Não tenha medo de alimentar a sua fé pelo uso frequente dos sacramentais. Eles são um meio simples, mas privilegiado de santificarmos cada ato da nossa vida, do menor ao mais importante
Um jovem da pastoral de comunicação passa em frente ao altar antes do início da Santa Missa, para por um instante e curva o corpo em atitude de respeito e devoção. Enquanto isso, um filho molha a ponta do dedo com água benta e faz o Sinal da Cruz na testa da sua mãe acamada. A caminho da igreja, uma mocinha deixa cair o rosário que trazia em seu pulso. Abaixa-se para apanhá-lo e beija-o, como se pedisse desculpas pelo deslize. Do outro lado do mundo, um advogado assoberbado de afazeres percebe que são três da tarde. Ele para por um instante, olha para a imagem de Jesus Misericordioso que está pendurada na parede do seu escritório, faz o Sinal da Cruz e diz: “Jesus, eu confio em vós!” Não muito longe dali, um rapaz segura instintivamente o seu escapulário enquanto fecha os olhos e reza uma Ave-Maria para afugentar uma tentação. De volta à igreja, a Santa Missa acabou e agora uma senhorinha para em frente a uma imagem da Virgem Maria e recita piedosamente três Ave-Marias. Enquanto isso, na sacristia, algumas pessoas apresentam objetos para que o padre os abençoe: crucifixos, imagens de Santo Antônio, São José e São Francisco, água e velas.
O que tudo isso tem em comum?
Cada uma daquelas pessoas se dispôs “para a recepção do principal efeito dos sacramentos” e foram “santificadas as várias circunstâncias das suas vidas”, como nos ensina o Catecismo da Igreja Católica (CIC)1. Para experimentarem isso, as pessoas recorreram aos sacramentais: o altar, a água benta, o rosário, o quadro de Jesus Misericordioso, o Sinal da Cruz, o escapulário, a imagem da Virgem Maria, a bênção sacerdotal. Aquele jovem que segurou o escapulário enquanto rezava não estava tentando se livrar magicamente da tentação, mas usou do sacramental – o escapulário abençoado – porque este objeto, acompanhado da súplica à Virgem Santíssima, ajuda-o a cooperar com a graça que Deus lhe envia para se manter longe do pecado. A água benta não purifica ninguém dos seus pecados e muito menos torna desnecessária a confissão, mas nos liga aos sacramentos do Batismo e da Reconciliação, e por conta disso, se nós a usarmos em nós mesmos com devoção enquanto fazemos um ato de contrição sincero, nossos pecados veniais são perdoados.
Os sacramentais são muito conhecidos e amplamente utilizados por nosso piedoso povo católico, mas nem todos sabem o que exatamente eles são e quais os seus efeitos na vida cristã. O CIC nos diz que eles “são sinais sagrados por meio dos quais, imitando de algum modo os sacramentos, se significam e se obtêm, pela oração da Igreja, efeitos principalmente de ordem espiritual”2. Continua o catecismo explicando que “os sacramentais não conferem a graça do Espírito Santo à maneira dos sacramentos; mas, pela oração da Igreja, preparam para receber a graça e dispõem para cooperar com ela”3. Por meio dos sacramentais, os fiéis bem dispostos têm a possibilidade de santificar “quase todos os acontecimentos da vida por meio da graça divina que deriva do mistério pascal da paixão, morte e ressurreição de Cristo”4.
Além dos sacramentais mais conhecidos, já citados aqui, há muitos outros tipos de sacramentais, que nos cercam e nos ajudam a nunca perder de vista Cristo, que é Caminho, Verdade e Vida:
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Todas as bênçãos de padres ou bispos são consideradas sacramentais, sejam elas destinadas a pessoas ou a objetos de devoção. Da mesma maneira, a bênção de um padre ou bispo após o ato penitencial, na Santa Missa, a aspersão de água benta por um deles ou a bênção sobre a água, sobre velas, cinzas ou sal, por exemplo, são todas ações sacramentais;
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Exorcismos constituem a segunda categoria dos sacramentais. Podem estar presentes em orações, como no tão conhecido Pequeno Exorcismo de São Miguel Arcanjo, ou mesmo “colocados” em outros sacramentais, como a também muito conhecida medalha de São Bento;
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Objetos de devoção abençoados são aqueles aqui já amplamente apresentados – rosários, crucifixos, imagens, água benta etc. Eles representam um papel fundamental na devoção e na vida espiritual de qualquer católico, por isso devem sempre ser tratados com todo respeito e dignidade que merecem.
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Muitos não sabem, mas as rubricas e as orações também são sacramentais, como o ato de inclinar a cabeça à menção do nome de Jesus, ou o Sinal da Cruz. Cada vez que fazemos uma oração ao longo do dia, ou quando nos ajoelhamos diante do Santíssimo Sacramento, ou ainda quando pedimos a bênção de Deus sobre nossos alimentos estamos realizando ações sacramentais, que, pela graça de Deus, preparam e dispõem o nosso coração ao amor de Cristo5.
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Por fim, invocamos as palavras de São João Paulo II, para quem a “genuína descoberta do sentido dos ritos e à sua adequada valorização, as celebrações litúrgicas, sobretudo as sacramentais, serão capazes de exprimir cada vez melhor a verdade plena acerca do nascimento, da vida, do sofrimento e da morte, ajudando a viver essas realidades como participação no mistério pascal de Cristo morto e ressuscitado”6. Não tenha medo de alimentar a sua fé pelo uso frequente dos sacramentais. Eles são um meio simples, mas privilegiado de santificarmos cada ato da nossa vida, do menor ao mais importante.
1 CIC, § 1667.
2 Idem.
3 CIC, § 1670.
4 Idem.
5 Os quatro tipos de sacramento foram traduzidos e adaptados do site católico “Sisters of Carmel (https://www.sistersofcarmel.com/sacramentals.php).
6 JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Evangelium Vitae. Roma, 25 de março de 1995.