Uma das coisas que aprendi com o padre Jonas foi que um dos frutos mais claros de um verdadeiro encontro pessoal com Jesus é a vontade de evangelizar. Essa vontade que brota da experiência que fizemos com o amor e a misericórdia de Deus e que nos leva a querer sair por aí testemunhando aquilo que vivemos, a fim de que Jesus se torne cada vez mais conhecido e amado.
Para alguns, essa vontade, esse chamado é tão forte, que, assim como os discípulos, largamos tudo – nossos barcos, redes, família, trabalho e até relacionamentos – para nos dedicarmos a esse anúncio, assim como eu fiz, e nos tornamos missionários.
Porém, mesmo se você não é chamado a uma vocação específica como a minha e a de muitos outros na Igreja, você é chamado a ser missionário na sua realidade de vida. O mandato de Jesus é esse: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15), e isso vale para todo cristão, inclusive você.
É preciso levar a experiência de amor e misericórdia que eu e você tivemos às outras pessoas! Como dizemos na Canção Nova: “Anunciar Jesus Cristo vivo e vivido, ou seja, um anúncio que é fruto da vivência pessoal”. E nós não conseguimos fazer com que isso se torne realidade sentados confortavelmente no sofá da nossa casa. É preciso sair! Mas sair para onde?
Em primeiro lugar, temos de sair de nós mesmos, do nosso comodismo, do egoísmo, dos medos e receios, das dúvidas e também do centro de nossas vidas para que Jesus seja o centro e, através d’Ele, através do Seu olhar, possamos enxergar o outro, como o próprio Jesus o vê. Enxergar é perceber, fazer notar, prestar atenção, importar-se com as dores, as necessidades, as lutas e as dificuldades do outro.
E, em segundo lugar, de maneira mais concreta, é sair do lugar físico em que estamos para ajudar, para fazer alguma coisa a respeito. E se você não sabe por onde deve começar, então é só se lembrar das obras de misericórdia, que são meios muito simples e concretos de ir ao encontro do outro e levar essa experiência de misericórdia.
Obras de misericórdia corporais:
- Dar de comer a que tem fome
- Dar de beber a quem tem sede
- Dar pousada aos peregrinos
- Vestir os nus
- Visitar os enfermos
- Visitar os presos
- Enterrar os mortos
Obras de misericórdia espirituais:
- Ensinar os ignorantes
- Dar bom conselho
- Corrigir os que erram
- Perdoar as injúrias
- Consolar os tristes
- Sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo
- Rezar a Deus por vivos e defuntos
Como nos diz São Tiago em sua carta: “A fé, sem as obras, é morta (Tg 2,26)”, portanto, de muito pouco adianta ficar só no primeiro passo sem que isso se reflita em uma atitude concreta. Vale lembrar também da parábola do Bom Samaritano (Lc 10, 25-37), ao olharmos para a atitude do sacerdote e do levita que passaram pelo homem ferido primeiro e seguiram seu caminho. Por serem homens que buscavam ter uma experiência com Deus, esperava-se uma atitude de amor e acolhida que refletisse aquilo que almejavam viver interiormente. Depois, temos a atitude do samaritano que acolheu aquele homem ferido em sua miséria.
Não sabemos o que se passou na cabeça do sacerdote e do levita, nem porque não ajudaram. Talvez ficaram pensando se não seria uma armadilha dos bandidos, e se parassem estariam correndo risco, se estavam com pressa ou qualquer outro motivo. Por vezes, também temos os nossos motivos.
A questão é que sair de nós ao encontro do outro de fato não é confortável, e nos expõe a certos riscos. Risco de ser mal interpretado, risco de não ser acolhido, de ser ridicularizado. Porém, é a natureza do amor, pois aquele que ama se expõe, abre-se para acolher, e por isso torna-se frágil e vulnerável. Corre o risco de ser ferido, magoado, desapontado, como Cristo foi ferido na cruz por amor a nós.
Porém, mesmo diante desses riscos, cito o que o Papa Francisco nos chama a viver como Igreja:
“Saiamos, saiamos para oferecer a todos a vida de Jesus Cristo![…]prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. […] Se alguma coisa nos deve santamente inquietar e preocupar a nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força, a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo…”
(Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, nº49)
Padre Jonas já dizia a um bom tempo que somos uma geração “fim de feira”, profundamente feridos e machucados pelo pecado. Por isso precisamos, mais do que nunca, da misericórdia de Deus nas nossas vidas, e Deus conta conosco para sermos esse canal de misericórdia na vida dos nossos irmãos. Ele quer precisar de nós. Assim como disse a Lázaro: “Vem para fora! (Jo 11, 43)”, ele diz a cada um de nós: “Vem para Fora! Saia de onde você está, das suas seguranças, do conforto, da estabilidade! Vem para o encontro com seus irmãos!”
Como nos diz a música:
Aceita ser o meu rosto?
Aceita ser os meus olhos?
Aceita ser os meus braços?
Para abraçar com misericórdia?
(Música: Encontro com o Crucificado – Canção Nova)
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Matheus Porfírio Cesário
Comunidade Canção Nova