“Convertei-vos e crede no Evangelho”
Na Quarta-feira de Cinzas, se deu início a um novo tempo litúrgico na Igreja: a Quaresma. Impulsionados pelo exemplo e palavra de Jesus: “Convertei-vos e crede no Evangelho (Marcos 1,15); somos convidados a adentrar no deserto interior do nosso coração, para que, durante 40 dias, possamos nos preparar bem, a fim de verdadeiramente celebrarmos a Páscoa de Cristo. Dificilmente celebraremos uma boa Páscoa, se não tivermos vivido bem o tempo quaresmal. Veja bem, o número 40 é muito simbólico na Bíblia, se referindo ao tempo de espera, da preparação, da penitência e do jejum. É justamente esse caminho de preparação que faremos, para que, no final desse período, possamos falar com sinceridade e alegria: verdadeiramente, este ano, vivi uma boa Quaresma.
Mas como se preparar? O que fazer para viver bem a Quaresma? A Igreja, como boa Mãe que é, nos aponta em especial três vias que norteiam a vida de qualquer católico na Quaresma: a oração, o jejum e a caridade. Tendo em vista que assumimos com seriedade este tempo de preparação, inclinaremos o nosso coração para a penitência, que, por sua vez, não deve ser praticada de maneira escrupulosa ou exagerada, mas antes, consciente e cheia de sentido, voltando todo o nosso ser para a pessoa de Jesus. Pois de nada adianta escolher muitas penitências e não dar conta de realizá-las. Por isso, é importante que tenhamos sobre nós um olhar muito sincero para as áreas de nossa vida que mais necessitam de conversão e transformação. É preciso coragem, pois, no deserto, não haverá arbustos que nos escondam de nossas fraquezas, misérias e vícios. Este é o tempo de encarar de frente a nossa vida e darmos os passos necessários para sermos homens e mulheres novos para o mundo novo.
Acolhendo a orientação da Igreja, nortearemos nossa Quaresma naquelas três práticas, a começar pela oração. Analisando a sua vida, a sua rotina, as suas lutas interiores e a necessidade de conversão, qual penitência seria melhor para você ser um homem, uma mulher mais fervoroso(a) na oração? Que tal aproveitar aquele horário livre para rezar o terço durante os quarenta dias? Ou quem sabe, se você sempre desejou fazer o estudo da Bíblia e protelou até agora, por qual motivo não o começar nesta Quaresma? Dedique mais tempo para estar com Jesus no Santíssimo Sacramento, visitando alguma Igreja; e assim por diante. Veja com atenção aquilo de que o seu coração necessita e comece por aí. Mas lembre-se, não escolha tudo, comece por um ponto, o que você reconhece ser mais importante e dedique suas forças e sua vontade de ser fiel a esse propósito.
Em seguida, vem o jejum, uma forte arma espiritual que nos ajuda a controlar nossos apetites e más inclinações, fortalecendo nossa vontade e nos dando autodomínio sobre os nossos vícios. É bastante importante que você pense em determinado vício ou pecado que há muito tempo você luta contra ele e não consegue se libertar. Pensou? Agora, reflita sobre algo que você gosta muito, uma comida, um hábito frequente, como assistir séries ou filmes muitas vezes na semana… Escolha alguma dessas coisas para que você retire nesse tempo quaresmal como uma espécie de jejum, colocando em intenção a libertação daquela má inclinação e a conversão do seu coração, dando a Deus o primeiro lugar na sua vida. É importante lembrar que não existe somente o jejum de comida, mas outros tipos, como o da língua, por exemplo, no qual evitamos falar mal das pessoas.
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Por fim, a caridade, que está ligada diretamente à esmola. É certo que a Quaresma é um tempo no qual desapegamos dos bens materiais e buscamos ajudar aos mais necessitados. Porém, é ilusão nossa pensar que somente estaremos praticando a caridade quando ajudamos alguém materialmente. Muitas vezes, não temos dinheiro, mas somos ricos em outras coisas das quais nos apegamos. Se o tempo é tão precioso para você, por que não fazer o exercício de doá-lo, amando, acolhendo, escutando e ajudando ao próximo? Há pessoas que necessitam muito mais de um olhar calmo e atencioso do que de dinheiro. Há aquelas que se sentiriam mais cheias e alimentadas por um gesto de amor do que por um prato de comida. A caridade é o próprio amor; e, da nossa parte, amar exige tempo, doação e sacrifício.
A Quaresma não é um peso, é antes uma parada necessária que todos nós precisamos fazer para nos avaliar e redirecionar o rumo das nossa vida. Que o Espírito Santo, a luz dos corações, nos ilumine e seja o nosso guia, como foi o de Jesus no deserto.
Deus te abençoe e tenha uma santa e frutuosa Quaresma.
Joaderson Medeiros
Seminarista da Com. Canção Nova