Segundo Santo Tomás de Aquino, as perfeições de todas as coisas estão em Deus (Suma Teológica I-Q4A2). “Todas as coisas” porque nunca teremos a dimensão completa da divindade, a extensão de sua beleza e poder; e “perfeições” porque tudo que pertence a Deus é pleno e sem erro. Na verdade, ele está dizendo que todas as perfeições emanam de Deus e, por exemplo, tudo de belo e bom que existe, vem dAquele que é o sumo belo e o sumo bem: Deus.
Inversamente, podemos dizer que tudo que é imperfeito, só é imperfeito porque não tem Deus em plenitude ou porque nega-se a comungar com Deus. O que é imperfeito se tornará perfeito quando Deus for tudo em todos, pois “quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá” (I Cor. 13,10). O mal e sua fonte, não vêm de Deus e, por não querer comunhão com Ele, não pode ser purificado (CIC 393).
Tudo seria muito teórico e abstrato se, em determinado momento da história, Deus mesmo não houvesse Se encarnado. Ou, como lindamente explica São João: “Ninguém jamais viu Deus. O filho unigênito que está no seio do Pai foi quem o revelou” (Jo 1,18).
“Aquele que é” (Ex 3,14), que possui como própria identidade “ser e existir”, que dá a vida e mantém a existência de todas as coisas (ST I-Q8A3), revelou-se como Trindade e assumiu um rosto humano. São João Paulo II, resumiu esse encontro maravilhoso entre humanidade e divindade dizendo: “Jesus, rosto humano de Deus e rosto divino do homem” (Angelus 11.01.04).
Isso explica porque dizemos que a Misericórdia de Deus é, ao mesmo tempo, um atributo da Divindade e uma pessoa: Jesus Cristo. Assim, a pessoa do Pai, é o “Pai das Misericórdias”, fonte de toda Misericórdia; a pessoa do Filho, também é a Divina Misericórdia em pessoa, que se encarnou na “nossa miséria” e se oferece como vítima perfeita.
Você já notou que o terço da Divina Misericórdia é oferecido ao Pai? “Eterno Pai, eu Vos ofereço…” E oferecemos o quê? Oferecemos Jesus Cristo por inteiro, homem e Deus, “corpo, sangue, alma e divindade”! A Misericórdia que procede do Pai, abraça a humanidade e retorna para Deus.
Divina Misericórdia
Na economia da salvação, o que era impossível para o ser humano, Deus mesmo realizou: uma das três pessoas da Trindade, que compõe toda a fonte e plenitude da Misericórdia, assumiu a natureza humana (que possui toda a beleza da criação divina e toda a miséria do pecado) tornando-se a Divina Misericórdia encarnada. Por ser Deus, deve permanecer em Deus; por ser homem, carrega nossas misérias; e, assim, eleva-se a Deus como nosso representante, tão igual e tão diferente de nós!
A fonte de toda Misericórdia ganha, finalmente, um rosto: Jesus. Como disse São João Evangelista, aquele que ninguém podia ver ou imaginar, mostra-se como homem. Como disse São João Paulo II, Deus ganha um rosto humano.
Isso também explica porque o rosto do Pai no Santuário do Pai das Misericórdias nos lembra tanto o rosto de Jesus Cristo. O rosto de Cristo é o rosto humano de Deus, representar o Pai de modo diferente (e às vezes oposto) ao do Filho, não é o melhor modo de representá-Lo.
Assim, a Misericórdia Divina ganha feições humanas e quer nos abraçar, quer nos elevar para o próprio seio da Divindade, libertando-nos do que é imperfeito para levar-nos à Suma Perfeição de Deus.
E nós? Cabe a nós aceitar esse lindo movimento de Deus em nossa direção e corresponder a Ele amando-O com todo nosso coração, toda nossa alma, todas as nossas forças e com todo nosso pensamento (Lc 10,27; Dt 6,5). Que o Pai das Misericórdias nos sustente e nos ajude!
Flávio Crepaldi
Bacharel em Teologia, colaborador da Fundação João Paulo II/Canção Nova e colunista do Canal Formação, no Portal: cancaonova.com
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