SÉRIE

Santa Teresa e a oração

Santa Teresa D’Ávila foi reconhecida como mestra da oração pela sua vida orante e pela sua disposição em ensinar os cristãos a se enveredarem pelos caminhos da intimidade com Deus. Intimidade esta que, fique bem claro, só pode ser alcançada pela oração.

Recapitulamos, neste artigo, a estrutura apresentada em “Livro da vida” e aperfeiçoada em Caminho de Perfeição e “Livro das Moradas ou Castelo Interior”, três obras da doutora da Igreja.

Como vimos no artigo anterior, a alma de cada ser humano é também lugar da habitação de Deus. Sem o quarto modo de habitação, como descreve São Tomás de Aquino, ou seja, a graça santificante, esta alma é uma terra seca e estéril.

A Igreja nos exorta a não deixar que isso aconteça, e Santa Teresa declara que a alma habitada pela graça, isto é, vivificada pelo Espírito Santo, torna-se um verdadeiro jardim de delícias para Deus. A água do Espírito provê este jardim, dá-lhe vida em abundância. E qual seria a maneira de se obter esta “água viva”? A oração.

Para a santa de Ávila, o primeiro modo de se obter essa água é a oração vocal. O que seria isso? Oração vocal é qualquer modo de se comunicar com Deus utilizando palavras. O “Pai-Nosso”, a “Ave-Maria” e outras orações pessoais e litúrgicas são orações vocais. Também qualquer conversa espontânea com Deus pode ser considerada oração vocal.

Na busca da água para regar o jardim da nossa alma, Santa Teresa compara essa oração como tirar água do fundo de um poço: é difícil, cansa, as distrações nos atrapalham e, muitas vezes, após alguns minutos de esforço, percebemos que pode não existir água neste poço. Mas não existe outro modo de começar e aquele que não se dedica a esta prática nunca crescerá espiritualmente.

Leia os outros artigos desta série: 

:: Com determinada determinação
:: Examinar-se com cuidado
::Um mapa para a vida espiritual 
:: O Castelo Interior

A insistência e a perseverança, junto com uma pequena ajuda, é a solução para se avançar. Passamos para o segundo modo de buscar água no poço: aquela que se apoia em roldanas e uma estrutura de cordas (a Santa fala de “nora” e “alcatruzes”, próprias de seu tempo). Em suma, na oração, para buscar essa “água viva”, podemos contar com a ajuda da leitura de um bom livro de meditações, vida dos santos ou, o melhor de todos, a Santa Bíblia. Surge o segundo modo de oração: a oração mental.

Pensar em Deus, refletir sobre suas obras, sua bondade, lembrar dos benefícios e cuidados que recebemos, tudo isso é oração. Também conhecida como oração de meditação, essa reflexão sobre a Palavra e tudo o mais ligado à religião faz com que a água do poço se torne muito mais alta. E um poço mais cheio de água provê maior facilidade em  utilizá-la para regar o jardim da nossa alma.

Com tempo e dedicação, Deus mesmo abre um novo caminho para a oração. Na comparação feita por Santa Teresa, é como se o jardim fosse alimentado por uma série de canais de irrigação, ligados diretamente a um regato ou riacho. Mais rápido, mais completo, mais eficiente, a água do Espírito Santo rapidamente invade a alma revelando novos campos, novos sentidos, um interior dilatado. Esta é a oração afetiva.

Embora exista o esforço pessoal de construir esse caminho de intimidade com Deus a partir dos dois primeiros modos de oração; a perseverança e constância em manter Deus sempre em primeiro lugar (recorde-se do artigo “Com determinada determinação”), essa oração não deixa de ter também um cunho sobrenatural. Teologicamente falando, estamos na transição entre oração e contemplação, e no início da plena atuação do Espírito Santo.

Finalmente, o modo mais perfeito de oração ou quarto modo: a contemplação. Santa Teresa D’Ávila mostra aqui que existe um modo perfeitíssimo de se regar o jardim da alma com a água viva do Espírito Santo, e esse modo só pode ser provido por Deus: a chuva. Quem tem jardim sabe que uma leve chuvinha faz a maior diferença e produz mais efeitos nas plantas do que alguns meses de irrigação “via mangueira”. Com a alma também é assim!

A oração contemplativa é dom puro de Deus, mas nossa mestra e doutora faz um alerta bem claro: não se engane, Deus não a dá para quem não se esforça em viver os graus anteriores.

Para aqueles que quiserem se aprofundar em todos os detalhes sobre a oração, desde seus princípios até como viver na prática cada um de seus graus e se preparar para receber esse maravilhoso presente da oração contemplativa, eu recomendo a leitura de “A oração segundo os doutores da Igreja”. Neste livro, tratei em detalhes o que, nestes artigos, não puderam ser mais do que pinceladas da genialidade desta fantástica doutora da Igreja e daqueles que continuaram sua obra: São João da Cruz, Santa Teresinha do Menino Jesus etc.

Com você, quero dizer: Santa Teresa D’Ávila, rogai por nós e levai-nos a viver em intimidade com Deus, isto é, em perfeita e constante oração!

 

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