TESTEMUNHAS DO RESSUCITADO

Tempo Pascal: tempo de encontro, anúncio e esperança

Testemunhas do Ressuscitado

Com a graça de Deus, a Igreja viveu o Tempo de Quaresma. Tempo forte de conversão, de revisão de vida, de retomada dos bons propósitos. Sem dúvida, um grande retiro espiritual que nos conduziu a viver intensamente a Semana Santa, o Tríduo Pascal e a Páscoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. Importante ressaltar que a Liturgia da Igreja, muito mais do que apenas propor uma leitura ou escuta passiva dos textos bíblicos, na verdade nos conduz a viver de forma concreta e encarnada os passos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, adentrando o Tempo Pascal, devemos colher os frutos da caminhada quaresmal. O Tempo Pascal é o tempo da alegria do Ressuscitado em meio a nós e dentro de nós. Por isso, é preciso que cada um de nós expresse, com a vida e o testemunho, a alegria de sermos homens e mulheres novos, ressuscitados em Cristo Jesus. 

“Devemos ser os arautos do Ressuscitado em meio ao mundo envolto na tristeza.” | Foto: Wesley almeida/cancaonova.com

Tempo da manifestação aos discípulos 

“E a eles se manifestou vivo depois de sua Paixão, com muitas provas, aparecendo-lhes durante quarenta dias, e falando das coisas do Reino de Deus.” At 1, 3

O Tempo Pascal é o período de cinquenta dias que corresponde entre a ressurreição de Jesus, a Sua Ascenção ao Céu, e a Solenidade de Pentecostes, o envio do Espírito Santo. Nesse tempo, a Liturgia apresenta os textos bíblicos dos Atos dos Apóstolos e as aparições de Jesus Ressuscitado aos apóstolos por meio dos Evangelhos. A Liturgia, portanto, abre espaço para o anúncio das alegrias do Ressuscitado após o tempo de penitência vivido na Quaresma, esta alegria que tomou o coração dos apóstolos que se encontravam sem rumo após a morte trágica do Mestre na Cruz. O Primeiro ponto que precisamos tomar para a nossa reflexão está aqui: uma alegria que traz esperança em meio à sensação de perda.

Sabemos que os apóstolos se encontravam fechados, escondidos, com medo do que aconteceria a eles, até que  receberam a Boa-Nova trazida por Maria Madalena: “Eu vi o Senhor!” (Lc 20,18). Quando somos tomados pela alegria da ressurreição, não podemos nos conter, porque a experiência com Jesus Ressuscitado impulsiona a anunciar a mesma alegria. Assim foi com Maria Madalena, e da mesma forma devemos ser os arautos do Ressuscitado em meio ao mundo envolto na tristeza.

Por este motivo, Jesus quis se manifestar também aos apóstolos, pois estes estavam ainda envolvidos pela tristeza da perda do Mestre. Não haviam ainda compreendido as palavras que Jesus havia dito sobre a Sua ressurreição. A Liturgia do Tempo Pascal, da mesma forma, nos quer abrir os olhos e o coração para acolher a vida nova que o Senhor nos trouxe com a Sua Ressurreição. E assim como aconteceu com os apóstolos, sermos um sinal vivo da alegria que gera esperança.

Correr ao encontro do Ressuscitado

O segundo ponto, podemos afirmar que somente poderemos ser sinais vivos de alegria e esperança a partir do nosso encontro profundo com Jesus Ressuscitado. É desejo do Senhor, pois Ele mesmo quis se manifestar aos apóstolos, e a nós também. Mas, ao mesmo tempo, deve haver da nossa parte o desejo de também ir ao encontro do Mestre. Um movimento mútuo que acontece da parte de Nosso Senhor, mas que ao mesmo tempo devemos alimentar em nós.

Não podemos ser portadores de tristezas em nossos corações, porque, graças à Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, fomos libertos da morte, do pecado, da tristeza, e fomos restaurados, ressuscitados na alegria, na vida nova. Somos, portanto, homens e mulheres novos, e esse deve ser o maior motivo de nossa alegria e da nossa esperança.

