Cada elemento artístico e litúrgico do Santuário forma um só corpo, uma linguagem única, cheia de unção e significado, sem deixar de ser simples e discreta, de nobre beleza. Predomina o uso de tons claros, madeiras, pedras e alguns detalhes dourados. O dourado foi escolhido não apenas para representar a realeza de Deus, como também a própria história da construção do Santuário por meio da doação de ouro de milhares de pessoas.
Corredor Central e Pia Batismal
O corredor central é marrom e áspero: significa o caminho que todos nós percorremos até chegarmos ao altar, lugar do banquete e do encontro. Ao seu lado direito encontra-se a Pia Batismal. A Pia Batismal tem um sentido muito especial, pois o Batismo é o primeiro sacramento do cristão. Na oração do Batismo, o sacerdote clama o sopro do Espírito Santo, a fim de que da água surjam filhos de Deus que reflitam a bondade paterna, que sejam discípulos fiéis de Jesus, testemunhas do Evangelho e que ressoem a voz do Espírito. No Batismo morremos com Cristo para que, também com Ele, possamos renascer para vida nova. Por isso, a Pia Batismal tem o formato octagonal, que remete ao oitavo dia, o dia da ressurreição de Cristo.
Ao seu lado esquerdo encontra-se a Nossa Senhora Pietá, a Virgem das Dores. Esta foi uma inspiração do próprio Monsenhor Jonas Abib. Um dia após a Cruz do Santuário ser instalada no dia da Exaltação da Santa Cruz, sem que ninguém tivesse planejado, é o dia de Nossa Senhora das Dores, 15 de setembro. O Monsenhor viu nisto um grande sinal: no Santuário, deveria ter a imagem da Pietá. Desta forma, ao percorrermos este caminho, encontramo-nos também com a Mãe da Misericórdia, Maria que nos toma em seus braços, feridos pelo pecado, assim como tomou seu filho Jesus.
Ambão e altar
Dando continuidade neste caminho, precisamos subir, nos elevar. Encontramos o ambão da Palavra, que está um pouco à frente do alinhamento do altar. Cronologicamente, primeiro a liturgia nos leva a ouvirmos o Cristo, Profeta, por meio da Palavra de Deus; e depois ela nos leva ao altar. Na sequência, encontra-se o altar, localizado de forma que privilegie a visão de todos da assembléia. Aparenta ser um bloco de rocha: simboliza a rocha onde acontece o sacrifício do Cordeiro Imolado, que, na Nova Aliança, é o próprio Cristo Jesus: “Pois em virtude do Espírito eterno, Cristo se ofereceu a si mesmo a Deus como vítima sem mancha”(Heb 9,14b). O altar também possui um leve transpasse na sua face frontal, que remete a um abraço, pois Cristo abraçou o seu sacrifício em obediência ao Pai e por amor à humanidade. Mais à frente, a cadeira do sacerdote celebrante, também confeccionado no mesmo tipo de mármore, que tem o sentido do Cristo Rei.
Sacrário
No centro encontra-se o sacrário, que significa a verdadeira Videira. O sacrário possui doze ramos: cada um simboliza os doze apóstolos. Cada ramo é único e possui folhas e frutos, iluminado pela luz que provém da videira. O sacrário simboliza o convite e a promessa que Jesus faz a cada um: “Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5).
Mosaico
Dando continuidade, inicia-se o mosaico, a principal peça artística do Santuário.
“Ninguém jamais viu a Deus; quem nos revelou Deus foi o Filho único, que está junto ao Pai”, disse São João em Jo 1, 18a. Portanto, não há como representar o rosto do Pai, pois ninguém jamais o viu. Mas pode-se representá-lo a partir da revelação que Cristo nos fez. Após um longo estudo, escolhemos a Parábola do Filho Pródigo ( Lucas 15,11-32) pois além de ser uma parábola riquíssima de detalhes, expressa a misericórdia do Pai de uma forma muito profunda.
O Mosaico possui a arte elaborada pela Irmã Patrícia de Souza, que narra o momento do encontro entre o pai e o filho. O filho, ao cair em si mesmo, enfim retorna à casa do Pai. Ele ajoelha-se aos pés do Pai, arrependido, em posição de pedido de perdão. O pai, que o esperava todos os dias, cheio de amor e de misericórdia, o abraça e o perdoa. Veja como Lucas descreve este encontro: “Então se levantou, e foi ao encontro do pai. Quando ainda estava longe, o pai o avistou, e teve compaixão. Saiu correndo, o abraçou, e o cobriu de beijos.” (Lc 15,20) É o momento que o Pai tanto esperou, como espera a cada um de nós.
O pai e o filho, antes mesmo de se abraçarem, se encontram com o olhar, um olhar que dizia tudo. O filho arrependido e o pai, imensamente feliz pelo seu retorno, sorri para ele de forma afetuosa e discreta. O filho está descalço, com vestes sujas e rasgadas, que significam o pecado e as aflições da vida. A predominância da cor marrom de sua veste remete à miséria de seu interior, que também é a de cada um de nós. Ele traz à cintura um cordão com cores vermelhas, assim como o manto do pai, pois mesmo afastado em uma vida de pecado, ele não perdeu sua identidade de filho! Isto é belíssimo! Suas vestes estão tão rasgadas que, uma parte de seu ombro direito estava descoberto, o que significa que ele perdeu sua dignidade, mas encontrou-se consigo mesmo e aceitou seus próprios limites. O pai imediatamente, ao abraçá-lo, inclina-se, cobre sua nudez com o seu manto e o ergue, o tira do chão.
O pai possui vestes lindíssimas, com muitos detalhes dourados. Seu manto é vermelho e sua túnica azul. Estas cores remetem à Jesus em sua união hipostática, ou seja, a forma como Deus e a humanidade estão unidos em Jesus. Foi em Jesus que o Pai revelou seu amor, por meio de uma nova aliança, também simbolizada pela aliança na mão esquerda do pai.
O entorno da figura do pai e do filho é composto de formas, cada qual com o seu significado. O caminho, que se inicia próximo ao sacrário, a Videira que é Cristo, não simboliza apenas o caminho de retorno do Filho, como também o caminho de conversão que cada um de nós deve trilhar, um caminho ascendente, no qual, à medida que nos encontramos com o Pai, vai se transfigurando em céu. Neste caminho, encontra-se uma estrela, que simboliza a Virgem Maria, porta do céu e estrela da nova evangelização.
A tenda representa a passagem de Êxodo 33,7-11, no qual Moisés sai do acampamento para ir até à tenda do encontro para conversar com Deus, além de fazer referência aos acampamentos de oração da Canção Nova. Em meio a este movimento de formas e cores, alguns traços formam a mandorla, uma forma muito utilizada pela iconografia oriental. Para unir e permear este encontro, está o Espírito Santo, discreto, mas abrangente. É ele quem impele o filho à voltar ao pai, e que envolve o encontro.
Vitrais
Além do mosaico, nas laterais encontram-se os vitrais, elementos importantíssimos na arquitetura religiosa e largamente utilizados desde o período gótico. Os Vitrais do Santuário estão em conformidade com o Mosaico, com formas orgânicas e simples, sempre enfatizando a verticalidade e o caminho de ascensão ao céu. São coloridos e formam belos efeitos de luz, que é uma forte expressão de Deus, pois Ele é a luz “em vós está a fonte da vida, e é na vossa luz que vemos a luz.” (Sl 35,10)
Podemos constatar que o Santuário do Pai das Misericórdias é uma obra de Deus, de iniciativa d’Ele e tem por vocação seguir o exemplo de Cristo, que é o “tabernáculo mais excelente e mais perfeito, não construído por mãos humanas.” (Heb 9,11).
Maria Eduarda Vieira
Comunidade Canção Nova