A Terra foi dada para ser lugar de adoração!
Esse foi o entendimento do Papa Emérito Bento XVI (2019), no Livro Teologia da Liturgia, ao falar da Terra Prometida, que foi dada por Deus ao povo de Israel com a finalidade maior de ser local de adoração ao Senhor. Ampliando essa visão, pode-se dizer que a finalidade maior da nossa existência é adorar a Deus. Mas de que forma?
O Papa Emérito Bento XVI afirma também que o Senhor diz a forma como quer ser adorado, não só por meio do culto, mas também pela própria vida reta do homem. No agir conforme a vontade de Deus consiste a verdadeira adoração!
Deus não muda! Jesus é Deus; e a Palavra diz que “Jesus Cristo é o mesmo, ontem e hoje; Ele o será para a eternidade”. Então, me parece relevante observar o modo como Deus se relacionava com o homem no Antigo Testamento para compreender como devemos nos comportar diante d’Ele no Santíssimo Sacramento do altar.
Moisés, depois de ler para o povo o livro da aliança, e aspergi-los por meio do sangue de novilhos oferecidos em sacrifício declarando a aliança firmada pelo Senhor, ele, em obediência às determinações divinas, subiu à montanha de Deus (Monte Sinai) e diante da glória do Senhor e dentre as coisas que o Senhor falou, Moisés escutou: “Eles me farão um santuário e eu morarei entre eles” (Ex 25, 8). E assim Deus pediu para fazer a Arca para ser colocada no Santuário, para nela, serem depositadas as tábuas de pedra contendo a Lei e os 10 mandamentos (Ex 24, 12 e Ex 25, 16). Deus determina também que seja feito o propiciatório (uma tampa) para ser colocada em cima da Arca e Deus diz que ali se encontrará com Moisés para comunicar-lhe às ordens para os filhos de Israel (Ex 25, 22). Manda fazer a mesa onde “perpetuamente” será colocado o pão de oferenda diante de Deus (Ex 25, 30). Manda também fazer a morada para ser erguida na montanha (Ex 25, 1.30) e uma tenda para por em cima da morada (Ex 25, 7). Dentre outras coisas, o Senhor manda também fazer um véu que separará o lugar santo do lugar santíssimo (Ex 26, 33). A Arca com o propiciatório será colocada atrás do véu no lugar santíssimo e diante do véu seria colocada a mesa com o candelabro (Ex 26, 34-35). Manda fazer o altar e átrio (Ex 27) e determina que providencie óleo para o candelabro para que a lâmpada fique sempre acesa diante do véu que abriga o Documento (Ex 27, 20-21). Nesse ponto o Senhor dá uma ordem: “Aarão e seus filhos proverão para que ela arda do entardecer ao amanhecer, diante do Senhor: é uma lei perene para os filhos de Israel de geração em geração “ (Ex 27, 21b).
Veja que Deus não tem crise de identidade! Ele sabe quem Ele é! Ele é Deus! O soberano! O Santo dos santos! Nada há de profano n’Ele! Nada! Ele sabe exatamente quem Ele é; quando determina a preparação do lugar do encontro, o faz de forma a evidenciar quem Ele é.
Em Jesus Cristo com a sua paixão e morte, o véu do templo se rasgou (Mt 25, 50-51) dando a todos o acesso a Ele, por meio da sua ressurreição. Mas não significa que Ele deixou de ser quem Ele é: Deus. Jesus Cristo é o mediador da Nova Aliança. E Maria, a mãe de Jesus, é a Arca da Nova Aliança (Ap 11,19), cuja presença intercessora é garantida na hora da adoração.
A Igreja tem uma atenção cuidadosa com a Eucaristia porque é o que tem de mais precioso. O Santíssimo Sacramento é a concretização das palavras de Jesus em Mt 28,20, garantindo a sua presença até o fim. Sendo assim, encontra-se no centro da vida eclesial, desde a comunidade primitiva (At 2,42) até hoje. A Eucaristia consiste na atualização do mistério pascal até que Ele volte.
Segundo São João Paulo II (2003, n. 6), na Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia: “A Igreja vive de Jesus eucarístico, por Ele é nutrida, por Ele é iluminada”. No n. 10 desse mesmo documento ele reconhece que em vários lugares promove-se a adoração ao Santíssimo Sacramento, como “fonte inesgotável de santidade”, mas também menciona que há lugares em que não se pratica a adoração. Alerta para os abusos decorrentes de uma compreensão redutiva da Eucaristia que elimina o caráter sacrificial do sacramento e concebem o encontro com Jesus eucarístico numa visão de encontro fraterno. Dentre outros pontos, chama a atenção ainda para as tendências ecumênicas que levam a práticas na celebração eucarística contrárias à fé da Igreja.Para João Paulo II: “a Eucaristia é um dom demasiado grande para suportar ambiguidades e reduções”.
Portanto, diante de Jesus sacramentado, não se pode perder nenhuma das dimensões da eucaristia: Sacrifício eucarístico, Corpo e Sangue do Senhor. Modo de perpetuar o Sacrifício da Cruz até a sua volta, memorial da morte e ressurreição de Cristo (Paulo VI, no n.4 da Carta Encíclica Mysterium Fidei). E nem esquecer que Jesus é Deus!
Sendo assim, diante do Santíssimo Sacramento é recomendada a genuflexão, que se faz flexionando só o joelho direito até ao solo, pois significa atitude de adoração, segundo o n. 69 do Cerimonial dos Bispos. Esse gesto de se ajoelhar é reservado ao Santíssimo Sacramento, quer exposto, quer guardado no sacrário. Segundo ainda o Cerimonial dos Bispos:
“71. Todos aqueles que entram na igreja nunca devem omitir a adoração ao Santíssimo Sacramento: seja dirigindo-se à capela do Santíssimo, seja fazendo pelo menos genuflexão. Fazem igualmente genuflexão todos os que passam diante do Santíssimo Sacramento, a não ser que se vá em procissão.”
A atitude corporal prevista pela Igreja diante do Santíssimo Sacramento demonstra que devemos nos ajoelhar durante a adoração, desde que possamos fazê-lo. Não fiquemos à vontade diante de Jesus como se estivéssemos diante de um amigo comum. Ele é o nosso amigo, mas é Deus! E também como tal, devemos adorá-Lo e, num pequeno gesto de sacrifício (dobrar os joelhos), reverenciá-Lo.
Mas, muito mais do que dobrar os joelhos, dobremos o nosso coração, a nossa vontade e a nossa vida diante Dele!
Graciane Apolônio da Silva
Comunidade Canção Nova