“Chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai.”
Certo dia, Jesus estava se despedindo dos Seus discípulos, visto que se aproximava a hora em que Ele seria entregue nas mãos dos homens para viver Sua Paixão e Morte. Num momento do seu discurso, Ele chama a atenção dos discípulos quanto ao modo como os vê e os considera. No Evangelho de São João 15,15, vemos Jesus que diz: “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor. Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai.”
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Já neste versículo, aparentemente tão simples e poético, Jesus define o que é a amizade para Ele. Amigo é aquele que conhece a vontade do outro, que conhece o outro na profundidade, no secreto e no segredo. De modo mais claro, Ele chama os Seus discípulos de amigos porque eles chegaram ao conhecimento da sua missão, porque eles puderam, por meio de suas palavras e ações, conhecer o Pai. Sendo assim, trazendo para a nossa realidade, podemos afirmar, sem medo, que ser amigo de Jesus significa conhecer a Sua vontade na profundidade, mergulhando em Sua missão redentora, ouvindo-O e prestando atenção em Suas obras, no modo como Ele se colocou neste mundo e na Sua relação com o Pai.
É impossível viver uma relação de amizade na superficialidade ou no egoísmo. Jesus, com a entrega de toda a sua vida em favor dos homens, veio mostrar que nós fomos criados para a profundidade, para o comprometimento recíproco até ao dom de si mesmo. Ele nos aponta o caminho para uma verdadeira amizade, seja com Deus, seja com o próximo, e não somente aponta, mas quer caminhar conosco até ao conhecimento profundo da vontade de Deus para nós.
Vida em abundância
São Francisco de Sales já dizia: “Ama a todos os homens com um grande amor de caridade cristã, mas não traves amizade senão com aquelas pessoas cujo convívio te pode ser proveitoso. E quanto mais perfeitas forem estas relações, tanto mais perfeita será a tua amizade.” Fico pensando no que ele quis dizer com o “ser proveitoso” e percebo que o santo está indo na mesma direção de Jesus em seu Evangelho. Proveitoso aqui é resultado do conhecimento da vontade e dos ensinamentos que geram vida, e vida em abundância. É por isso que o tema deste artigo é imperativo quando salienta a importância de sermos amigos de quem é amigo de Jesus. Não vale a pena abrir-se em profundidade para pessoas que não estão nem aí para a vontade de Deus e para os Seus ensinamentos, que os rejeitam e até mesmo zombam dos que buscam segui-los. Para com eles, vale o amor de caridade citado por São Francisco de Sales. Apenas com os amigos de Jesus vale uma verdadeira amizade, isto é, com os homens e as mulheres de Deus que nos ajudam a chegar mais perto d’Ele, seja pela palavra, seja principalmente pelo exemplo e pela vida diária.
Os amigos de Jesus não são perfeitos, pelo contrário, são pessoas que lutam, todos os dias, contra si e suas más inclinações, contra o mundo e suas tentações, contra o demônio e suas seduções, tudo isso porque conheceram a vontade do seu Senhor e não querem desapontá-lo, mas ficar aos seus pés, para aprender a viver, ouvindo-o falar. É o exemplo de Maria de Bethânia, que foi elogiada por Jesus por ter escolhido a melhor parte, e recompensada, quando lhe ouviu dizer que esta não lhe seria tirada.
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Sejamos, portanto, amigos dos amigos de Jesus, amigos dos santos, amigos da Igreja, amigos daqueles que O conhecem e buscam fazer a Sua vontade, porque entenderam que ela é a melhor coisa que lhes poderia acontecer. Em um mundo tão cheio de egoísmo e tão vazio de verdadeiras amizades, sejamos nós aqueles que farão crescer o número dos amigos de Jesus, daqueles que defendem a Sua vontade, os Seus direitos, que recordam os Seus ensinamentos, não apenas porque os conhecem intelectualmente, mas porque fizeram e fazem, no hoje, experiência com a pessoa d’Ele, com o caminho que Ele mesmo é.