncia ao amor conjugal, mas é, antes, alguém que se propõe a amar mais a Deus e aos seus irmãos, abrindo mão de um amor exclusivo por uma pessoa. 

E o Senhor, como fez com Pedro, me perguntou :“Edcleide, tu me amas mais do que estes?” ‘Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo’. Ele me disse: “Apascenta os meus cordeiros”. E perguntou pela segunda vez: “Edcleide, tu me amas?” ‘Sim, Senhor, Tu sabes que te amo’. Jesus disse: “Apascenta as minhas ovelhas”. Pela terceira vez, me perguntou o Senhor: “Edcleide, tu me amas?” ‘Senhor, Tu sabes tudo: Tu sabes que eu Te amo’. E Jesus me disse: “Apascenta as minhas ovelhas”. E eu disse “sim”, por amor a Jesus, por causa de um povo, pois Ele está voltando e não posso mais perder tempo. 

Monsenhor Jonas Abib, fundador da Canção Nova, afirma em um de nossos documentos internos que: “O celibatário, por ter um coração indiviso, torna-se capaz de um amor universal, de um cuidado especial pelos irmãos e exerce sua maternidade espiritual a exemplo da Virgem Maria, que no momento de maior agonia e dor, no qual sentiu em seu peito a espada de dor, profetizada por Simeão, foi capaz de permanecer até o fim com seu Filho que se ofertava no calvário” (ND 1500 e 1504).

Dizer “sim” para esse estado de vida não é uma renúncia ao casamento, mas uma oferta, oferta de amor pelo Amor. Sou um daqueles casos improváveis. “Mas Tu Senhor rompestes com minha surdez e o teu amor me alcançou, me seduziu, e eu não poderia dar outra resposta senão dar o meu coração todinho a ti”. 

Sou grata ao Senhor porque sou o cumprimento de uma profecia. Que foi sonhada e gestada no coração do Pai. Trago um coração grato por esse dom, que é o celibato. Sinto-me tão pequena para tão grande dom, mas sei que “A miséria do pecador foi revestida pela misericórdia do amor” (Papa Francisco). 

A dor de um coração que ama é fecunda. 

Como não responder à Tua voz, Senhor, que me interpela “não quer tu, ser uma alma expiatória?”. Já tem gente demais buscando os Teus milagres, quanto a mim, eu quero só a ti. Por isso, o desejo do meu coração é me oferecer como vítima de amor, é aprender a amar o sofrimento. Eu sei que existe uma graça escondida na cruz, que só quem a vive com amor a descobre. E eu entendi que a eficácia da minha missão vem daí, pois a dor de um coração que ama é fecunda. 

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Como o Esposo Ressuscitado, que traz as marcas da Cruz, posso dizer que a minha ferida também esconde uma missão, a minha fraqueza esconde uma força, a minha doença, um remédio! Por isso, Ele me cura e me faz também remédio para a vida da comunidade, para a vida dos jovens e da Igreja. 

Quero, com minha maternidade espiritual, ser para as crianças, adolescentes, jovens, para as famílias o amor encarnado do Cristo Crucificado, que dá a vida e serve de remédio para o mundo. Quero ser colo, descanso, alento e, desse modo, eles também se tornam para mim remédio. No filho machucado, o celibatário é chamado a encontrar o Cristo. A minha oferta é por amor ao Esposo, e amando-O, desejo todas as almas que precisam se encontrar com Ele, as almas perdidas e desacreditadas, eu quero ser ovelha, mas também quero ser pastora de almas.

Santo Agostinho diz que apascentar significa sofrer pelas ovelhas. Uma mãe não pode dar a luz a uma criança sem sofrer. Qualquer parto requer sofrimento e dor. Não podemos dar a vida pelos outros, sem dar a nossa própria vida. A maternidade ou paternidade espiritual requer acolhida, compaixão, sofrimento, persistência, dedicação. 

No dia do meu compromisso definitivo de celibato pelo Reino dos Céus, eu experimentei a glória de Deus. Sim, eu entrei como a noiva ao encontro do Noivo, cantei minha história com Ele:

“Eu encontrei o crucificado desfigurado por meus pecados, eu encontrei feridas abertas Coração transpassado. E Ele me perguntou: ‘Aceita ser o meu rosto? Aceita ser os meus olhos? Aceita ser os meus braços para abraçar com misericórdia? Aceita ser os meus pés? Aceita ser meu sorriso? Encontrou-Me crucificado de braços abertos a me acolher, encontrou-Me o sangue que cura E lava minh’alma”; e eu respondi: ‘Aceito ser o Seu rosto; aceito ser os Seus olhos; aceito ser os Seus braços, para abraçar com misericórdia! Aceito ser os Seus pés, aceito ser Seu sorriso. Aceito ser os Seus braços Para abraçar com misericórdia’.”

Hoje, posso dizer que meu sonho de ter muitos filhos se realizou, só não imaginava que teria tantos. Gero filhos não no ventre, mas no coração. Posso, com minha maternidade espiritual, amar tantos filhos que são órfãos de mãe e pai. Que graça! E meu maior desejo é levá-los para o Céu. Como Dom Bosco, eu digo: “Dai-me almas e ficai com o resto”. Que a Virgem Auxiliadora seja o meu auxílio e que Dom Bosco e São João Maria Vianney, meus amigos do céu, me ajudem a ser uma esposa fiel ao esposo e chegar no céu carregada de filhos. 

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