Domus Dei | A casa de Deus

“Para mim um dia nos teus átrios vale mais que mil em outro lugar; estar na porta da casa do meu Deus é melhor que morar nas tendas dos ímpios” (Salmo 84,11).

Algo que chamou a minha atenção no tempo de estudos de teologia, de maneira especial na área de liturgia, foi a importância de conhecer e refletir sobre o espaço sagrado para a celebração dos sacramentos. Por isso, neste pequeno artigo, quero partilhar com você um pouco deste conhecimento que adquiri.

Nós, no Brasil, temos a alegria de ter uma padroeira e um Santuário dedicado a ela. Penso que muitos já tiveram a oportunidade de ir ao Santuário Nacional de Aparecida, inclusive eu quando fui pela primeira vez quis conhecer cada canto daquele lugar, infelizmente, não tinha a dimensão de toda a reflexão teológica existente naquele lindo Santuário, desde o piso até os pequenos cortes de cerâmicas colocadas na parede.

Já como estudante de teologia tive a graça de retornar à Aparecida e fazer uma visita monitorada dada por uma guia especializada na arquitetura e simbologia do Santuário Nacional de Aparecida. Esta guia me fez enxergar, além das aparências, todos os detalhes teológicos e simbólicos dos pontos de peregrinação do Santuário. Percebi que detalhes preciosos passam despercebidos se não tem esta formação.

Com isso, entendi que o espaço sagrado, tanto para celebração dos sacramentos, quanto para oração, precisa ser pensado de maneira a levar os fiéis a experimentarem o Sagrado, pois nas Igrejas “a disposição dos espaços e dos elementos não deve somente estar a serviço das necessidades ‘logísticas’ da assembleia e da celebração, oferecendo-lhes um lugar determinado; deve também desempenhar outra função: exprimir o próprio mistério da assembleia celebrante” (Matias AUGÉ, Liturgia, São Paulo, 1998, p. 87).

Assim, fica claro que para pensar em um espaço sagrado, além de levar em conta um lugar para melhor receber o povo, precisa-se refletir no mistério que ali se vai celebrar. As nossas Igrejas e comunidades (capelas) não podem ser tiradas do acaso, sem uma busca de ‘significação’, ou seja, sem um espírito litúrgico. A amplitude do espaço é, de fato, um aspecto importante, tanto para a disciplina e organização da assembleia, como para a presidência.

No Antigo Testamento vemos que o rei Davi desejou construir uma casa para Deus e um lugar para colocar a arca da aliança, pois a mesma ainda estava sem lugar definitivo. Davi, no entanto, não conseguiu realizar este sonho que ficou ao encargo de seu filho Salomão.

Nos livros de Reis e Crônicas podemos constatar como se deu a construção deste templo: os materiais usados, a força dos trabalhadores e as doações que chegavam para ajudar a levantar o edifício dedicado a Deus. Quando, enfim, foi encerrado o trabalho, houve a inauguração solene e Salomão dirigiu de dentro do templo uma oração bela: “Teus olhos estejam abertos, dia e noite, sobre esta casa, sobre este lugar, no qual pusestes teu nome, para escutares a oração que teu servo te dirige voltado para este lugar” (2 Crônicas 6, 20).

Assim como aconteceu na construção do templo de Jerusalém, aqui na Canção Nova foi construído e dedicado um Santuário ao Pai das Misericórdias. Este projeto foi empreendido com a doação de pessoas generosas que não doaram somente ouro ou outro objeto de valor, mas doaram a história que existe por trás de cada peça.

Percebemos que este é um aspecto importante de um lugar que não foi construído por acaso ou do nada, mas com histórias. Desta forma, as pessoas que por aqui passarem vão experimentar o amor e a misericórdia de Deus que permeia também as suas vidas. Mesmo não sabendo de todas as histórias, tocarão na graça de nosso Pai do Céu. Aqui chegando poderão invisivelmente tocar na “teologia da história” que construiu e ainda constrói a casa do Pai das Misericórdias.

Uélisson Santos
Comunidade Canção Nova

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