“A fé e a razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade.”
(São João Paulo II)
As discussões acerca da relação entre a Fé e a Razão são um dos temas recorrentes não apenas neste século, mas um assunto que percorre a História da Igreja. Passando entre os trilhos da Filosofia e da Teologia, opiniões e debates são levantados, ora conciliando, ora desunindo os dois conceitos. A intenção deste texto é apresentar de forma resumida a visão geral da Igreja sobre este assunto, já que é uma longa discussão, cheia de diversas argumentações.
:: A importância do Santo Rosário
É preciso lembrar, em primeiro lugar, que a expansão do Cristianismo acontece no mesmo período em que a Filosofia Clássica, advinda principalmente da Grécia, ganhou espaço na sociedade. No decorrer dos anos, desenvolveu-se dentro da Igreja a “Patrística”, representada pelos primeiros Padres da Igreja que cultivaram um pensamento capaz de conciliar a filosofia com a religião. Pode-se destacar aqui a figura de Santo Agostinho, que realizou um trabalho resgatando o pensamento de Platão como base filosófica para o pensamento cristão. Posteriormente, surge na Igreja a “Escolástica”. Destacando as figuras de Santo Alberto Magno e Santo Tomás de Aquino, esse será um período de intensa produção filosófica, unindo cada vez mais a Fé e a Razão, mas tendo como base o pensamento de Aristóteles.
Assim, já na Idade Média, é possível perceber o esforço de conciliar essas duas realidades. Alguns anos mais tarde, na Idade Moderna, diversas correntes filosóficas buscaram distanciar a Fé e a Razão, declarando a impossibilidade de conciliá-las, uma vez que tinham a religião como uma criação do homem, um prejuízo à sociedade e, inclusive, negando a existência de Deus. Infelizmente, tais ideias ainda perduram na Idade Contemporânea.
Mas e a Igreja, manifestou alguma solução para este problema?
Tanto na Patrística, quanto na Escolástica, os pensadores cristãos buscaram respostas racionais para explicar a Fé como, por exemplo, as cinco vias ou provas da existência de Deus, desenvolvidas por Santo Tomás. Por outro lado, algumas correntes filosóficas cristãs protestantes distanciaram os dois conceitos, recorrendo ao fideísmo – crendo que basta apenas a fé, sem a necessidade da razão-, enquanto os não cristãos baseiam-se no racionalismo – bastando apenas a razão.
Fe e razão
A Igreja fez questão de defender e reafirmar que os conceitos caminham juntos. No Concílio Vaticano I, a Constituição dogmática Dei Filius traz no seu texto que Deus pode ser conhecido pela luz natural da razão; São João Paulo II publicou, em 1998, a encíclica Fides et Ratio, tratando das relações entre Fé e razão.
De modo geral, podemos dizer que a Igreja aponta, ao mesmo tempo, um reto uso da razão e a obediência da fé.
“A mesma Santa Igreja crê e ensina que Deus, princípio e fim de todas as coisas, pode ser conhecido com certeza pela luz natural da razão humana, por meio das coisas criadas”
Dei Filius
Já que temos, agora, um conhecimento maior sobre a visão da Igreja, podemos falar de um grupo particular. São aqueles que se destacam por um ilustre saber teológico, esclarecendo não apenas a doutrina, mas também a vivência; possuíam um elevado grau de santidade e desenvolveram sua atividade intelectual como um meio de chegarem a Deus; apresentam um saber distinto. Estamos falando dos Doutores da Igreja. Eles conseguiram, de forma clara e heroica, unir inteligência – o saber – e a santidade.
O título é conferido, unicamente, pelo Papa, sendo esta uma das condições, tal como a verificação de uma doutrina eminente e a santidade de vida. Hoje, a Igreja possui 37 doutores, sendo os dois últimos São Gregório de Narek e Santo Irineu de Lyon, declarados pelo Papa Francisco em 2015 e em 2022, respectivamente.
O conteúdo é denso e extenso, mas podemos tirar uma lição prática para a nossa vida: é claro e evidente que há uma provocação contínua e direta da Santa Igreja para que cada um busque aprofundar no conhecimento da Fé. É preciso conhecer, saber, ter ciência daquilo que a Igreja crê e professa, mas também dos meios utilizados para fundamentar e defender a Fé. Da mesma forma, precisamos ter cautela para não cairmos nem no fideísmo ou no racionalismo. Para isso, os Doutores da Igreja tornam-se estes modelos e referências: vivendo bem o conhecimento de Deus pela luz da razão, precisamos transformar tudo isso em via de santidade, num caminho de profunda união com Deus.
Que Deus nos dê a graça de crescermos e aprofundarmos tanto no conhecimento quanto na Fé para nos unirmos ainda mais a Ele!