IR. RITA DE CÁSSIA

Missionária conta sua experiência vocacional na Ilha de Marajó

“Muitos irão, mas nem todos voltarão”

Durante este mês de agosto, considerado pela Igreja como um mês vocacional, nossa equipe reuniu alguns testemunhos que levarão você a uma experiência com a vontade de Deus e o desejo de fazê-Lo conhecido e amado. Acompanhe o testemunho da Irmã Rita de Cássia, mineira de 53 anos que vive na Ilha do Marajó há 29 anos, dois quais 23 são como consagrada.

“O pecado destrói a pessoa, afasta a pessoa de si mesma, de Deus e dos outros. ” Foto ilustrativa: Arquivo Pessoal/Comunicação Santuário

“No ano de 1987, tive a experiência do meu encontro pessoal com Jesus ao participar da Santa Missa. Uma experiência muito profunda, onde senti a salvação de Jesus me alcançando. Depois, num processo de volta para a casa de Deus, que é a Igreja, eu me encontrei com a Renovação Carismática através de um grupo de oração, e ali vivi o meu batismo no Espírito Santo. Era o ano de 1990. Dois anos depois, vivendo uma vida de fraternidade e comunhão com os irmãos neste grupo de oração, conhecemos o Bispo da Prelazia do Marajó, Dom Azcona, por meio de uma pregação, onde ele nos convidava para a missão no Marajó. Isso causou um grande impacto no grupo, e decidimos rezar sobre essa realidade, pois a sentimos como um chamado para nós.

O chamado

A princípio, eu não me sentia chamada, porém, com o passar do tempo, foram se organizando as pessoas para irem para a missão. Os primeiros foram os desempregados, pelo fato de estarem livres. Nesse tempo, eu costumava rezar todas as manhãs na Igreja; e em oração diante de Jesus crucificado, senti um forte chamado, era como se Ele me dissesse do alto da Cruz: “Vá para a missão no Marajó”. Jesus crucificado grita pelo nosso amor! Clama por almas que se unam a Ele pela salvação dos homens. Eu me lembro que chorei muito nesse momento, tomada pela emoção, pois sentia a alegria pela escolha de Deus e pelo chamado.

O mesmo sentimento em relação ao chamado à missão ia se dando com outros irmãos. Após um tempo de discernimento e de contato com nosso Bispo Diocesano e com Dom Azcona, em fevereiro de 1993, eu e outros cinco irmãos, dois rapazes e três moças, fomos enviados em missão para o Marajó. Foi riquíssima a experiência e muito frutuosa, apesar de todas as dificuldades e os desafios que encontramos.

A proposta inicial era de passar um ano na missão, porém sempre me lembrava de quando estávamos no tempo do discernimento e o padre que nos acompanhava disse-nos um dia: “Muitos irão, mas nem todos voltarão”. No meu coração, eu sentia que ele falava de mim. Vivemos um ano bonito e, ao mesmo tempo, muito difícil na missão, num lugar diferente, com uma cultura diferente e uma realidade eclesial muito diferente da qual nós vínhamos. Mas viver neste lugar ia nos fazendo amadurecer na nossa experiência de ser cristãos.

Radicalidade evangélica

Como éramos jovens, evangelizávamos os jovens com nossa própria vida; tínhamos feito uma opção muito radical, deixamos nossas casas, famílias, bons empregos. Muitos jovens mudaram radicalmente de vida, voltavam-se para Deus e se dispuseram ao serviço da Igreja. Muitos deles, hoje adultos, permanecem fiéis servindo à Igreja.

Quando vim para o Marajó, eu tinha 24 anos. Nesse tempo, não havia ainda o discernimento da minha vocação. Estava apaixonada por Jesus, tinha uma vida de constante oração e costumava fazer, diariamente, minha oração pessoal. Num desses dias, quando estava em oração rezando o terço, o Senhor me revelou que eu tinha vocação à Vida consagrada. Eu posso dizer que esse dia foi um dos mais felizes da minha vida! Eu chorei emocionada praticamente todo este dia, de manhã até a noite, envolvida em um profundo contentamento por saber que Deus estava me escolhendo para uma vocação específica de consagrada na Igreja.

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Descobrir a vocação é como descobrir o sentido da vida! No final deste primeiro ano, o bispo nos pediu para permanecermos por mais tempo na missão. Então, voltamos apenas de férias para as nossas casas para rever os amigos e parentes e descansar. No retorno das férias, eu conversei com o bispo e pedi para fazer um acompanhamento vocacional. Durante este ano, com o bispo me orientando, fui vivendo a minha oração em busca da vontade de Deus. No final do segundo ano, fizemos um retiro, seguindo o esquema de Santo Inácio de Loyola, com discernimento para vocação.

As Novas Comunidades

Na cidade vizinha, havia uma comunidade de irmãs consagradas, fundada aqui mesmo no Marajó, e que tem como carisma a conversão dos pecadores e a adoração a Deus em Espírito e em verdade. É uma comunidade nascida no tempo que o Espírito Santo suscitou, na Igreja, a fundação das chamadas Novas Comunidades, e se chama Filhas da Divina Graça. Nós visitávamos sempre essa comunidade.

Neste dia do retiro, eu senti, no meu coração, que era chamada para ela. Falei isso para o bispo, e então começamos um processo de discernimento e preparação. Eu procurei me aproximar mais desta comunidade para fazer o meu discernimento. Esse processo durou alguns anos. No meio desse processo, como um mistério, o Senhor suscitou, no meu coração, que eu fizesse uma consagração como leiga, e isso aconteceu no ano de 1998. A consagração foi celebrada na minha Diocese de origem, em Minas Gerais. Seguindo no caminho indicado por Deus, no ano de 2001, eu ingressei na Comunidade Filhas da Divina Graça, e sigo vivendo o carisma de rezar e oferecer sacrifícios pela conversão dos pecadores. Fazemos, aqui na comunidade, um trabalho de resgate das pessoas. Do bom samaritano que cuida do “caído no caminho”.

O pecado destrói a pessoa, afasta a pessoa de si mesma, de Deus e dos outros. Deus tem feito grandes coisas resgatando muitas almas para Ele. Temos uma vida simples e ajudamos intensamente na nossa Paróquia, sempre com a espiritualidade da comunidade. Já estivemos em número maior e presente em outras paróquias, mas também passamos pelo tempo da prova que levou muitas vocações. Hoje, estamos apenas aqui na cidade de Soure, mas Deus é fiel, e como foi Ele mesmo que fundou a comunidade, Ele a sustenta, e assim nós somos as primeiras testemunhas da grande misericórdia que Deus tem para com o pecador.

Voltando à história da missão, a profecia daquele padre se cumpriu, os outros que vieram comigo para missão retornaram a Minas, um inclusive se casou com uma marajoara, e eles vivem em Minas, e eu permaneço aqui. Sou muito feliz com a minha vocação. A palavra de Deus, tratando sobre a vocação, fala da pérola de grande valor que foi encontrada e pela qual vale a pena vender tudo. Eu posso dizer que esta é a realidade da minha vida. Encontrei um tesouro, que é o próprio Jesus e a vida nova que Ele nos dá, e por essa vida eu deixei tudo e de nada me arrependo. Deixei tudo para ganhar o TUDO.

Irmã Rita de Cássia
Missionária na Ilha de Marajó (PA)

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