Domingo, o Dia do Senhor
A cada Domingo, a Igreja torna presente, na Sagrada Liturgia, o único Sacrifício de Cristo, adora esta mesma presença e comunga com Cristo e com os irmãos o mesmo Pão da Vida. O Bispo ou Sacerdote que preside a Eucaristia, há de fazê-lo consciente de que age na pessoa de Cristo, exercendo um ministério de síntese da vida de oração e da fé de cada Comunidade celebrante. Assim se constitui e cresce o Corpo Místico de Cristo, chamado depois a exercitar o amor a todos no dia a dia da Igreja!
O Dia do Senhor a ser celebrado neste final de semana oferece imensa riqueza de conteúdo para a nossa fé e a prática da vida de Igreja, ajudando-nos a edificar a cada dia o “caminhar juntos” que a Igreja propõe com o tema da sinodalidade e nossa Arquidiocese, que quer ser uma Igreja de Portas Abertas, para que nossas cidades se encham da alegria genuína, fruto da presença de Cristo (Cf. At 8, 8).
A Liturgia da Palavra do terceiro Domingo Comum começa com a belíssima Assembleia (Ne 8, 2-4a.5-6.8-10) realizada após a descoberta do Livro da Lei, a Aliança de Deus com seu povo. Esdras, o Sacerdote, e Neemias, Governador, estão à frente da multidão. De fato, após as agruras do Exílio, ali se constitui de novo um Povo, reunido em torno da Palavra de Deus: “Na praça que fica defronte da porta das Águas, Esdras fez a leitura do livro, desde o amanhecer até ao meio-dia, na presença dos homens, das mulheres e de todos os que eram capazes de compreender. E todo o povo escutava com atenção a leitura do livro da Lei” (Ne 8, 3). O convite atual é à escuta atenta da Palavra de Deus, que nos faz um só Corpo. Esta Palavra é fonte de alegria: “Este é um dia consagrado ao Senhor, vosso Deus! Não lamenteis nem choreis” – pois todo o povo chorava ao ouvir as palavras da Lei. E disse-lhes: “Ide para vossas casas e comei carnes gordas, tomai bebidas doces e reparti com aqueles que nada prepararam, pois este dia é santo para o nosso Senhor. Não é dia de luto, pois a alegria do Senhor será a vossa força” (Ne 3, 9-10). “Assim chegaremos a oferecer a nossas cidades e a nosso tempo um dom precioso! Que estas cidades de encham de alegria” (At 8, 8) com o testemunho de unidade do Povo de Deus. Os que estão longe ou se afastaram serão atraídos, ao perceber que nós nos amamos efetivamente como irmãos. Em torno da Igreja viva, seja superada a tristeza e a maldade!
Como a lei da fé e a lei da oração se confirmam, a Igreja nos propõe o texto do Apóstolo São Paulo aos Coríntios (1 Cor 12, 12-30) a respeito do Corpo de Cristo que é a Igreja, que muitas vezes cantamos assim: “Nós somos muitos, mas formamos um só corpo, que é o corpo do Senhor, a sua Igreja, pois, todos nós participamos do mesmo pão da unidade, que é o corpo do Senhor, a comunhão”. Na Igreja, todos os membros do Corpo de Cristo são responsáveis uns pelos outros, e somos chamados a ir ao encontro daqueles que mais sofrem: “Os membros do corpo que parecem ser mais fracos são muito mais necessários do que se pensa” (1 Cor 12, 22). O apelo à unidade se reforça aqui e se estende no convite a que todos os irmãos e irmãs redescubram aos dons recebidos e os transformem em contribuição efetiva na edificação da Igreja. A palavra a ser compreendida e praticada é corresponsabilidade!
Entretanto, todos nós sabemos que as forças humanas são limitadas. A graça vem do alto, para sustentar-nos em tarefa tão exigente. Por isso, é hora de contemplar o plano de Deus, realizado quando seu Filho amado vem ao mundo e apresenta seu programa de atuação! Estamos na Sinagoga de Nazaré (Lc 1, 1-4; 4,14-21), acompanhando atentos a descrição acurada feita por São Lucas, para que também nossa época comprove a solidez dos ensinamentos recebidos (Cf. Lc 1, 4). Com incrível solenidade, Jesus toma o livro do profeta Isaías e proclama a atualidade da profecia, ali realizada: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa-Nova” (Lc 4, 18). Sabemos que o mesmo Espírito Santo nos conduz, e é bom lembrar o Rito do Sacramento da Crisma, quando recebemos a unção e a imposição das mãos: “Recebe por este sinal o dom do Espírito Santo”.
Esta unção se espalha na Igreja, transformando-se em missão, com a qual desejamos, conduzidos justamente pelo Espírito, alcançar a todos. Nossa tarefa é anunciar a Boa-Nova. A Boa Notícia do Evangelho serve para todos e transforma a vida de toda a humanidade. Acolhê-la cada dia como novidade em nossa própria vida poderá dar-nos as forças para comunicá-la.
A Boa-Nova há de chegar aos pobres. Cabe à nossa Igreja estender seu olhar e seus braços aos que estão mais distantes, aos excluídos. Aliás, este é o sentido da criação de Paróquias e Áreas Missionárias em nossa Arquidiocese. A alegria do Evangelho é para todos e deve vir das periferias para o centro, a fim de contagiar a todos. E as pessoas que estão nas áreas ou ambientes eclesiais mais amadurecidos, indo ao encontro dos mais pobres, experimentarão mais e mais os frutos da ação do Espírito Santo. Haverá sempre uma troca de dons, amor recíproco no único Corpo de Cristo.
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Jesus, ungido pelo Espírito, proclama a libertação dos cativos e dos oprimidos. Nossa fé cristã contribui para a liberdade e a realização das pessoas, em todos os sentidos. Aos cegos de todo tipo é anunciada a recuperação da vista, sinal de que as interpretações fatalistas das enfermidades estavam superadas (Cf. Jo 9, 1-7). A religião não servirá para controlar as pessoas, mas para ampliar seus horizontes, com a gloriosa liberdade dos filhos de Deus.
Enfim, chegou o ano da graça do Senhor, que nunca mais termina! Com a Morte e a Ressurreição de Jesus, no seu Mistério Pascal, tudo se faz novo. Todos responsáveis uns pelos outros, a edificar o Corpo de Cristo que é a Igreja, do qual ele é a cabeça e nós somos os membros.
DOM ALBERTO TAVEIRA CORRÊA
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará