Querer o que Deus faz! O abandono de Santa Rita à Providência Divina!

A Providência de Deus continua a reger todas as coisas

Quando a mão de Deus manifesta seu poder tirando de nós um sofrimento, curando uma doença, derrotando nossos inimigos, alcançando-nos uma graça há muito desejada, o ar nos nossos pulmões é insuficiente para proclamarmos quão gratos somos ao Senhor, quão grande são as maravilhas de Deus. Nossos lábios não querem nada além de cantar glórias e vivas e aleluias àquele que fez e faz prodígios em nossa vida. Entretanto, não são poucas as vezes em que a mão de Deus parece pesar sobre nós: cruzes, derrotas, perseguições, doenças, ingratidões, humilhações, fracassos. Míopes que somos, nos custa entender que também nessas situações a Providência de Deus continua a reger todas as coisas. Parece impossível, então, seguir o que ensina São Pedro: “Humilhai-vos, pois, sob a mão poderosa de Deus, e a seu tempo ele vos exaltará. Confiai a Deus vossas preocupações, pois ele se ocupará de vós” (1Pd 5, 6-7).

“A Providência de Deus continua a reger todas as coisas.” | Foto ilustrativa: Wenping Zheng by GettyImages

Muito tempo atrás, antes que Pedro Álvares Cabral chegasse às terras de Vera Cruz, uma mulher bastante simples, filha de pais analfabetos, viveu e morreu buscando seguir esse ensinamento de São Pedro e deixou um legado que há cinco séculos tem ajudado os cristãos a se abandonarem à Divina Providência. Contemplando a vida dessa santa mulher, talvez consigamos identificar, na nossa própria vida, o caminho para querer o que Deus faz, para nos abandonarmos nas mãos de Deus.

Nascida no século XIV, em uma pequena vila em uma região montanhosa da Itália, o sonho da pequena Margherita, ou Rita, como lhe chamavam, era seguir a vida religiosa, ser inteiramente de Deus. Seus pais, contudo, escolheram um marido para ela, seguindo a tradição de então. Obediente, Rita casou-se com Paolo, um homem com forte inclinação à violência, à bebida e à infidelidade. Não era o sonho de Rita, mas ela abandonou-se à Providência Divina, manifestada então pela sabedoria e pela ordem de seus pais. Naqueles dezoito anos em que permaneceu casada, Santa Rita sofreu muito, mas viu ali ser pavimentado o seu caminho de santificação: aprendeu a suportar com paciência e resignação seus sofrimentos e, com doçura, amor e muita oração, viu seu esposo se converter e mudar totalmente de vida. Para Rita, era evidente que seu casamento não havia sido um erro, um acidente, um desastre. Pelo contrário, a santa pôde vislumbrar ali a missão de ser o instrumento para a salvação da alma de seu marido, que pouco tempo depois de sua conversão, foi assassinado, em virtude da herança de desavenças e rixas que havia criado na sua vida velha.

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A dor da perda do marido não ficou só nisso. O pior foi ver seus filhos, já jovens, jurar vingança pela morte de seu pai. Em suas orações, angustiada, Santa Rita dizia a Deus que preferia os seus filhos mortos a vê-los cometer aquele terrível pecado mortal. Eles acabaram adoecendo gravemente e, para grande consolo de sua mãe, perdoaram os assassinos de seu pai antes de morrer. Santa Rita perdeu seu esposo e seus filhos, mas ainda assim, abraçou a vontade de Deus, humilhou-se sob a mão poderosa de Deus, confiou a Ele suas preocupações, confiante de que Ele se ocuparia dela.
Uma vez sozinha, sem marido nem filhos, Rita quis entrar para o convento das irmãs Agostinianas. Num primeiro momento, as irmãs não a aceitaram, porque tinham dúvida a respeito da vocação de Rita, por ter sido casada, e temiam que o assassinato do marido de alguma forma trouxesse parte daquela intriga para o convento. Certa noite, contudo, algo prodigioso aconteceu: enquanto dormia, Rita ouviu uma voz chamando seu nome. Ela abriu a porta e estava, à sua frente, São Francisco, São Nicolau e São João Batista. Eles pediram que ela os seguisse e, após algum tempo, ela caiu em êxtase e, ao acordar, percebeu-se dentro do Mosteiro, que tinha as portas fechadas. Vendo esse sinal extraordinário, as freiras não puderam fazer nada além de permitir sua entrada. Ali, Rita viveu quarenta anos e completou seu processo de santificação, cuidado dos doentes, rezando e oferecendo sacrifícios de amor por Cristo, até chegar ao ponto de receber um estigma: um dos espinhos da coroa de Jesus cravou-se em sua cabeça e ela sentiu um pouco da dor de Jesus pelos quinze anos em que aquela ferida permaneceu nela.

Humanamente, Santa Rita tinha tudo para se lamentar do que pareciam infortúnios: não poder seguir a vocação que lhe atraía quando criança, sofrer nas mãos de um marido bêbado e violento, perdê-lo de forma violenta, ver seus filhos morrerem para a peste. Mas o Espírito Santo nunca a deixou enxergar as coisas pelo prisma meramente humano. Olhando para essa grande santa, nós devemos imitá-la em sua fé, em sua força e coragem para se abandonar à Providência Divina. Não importa quão terrível pareça a situação, nada escapa à poderosa mão de Deus, nada acontece sem que Ele permita, e nada Ele permite que não venha para um bem maior para a nossa vida.

Como Santa Rita, confiemos a Deus nossas preocupações, certos de que Ele se ocupará de nós.

Santa Rita de Cássia, rogai por nós!

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