PAPA DA MISERICÓRDIA

O amor humano de Francisco

O que marca o pontificado de Francisco? Qual o seu legado, aquilo que permanecerá eternizado em nossa vida e coração?

Imagem: REUTERS/ Guglielmo Mangiapane

Poderíamos tecer muitas palavras para ilustrar a marcante passagem do Papa da Misericórdia na vida de tantas pessoas, nações e mundo. Sim, o Papa da Misericórdia. O Papa que revelou a todos o rosto do amor, da bondade e da misericórdia de Cristo.

Jesus não trazia, no seu coração, outro desejo que resgatar o ser humano das trevas do pecado e da morte. Como o Bom Pastor, deixava as noventa e nove ovelhas para resgatar a ovelha perdida, rebelde, ferida, e trazê-la de volta ao redil com todo amor e afeto. Este mesmo Jesus Bom Pastor, que passava na vida de tantos e, com seu olhar, gestos e palavras, tornava a pessoa como verdadeiramente única. Do mesmo modo, podemos voltar o nosso olhar para essa face de Cristo Bom Pastor desenhada na pessoa do Papa Francisco.

Palavras fortes que, no início do seu pontificado, já mostravam o seu objetivo de evangelizar e alcançar o seu rebanho: Igreja em saída, cultura do encontro, alcançar as periferias existenciais… Tudo isso, aos poucos e com o passar dos anos, foi ganhando corpo em seus gestos e palavras de amor. Sem falar do seu desejo de Pastor em revelar o rosto da Misericórdia de Cristo, em 2016, no Jubileu extraordinário, e levar aos corações e ao mundo uma palavra de esperança no Jubileu deste ano de 2025. Assim foi Francisco, como também foi o próprio Cristo.

Retomando o modo como o Papa Francisco revelou a face de Cristo aos povos e nações por meio dos gestos e palavras de amor, este é o título do segundo capítulo de sua última Carta Encíclica Dilext nos, Ele nos amou. Tomemos alguns fragmentos do texto:

“O modo como nos ama é algo que Cristo não quis explicar-nos exaustivamente. Mostra-o nos seus gestos. Observando-O, podemos descobrir como trata cada um de nós, mesmo que nos custe perceber isso. Procuremos, pois, onde a nossa fé pode reconhecê-Lo: no Evangelho. […] O que Ele propõe é a pertença mútua dos amigos. Veio, superou todas as distâncias, tornou-se próximo de nós, como as coisas mais simples e quotidianas da existência. […] Se curava alguém, preferia aproximar-se: “Jesus estendeu a mão e tocou-o” (Mt 8,3); “tocou-lhe na mão” (Mt 8,15); “tocou-lhes nos olhos” (Mt 9, 29). E, como faz uma mãe, curou os doentes até com a própria saliva (cf. Mc 7, 33) para que não O sentissem alheio às suas vidas. Porque o Senhor conhece a bela ciência das carícias. A ternura de Deus não nos ama com palavras; aproxima-se de nós e, estando perto, dá-nos o seu amor com toda a ternura possível.” (Dilext nos, 33, 34, 36)

Imagem: Ashwin Vaswani via Unsplash

Podemos dizer que essas palavras definem muito bem o pontificado de Francisco. Um amor humano que manifestava o amor divino e incondicional de Deus pelo ser humano, pelos seus filhos. Um amor humano sem medida, que sabia ser inteiro com a criança, com o idoso, com as famílias, com os encarcerados, com os jovens, com os fracos, com os que estão à margem na sociedade. Este modo de amar precisa nos constranger, precisa gerar conversão em nosso coração endurecido, frio e indiferente. Francisco nos ensinou que este modo humano de amar gera leveza, alegria, bom humor, que rompe com a amargura e tristeza. Este modo humano de amar leva esperança e paz aos corações, fazendo cair por terra todo peso que nos impede de fazer a bela experiência de sermos filhos e filhas livres.

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Essa é a marca, o legado que devemos trazer em nossa memória e coração. Eu, padre Leonardo, tive a graça de morar em Roma, na frente de missão da Comunidade Canção Nova, de 2022 a 2024. E este modo de amar humano do Papa, que pude contemplar de perto em suas audiências, nos seus gestos e palavras, eu quero trazer para a minha vida e lutar para viver, pôr em prática, na vida de todos aqueles que o Senhor me confiar. É o que também desejo para todos. Deus abençoe você.