NOSSA SENHORA DE FÁTIMA

O que nos pede a Virgem Maria em suas aparições?

“De tudo que puderdes, oferecei um sacrifício”

“Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios. “Como nos havemos de sacrificar?” – perguntei. “De tudo que puderdes, oferecei um sacrifício em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores” (IRMÃ LÚCIA, 2015, p.170). Essas palavras foram proferidas pelo Anjo de Portugal em sua segunda aparição (1916) aos pastorinhos: Lúcia, Francisco e Jacinta, como um forte apelo à oração, acompanhada de sacrifícios em desagravo ao Nosso Senhor Jesus Cristo, pelos pecados da humanidade e por nossa contínua conversão.

Esse é o sétimo apelo da Mensagem de Fátima, de acordo com o itinerário temático, que o Santuário do Pai das Misericórdias está oferecendo aos peregrinos, desde o mês de fevereiro do presente ano, baseado na obra intitulada: “Apelos da Mensagem de Fátima”, da serva de Deus, Ir. Lúcia. O primeiro refletido foi o apelo à fé, o segundo, à adoração; o terceiro, à esperança; o quarto, ao amor; o quinto, ao perdão e, o sexto, à oração. Ao todo, são vinte e dois apelos explicitados pela Ir. Lúcia que serão abordados por nós, para que, assim, sejamos conduzidos ao coração do Evangelho.

 

O presente tema deve ser considerado, primeiramente, a partir de Jesus Cristo, que é o grande sacrifício de expiação pelos pecados da humanidade. Ele ofereceu-Se ao Pai, dando a Sua vida na cruz e, assim, mereceu a salvação do gênero humano. Assim, pôs término aos sacrifícios de animais oferecidos no Antigo Testamento que O prefiguravam, já que, antes de sua vinda ao mundo, a salvação era compreendida somente como promessa. Entretanto, o Apóstolo São Paulo nos ensina a unirmos os nossos sacrifícios ao de Cristo, para colaborarmos com o Seu múnus salvífico: “Agora, me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja” (Col 1,24). Assim sendo, podemos afirmar que, nas palavras do Anjo, encerra-se um mistério que deve ser por nós desvelado: os nossos sacrifícios unidos ao de Cristo, desde que estejamos em estado de graça, são capazes de colaborar eficazmente para a salvação dos nossos irmãos, já que é o próprio Espírito de Jesus que nos impele à união com Ele, ou seja, nos faz desejar o que Ele mesmo deseja: a nossa salvação.

Esse apelo ao sacrifício é, também, proferido por Nossa Senhora em Fátima, na aparição de agosto de 1917: “Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas” (IRMÃ LÚCIA, 2015, p.179). Logo, pode-se verificar tanto nas palavras do Anjo (acima descritas) como nas de Maria que: Deus concedeu ao homem a faculdade de colaborar com Ele na salvação das almas por meio da oração e do sacrifício. Em suma, pode-se compreender que, a oração oferecida a Deus,  acompanhada pela prática de sacrifícios, tem uma eficácia grandiosa. Então, fica claro que, não basta rezar, é preciso também oferecer sacrifícios a Deus em união com Cristo, o nosso Salvador.

Em seus escritos, a Ir. Lúcia que tanto se esmerou na prática dos sacrifícios, elucida sobre a maneira de como exercitá-los:

“Podem ser sacrifícios de bens espirituais, intelectuais, morais, físicos e materiais; segundo os momentos, teremos ocasião de oferecer ora uns, ora outros. O que importa é que estejamos dispostos a aproveitar as ocasiões que se nos deparam; sobretudo que saibamos sacrificar-nos quando isso mesmo é exigido pelo cumprimento do próprio dever para com Deus, para com o próximo e para com nós mesmos” (IRMÃ LÚCIA, 2007, p. 101-102).

Tais sacrifícios, de forma voluntária, podem ser oferecidos a Deus, ou seja, são aqueles que livremente nos propomos a praticá-los. A própria Ir. Lúcia (2015) deixou um profundo testemunho desses sacrifícios que, junto com os seus primos, ofereceram a Deus: a abstinência na alimentação, visto que, muitas vezes, davam a alimentação levada (para passar o dia de pastoreio das ovelhas) para as crianças pobres; comiam frutos amargos das árvores; ficavam dias sem beber água no verão; atavam-se com uma corda à cintura e batiam-se com folhas de urtigas. Os sacrifícios involuntários são aqueles que nos acontecem inesperadamente e, quando são aceitos e oferecidos sem murmuração, têm maior valor diante de Deus. Geralmente, são provenientes da missão designada por Deus, como narra a Ir. Lúcia (2015). Sofreram a desconfiança, já que nem todos acreditavam na veracidade das aparições de Nossa Senhora, inclusive o pároco; enfrentaram humilhações e insultos. Nesse sentido, podem-se destacar os castigos corporais infligidos à Lúcia por sua mãe que, também, não acreditava que Nossa Senhora lhe aparecia; a perseguição por parte do administrador e a solidão da Jacinta que morre longe dos seus familiares.

Esses últimos sacrifícios, quando bem vividos, são os que mais nos adiantam no caminho da nossa santificação, já que nos assemelham mais depressa a Jesus Cristo, manso e humilde (Mt 11,29). De acordo com as palavras do Anjo: “De tudo que puderdes, oferecei um sacrifício”, pode-se compreender que cada pessoa deve se servir das diversas oportunidades que lhe são apresentadas na vida quotidiana, para o oferecimento de si mesma a Deus, consciente de que, quando há um grande sacrifício e uma grande renúncia, há, sobretudo, um elevado amor. O valor está no amor!

Sobre o valor do sacrifício, o Papa Pio XII, em sua Carta Encíclica Mystici Corporis, afirma: “A salvação de muitos depende das orações e dos sacrifícios voluntários, feitos com essa intenção pelos membros do corpo místico de Jesus Cristo e da colaboração que pastores e féis, sobretudo os pais e mães de família, devem prestar ao divino Salvador” (N. 43).

 

Áurea Maria,
Comunidade Canção Nova

REFERÊNCIAS

IRMÃ LÚCIA. Apelos da Mensagem de Fátima. 4. ed. Fátima – Portugal: Secretariado dos Pastorinhos, 2007.

IRMÃ LÚCIA. Memórias da Irmã Lúcia. 17. ed. Fátima – Portugal: Fundação Francisco e Jacinta Marto, 2015.

PIO XII. Carta Encíclica Mysticis Corporis. 29 jun 1943. Disponível em: http://w2.vatican.va/content/pius-xii/pt/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_29061943_mystici-corporis-christi.html . Acesso em: 24 jul 2019.

SCHOKEL, Luís Alonso. Bíblia do Peregrino. Tradução de Ivo Storniolo, José Bortolini e José Raimundo Vidigal. São Paulo: Paulus, 2002.

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