DEVOÇÃO REPARADORA

A relação do décimo Mandamento com a Mensagem de Fátima

Não cobiçarás as coisas alheias

A Mensagem de Fátima em sua integralidade expressa um atual apelo à observância dos Dez Mandamentos da Lei de Deus, para que a humanidade, iluminada pela luz da Verdade, alcance a salvação, uma vez que estas normas morais possuem o selo da eternidade. Este artigo completa a série sobre os Dez Mandamentos da Lei de Deus, como parte integrante de Sua Mensagem enviada ao mundo por meio de Sua Santíssima Mãe. Por isso sua ênfase é voltada para o décimo Mandamento: “Não cobiçarás as coisas alheias”. Com base na obra “Apelos da Mensagem de Fátima” da autoria da serva de Deus Irmã Lúcia e no Catecismo da Igreja, discorreremos sobre os princípios elementares deste Mandamento e sobre a amplitude dos aspectos que o mesmo engloba.

Considerando que a importância do décimo Mandamento se fundamenta no fato de ser uma ordem divina descrita na Sagrada Escritura, Irmã Lúcia evidencia que o mesmo é um componente essencial do código da Aliança que Iahweh fez com o seu povo quando declarou: “Não cobiçarás a mulher de teu próximo. Não cobiçarás sua casa, nem seu campo, nem seu escravo, nem sua escrava, nem seu boi, nem seu jumento, nem nada do que lhe pertence” (Dt 5,21). Compreende-se, sobretudo, que através deste preceito Deus, como Pai amoroso, quer preservar o coração do homem dos maus desejos que transtornam as suas faculdades morais e o inclinam ao pecado que paulatinamente o conduz para a condenação eterna.

Neste sentido, São João destaca três espécies de cobiças, das quais assinala primeiramente o desejo carnal e o desejo de posse dos bens alheios, admoestando a combatê-las: “Porque tudo o que há no mundo – a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida – não procede do Pai, mas do mundo” (1 Jo 2,16). Assim sendo, a tradição catequética Católica atesta que o nono Mandamento proíbe a concupiscência carnal e o décimo proíbe a cobiça dos bens alheios, conforme salienta o Catecismo (n. 2534) quando diz: O décimo Mandamento desdobra e completa o nono, que se refere à concupiscência da carne. Proíbe a cobiça dos bens dos outros, raiz do roubo, da rapina e da fraude, que o sétimo Mandamento proíbe. A ‘concupiscência dos olhos’ (1 Jo 2,16) leva à violência e à injustiça, proibidas pelo quinto preceito. A cupidez tem sua origem, como a fornicação, na idolatria proibida nas três primeiras prescrições da Lei. O décimo Mandamento se refere à intenção do coração e resume, junto com o nono,
todos os preceitos da Lei.

Logo, pode-se constatar que o décimo Mandamento é essencialmente uma exortação a guardar a pureza das intenções do coração diante de Deus e diante do próximo, sendo esta uma condição necessária para se alcançar a vida eterna, conforme o próprio Jesus afirmou ao exprimir o espírito novo do Reino de Deus, em seu discurso inaugural: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5,8).

De fato, a promessa de ver a Deus ultrapassa todas as outras bem-aventuranças, uma vez que aquele vê a Deus está em posse de todos os bens eternos que Ele reservou para cada um de nós (cf. 1 Cor 2,9). Logo, pode-se afirmar que o desejo de ver a Deus conduz à felicidade verdadeira e liberta o homem da ambição desordenada, nascida da paixão pelas riquezas; e a virtude da pureza além de levar- nos à posse dos bens eternos, protege-nos da inveja, sendo este um dos pecados capitais que mais impede a observância deste Mandamento.

De acordo com o Catecismo da Igreja (n. 2539) a inveja é um vício capital e designa a tristeza sentida diante do bem do outro e se resume no desejo imoderado de sua apropriação indevida. Considerando que desejar ao próximo um mal grave é pecado mortal, o Catecismo evidencia que da inveja nascem o ódio, a maledicência, a calúnia, a alegria causada pela desgraça do próximo e o desprazer causado por sua prosperidade. Por isso, afirma que todo
batizado deve recusar a inveja – muitas vezes originada do orgulho – pois se trata de uma falta grave contra a caridade. Sublinha que é dever de todo cristão escolher pela benevolência que é o principal antídoto contra este veneno, conforme aconselha o apóstolo: “Não te deixes vencer pelo mal, mas triunfa do mal com o bem” (Rm 12,21).
O décimo Mandamento também engloba o desapego das riquezas deste mundo, dado que esta é uma condição para entrar na posse da visão beatífica conforme Jesus afirmou: “Bem-aventurados os pobres em espírito porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 5,3).

