REVELAÇÃO

Encontrar Deus no belo

O belo e a bondade nos elevam a Deus

Ao lermos com bastante atenção as primeiras linhas do livro de Gênesis, aquelas passagens que narram a criação do mundo, percebemos a recorrência de uma máxima bastante interessante e que tem tudo a ver com o tema do nosso artigo, eis a expressão: “E Deus viu que isso era bom” (Gn 1,10;18;21;25). “Bom”, portanto, é a palavra que a maioria dos tradutores em língua portuguesa escolheu para caracterizar tudo aquilo que Deus havia criado.

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Porém, se buscarmos o texto bíblico do livro de Gênesis na versão grega, verificaremos que a palavra que está por trás da expressão traduzida como “bom” é a expressão grega “kalos”. De fato, “kalos” quer dizer “bom”, mas não apenas isso, quer dizer também “belo”. Sendo assim, o texto bíblico poderia ser traduzido da seguinte maneira: “E Deus viu que isso era belo”.

Deus, que é a Suma Beleza e a Suma Bondade, só poderia ter criado coisas belas e boas. Tendo com base esse pensamento e tudo aquilo que vimos anteriormente sobre o primeiro livro da Bíblia, é possível afirmar que em todas as coisas criadas existe uma fagulha de Deus. Em sua magnífica obra – a suma teológica –, São Tomás de Aquino, tomando emprestada uma ideia de Santo Agostinho, afirma que se encontra em cada criatura certos vestígios de Deus. Isto se dá na medida em que ela possui certa ordem, certa harmonia e certa beleza (cf. ST Ia, q.45, a.7).

“O ser humano foi criado, originalmente, belo e harmônico.” | Foto ilustrativa: Arquivo CN

Uma vez que encontramos rastros do Criador em toda criatura, logo, por sermos também criaturas de Deus, possuímos em nós algum grau de beleza e de harmonia. De fato, o ser humano foi criado, originalmente, belo e harmônico. Contudo, existe o pecado que a todo instante tenta arranhar essa beleza de Deus em nós para nos tornarmos feios, desordenados e desarmônicos.

Não obstante, existe em nós uma atração pelas coisas belas. Quando enxergamos, por exemplo, um lindo pôr do sol, ficamos surpreendidos por aquele acontecimento e, muitas vezes, nem nos perguntamos o que tanto nos atrai naquela imagem. Respondo: ao olharmos para o sol que se põe no horizonte, identificamos uma ordem, uma beleza e uma harmonia que nos atrai e que nos remete a algo mais sublime: o próprio Deus.

A título de exemplo, ninguém que não esteja em perfeito estado psicológico se sentiria atraído por um latão de lixo repleto de comida estragada. Contudo, pouquíssimas pessoas não resistiriam a um belo campo repleto por gérberas africanas multicoloridas ou simplesmente um pequeno jardim gótico composto pelo tom monocromático de malvas negras. Em outras palavras, a beleza atrai e a feiura espanta.

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Afinal, o que existe por trás dessa inclinação para as coisas belas? A resposta é simples e já foi mencionada acima: a busca por Deus. Todos nós, seres humanos, somos atraídos “pela” e “para” a beleza. Apresente coisas belas e boas a alguém e você será capaz de atraí-la, caso contrário, irá repeli-la.

Para concluir, recordo que, há pelo menos 150 anos, o romancista Fiódor Dostoiévski legou-nos a conhecida frase: “A beleza salvará o mundo”. De fato, a verdadeira Beleza – a Beleza com “B” maiúsculo –, a Suma Beleza salvará o mundo, ou melhor, a Beleza já salvou-o. Da nossa parte, basta que acolhamos esta salvação.

Deus abençoe você e até a próxima!

Gleidson Carvalho
Seminarista Canção Nova

 

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