Setembro é o mês dedicado à prevenção do suicídio (Setembro Amarelo). Nesse artigo, uma breve reflexão do poder salvífico de uma obra de misericórdia espiritual: consolar os tristes. Em um abraço fraterno pode estar o resgate de uma vida.
Refletir sobre a misericórdia é fundamental nesse momento, em razão de sua importância na prevenção de um grave fenômeno que atualmente atinge adolescentes e jovens no Brasil: o suicídio. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio é “o ato voluntário de matar a própria vida, usando para isso um meio que a pessoa acredita que será letal”.
Os números de suicídio são alarmantes: um milhão de pessoas se matam por ano no mundo, quarenta pessoas se matam por dia no Brasil. O suicídio é a segunda causa de morte entre adolescentes e jovens no Brasil, e a tentativa de autoextermínio é a principal causa de emergência psiquiátrica em hospitais gerais.
O suicídio é um fenômeno complexo e multifatorial (provocado por vários fatores que se associam), mas que pode ser prevenido. O primeiro passo é ficarmos atentos aos sinais de risco. Oitenta por cento das pessoas que atentam contra a própria vida dão sinais por meio de falas diretas, como: “eu quero morrer”, “eu vou me matar”, “eu não aguento mais isso”; e de frases indiretas, como: “estou pensando em fazer uma grande besteira”, “se isso acontecer de novo, eu acabo com tudo”, acompanhadas de mudanças de atitudes, por exemplo: comportamento retraído, mudança na aparência (negligência ou desleixo aos cuidados pessoais), isolamento, olhar distante, queda no rendimento escolar, preocupação com temas
relacionados à morte, mudança de humor, irritabilidade, pessimismo, apatia. É importante avaliar os riscos.
O segundo passo é conversar e ouvir a pessoa com amor, com carinho e com afeto, sem julgar, sem condenar. Dor não se compara. Nesse passo, é muito importante ser “acolhedor”, ser capaz de acolher a dor do outro. O terceiro passo é não ficar indiferente ou paralisado, ou seja, incentive a pessoa a buscar ajuda ou mesmo conduza-a a um serviço de saúde mental (como grupos de apoio), ou a um profissional de saúde mental, como psicólogo e/ou psiquiatra. Entretanto, nunca deixe de rezar e interceder ao Senhor por aquela pessoa.
Acolher o outro e sua dor com um abraço silencioso pode salvar o acolhido e o acolhedor. E é a misericórdia que nos leva, como pessoas e como Igreja, a sermos acolhedores e anunciadores da graça, baseada numa teologia da ternura, que leve de fato à prática da misericórdia.
É importante que os jovens não tenham medo; pelo contrário, tenham a coragem de viver a ternura. É essa amorosidade que ajuda na prevenção ao suicídio, que cria vínculo e dá noção de pertencimento, que os faz serem solidários às “misérias” do outro, e os torna verdadeiramente misericordiosos.
Que o jovem beato Carlo Acutis interceda para que os jovens possam descobrir que a misericórdia é o outro nome da compaixão, da ternura, do cuidado, do acolhimento. A misericórdia é o outro nome do Amor. Lembrando o que disse Jesus: “ Quem me acolhe, acolhe não a mim, mas Àquele que me enviou (Mc 9,37).
Pe. Licio de Araújo Vale
Padre diocesano incardinado na Diocese de São Miguel Paulista- SP.
Suicidólogo, CEO do Instituto Influir e é membro da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção ao Suicídio (ABEPS)