Verdadeiramente, a pobreza de espírito ensinada por Jesus é radicada na humildade voluntária e na renúncia dos bens temporais conforme nos mostra o Seu exemplo, ressaltado pelo apóstolo: “Sendo rico, se fez pobre por nós” (2 Cor 8,9). Por este motivo, Jesus adverte os ricos a não buscarem na abundância dos bens a sua consolação (cf. Lc 6,24; 12,16-21) e, sobretudo, convida a todos ao abandono na Providência do Pai que nos liberta da preocupação
com o dia de amanhã (cf. Mt 6,25-34).

Pode-se afirmar, portanto, que a “confiança” em Deus é a virtude base para a observância do décimo Mandamento que consiste “em não cobiçar as coisas alheias”. E quando esta virtude é fortificada pela graça do alto, capacita o homem a mortificar as concupiscências e a superar as seduções do ter e do poder. Com efeito, Nossa Senhora em Fátima, ao revelar o Seu Imaculado Coração ultrajado pelos pecados da humanidade, mostrou que o apelo à prática do décimo Mandamento se traduz numa reparação das más intenções alimentadas nos corações dos homens.

Neste sentido, Irmã Lúcia (2007) evidencia que este Mandamento e todos os outros se encerram no amor, porque “Deus é amor” (1 Jo 4,8). Recorda que, quando transgredimos as suas leis, deixamos de amar a Deus e abrimos uma lacuna no amor, porque todo pecado é um rompimento com o Amor, motivo pelo qual Nossa Senhora terminou a série de suas palavras em Fátima evocando a consideração ao Amor, dizendo com tristeza: “Não ofendais mais a
Deus Nosso Senhor, que já está muito ofendido.” (LUCIA, 2015, p. 181).

A Mensagem de Fátima é, portanto, um apelo a amar a Deus pela prática dos Mandamentos que foram resumidos por Jesus no amor a Deus e ao próximo (cf. Mt 22,36-40). É uma chamada de atenção a compreender que o verdadeiro amor ensinado e vivenciado por Jesus exige sacrifício e renúncia (cf. Jo 13,34). Convida-nos a centrar a vida no cerne da halacá judaica: “Ouve, ó Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás o Senhor,
teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças. Os mandamentos que hoje te dou serão gravados no teu coração” (Dt 6,4-6). A esse respeito a palavra halacá vem do hebraico e pode ser traduzida como ‘viagem’ ou ‘caminho’. A halachá indica, pois, qual deve ser o caminho certo a seguir para levar uma vida de acordo com os preceitos da Lei de Deus.

Em suma, pode-se afirmar que a observância dos dez Mandamentos redunda sempre em glória para Deus e em graças para nós e para o próximo e, em contrapartida, a transgressão de qualquer um afeta não a Deus, porque é o Sumo Bem, mas a toda Sua obra criada. A Irmã Lúcia (2007, p. 259) se refere ao conjunto dos Mandamentos como os mais indispensáveis protetores do gênero humano ao afirmar: “Os Mandamentos são os nossos melhores
guardiões, a melhor defesa da vida humana. Se todos cumprissem os preceitos divinos, não haveria agressores, ladrões, adúlteros, idólatras, nem inimigos de espécie alguma”.

Apressemo-nos, portanto, em progredir na prática dos dez Mandamentos, como expressão de nossa correspondência ao amor de Deus, que deste modo expressou a Sua forma de nos amar e de nos preservar do pecado. Este será o tema da catequese que acontecerá na Devoção Reparadora dos Cinco Primeiros Sábados no próximo dia 04 de setembro de 2021 com início às 10h na Paróquia de Santo Antônio em Cachoeira Paulista-SP. Convidamos você a participar deste momento mariano que, além de presencial, será transmitido pelo Instagram: @devocaoreparadora e pelo
Facebook da Paróquia.

Assim, a Virgem Maria nos ajudará como Mãe solícita a encarnar os Mandamentos da Lei de Deus que se traduzem numa verdadeira reparação mediante as indiferenças ao Seu amor, vistas de modo tão explícito no mundo hodierno. Assim, apressaremos o triunfo do Seu Imaculado Coração que é o supremo ícone da graça e da misericórdia de Deus.

Aurea Maria,
Comunidade Canção Nova

 

REFERÊNCIAS

BÍBLIA de Jerusalém. Tradução de Euclides

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