Corramos, assim como Maria Madalena, a dar esta Boa Notícia a todos. O mundo, infelizmente tomado pela sombra da tristeza, do individualismo e da morte, precisa desta Boa Notícia: “Cristo Ressuscitou!” E nós devemos ser os portadores desta Boa Notícia. Maria Madalena não se conteve e foi correndo anunciar. Muito mais do que com palavras, precisamos ser os arautos desta notícia com nosso testemunho de homens e mulheres ressuscitados. Como discípulos que somos, devemos correr ao encontro de Cristo, assim como o discípulo amado, que correu mais depressa que os outros, porque seu coração ansiava por esse encontro. (Jo 20, 4)

Nosso coração, hoje, precisa correr dessa forma ao encontro do Nosso Amado Senhor. Correr ao encontro do Ressuscitado manifesta a sede que devemos ter por esse encontro. A sede de vida nova, pois não podemos mais nos conformar com a vida velha de morte e de pecado que tínhamos antes. Por Graça de Deus, fomos libertos, não somos mais escravos, pois Cristo, pela sua ressurreição, nos libertou.

Testemunhas do Ressuscitado

A partir do momento do encontro com o Ressuscitado, podemos vislumbrar a mudança na vida daqueles que foram alcançados pelo Mestre. Os Evangelhos nos relatam a experiência da cegueira e “recuperação da vista” dos discípulos de Emaús (Lc 24, 31); a experiência que fez com que Tomé acreditasse e professasse sua fé (Jo 20, 24-28), e a bela narrativa do encontro de Jesus com Pedro (Jo 21, 15-19). Sem dúvidas, nenhum desses foram mais os mesmos após o encontro com Jesus Ressuscitado.

A Liturgia do Tempo Pascal nos conduz da mesma forma, a fim de que também sejamos curados de nossas cegueiras, incredulidade e feridas. Se vivemos a experiência da salvação por meio da Ressurreição de Nosso Senhor, que nos trouxe cura e libertação do pecado e da morte, assim também devemos ser luz e sinais de salvação para aqueles que se encontram nas trevas. E isso acontece pelo anúncio e testemunho.

O Papa Francisco em sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, números 112 e 113, afirma: “A Igreja é enviada por Jesus Cristo como sacramento da salvação oferecida por Deus. […] Esta salvação, que Deus realiza e a Igreja jubilosamente anuncia, é para todos, e Deus criou um caminho para Se unir a cada um dos seres humanos de todos os tempos. Escolheu convocá-los como povo, e não como seres isolados. Ninguém se salva sozinho, isto é, nem como indivíduo isolado, nem por suas próprias forças. […] Jesus não diz aos Apóstolos para formarem um grupo exclusivo, um grupo de elite. Jesus diz: Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos (Mt 28, 19)”.

Este movimento precisa estar claro dentro de nós, porque não podemos guardar para nós a experiência de ressureição. São os frutos que devemos colher e levar à frente. O Papa continua no número 114: “Ser Igreja significa ser povo de Deus, de acordo com o grande projeto de amor do Pai. Isto implica ser o fermento de Deus no meio da humanidade; quer dizer anunciar e levar a salvação de Deus a este nosso mundo, que muitas vezes se sente perdido, necessitado de ter respostas que encorajem, deem esperança e novo vigor para o caminho. A Igreja deve ser o lugar da misericórdia gratuita, onde todos possam sentir-se acolhidos, amados, perdoados e animados a viverem segundo a vida boa do Evangelho.”

Dessa forma, a Liturgia do Tempo Pascal nos conduz. A mesma experiência que os apóstolos experimentaram, assim devemos viver. De homens e mulheres mergulhados na vida velha do pecado, do medo, da insegurança e tristeza, devemos ressuscitar para a vida nova em Cristo Ressuscitado. E movidos pela ação do Espírito Santo derramado em nossos corações, devemos também ser portadores da Boa-Nova para aqueles que ainda não foram alcançados pela mesma alegria. Que Deus nos ajude e nos conduza pela intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria. Amém.

Deus abençoe você.

 

 

 

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