Não se engane, nem se deixe enganar: a vida espiritual só é possível em união com Deus, fonte e sustento de toda santidade
Debruçando-se sobre a espiritualidade de Santa Teresa D’Ávila, vimos, no artigo anterior, a necessidade de ter sempre em mente esta verdade proclamada pela santa: a vida espiritual requer uma determinada determinação para que não desistamos nunca. Em outras palavras, procuramos viver as verdades da Fé, mergulhados na Caridade, sem jamais perder a Esperança.
É uma referência a essa força de vontade inquebrantável para se “conquistar” a vida espiritual que Jesus pronunciou essas palavras em Mt 11,12: “O Reino dos céus deve ser conquistado à força, e são os violentos que o conquistam”. Sempre ressalto: os violentos consigo mesmo! Aqueles que combatem em si, com violência, os vícios e as manias, mas permanecem mansos e caridosos com todas as outras pessoas do seu convívio.
Onde, no entanto, eu aplico essa força de vontade para crescer na vida espiritual? Santa Teresa nos diz: “tanto quanto eu posso entender, a porta para entrar neste castelo é a oração e reflexão” (Castelo Interior 1M 1,7). Trataremos da oração a seu tempo, pois a reflexão é o tema deste artigo.
De que reflexão fala a santa? Não são, certamente, considerações sobre as coisas do dia a dia, o mundo e os boletos a pagar. Teresa de Jesus chama a atenção para a necessidade da autorreflexão sobre quem somos, de onde viemos, para onde pretendemos ir e, no relacionamento espiritual, quem é este Deus com quem tratamos? Qual o tamanho da sua majestade e misericórdia?
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Por isso o título que propus para este artigo (nossa reflexão) é “examinar-se com cuidado”. Falando de vida espiritual: Quem sou? Como estou? Com quem me relaciono? Como me relaciono? O que e como esta relação com Deus reflete e influi no meu dia a dia? Ou não influi nada?
O primeiro exame fundamental, segundo a tradição da Igreja, todos os teólogos e a própria santa doutora é: estou em estado de graça ou estou em pecado mortal?
Não se engane nem se deixe enganar: a vida espiritual só é possível em união com Deus, fonte e sustento de toda santidade. O pecado mortal rompe com a graça santificante, nosso vínculo de santificação com Deus, e passamos a viver uma aparência de vida, não a verdadeira vida.
Segundo Santa Teresa D’Ávila, quem está em pecado mortal,
“Nenhuma coisa se lhe aproveita; e daqui vem que todas as boas obras que fizer, estando assim em pecado mortal, são de nenhum fruto para alcançar a glória; porque, não procedendo daquele princípio que é Deus, do qual vem a nossa verdadeira virtude, e apartando-nos d’Ele, não pode ser agradável a Seus olhos; porque, enfim, o intento de quem faz um pecado mortal, não é contentar a Deus, senão dar prazer ao demônio […]” (Castelo 1M 2,1).
Cumpre a nós, então, refletir e examinar-nos com bastante cuidado sobre a presença do pecado em nossa vida. Depois, combater incessantemente o pecado mortal com os sacramentos! O sacramento da Reconciliação ou Confissão restaura em nossa alma a graça perdida, o vínculo com Deus; o sacramento da Eucaristia fortalece-nos para o combate espiritual e alimenta a graça santificante.
No próximo artigo, em comemoração ao dia de Santa Teresa de Jesus, vamos refletir sobre o grande edifício espiritual construído a partir das bases que a doutora da Igreja construiu.