No livro dos Atos dos Apóstolos, temos a narrativa da fase da História da Salvação que se seguiu após a ressurreição de Cristo. Neste contexto, em seu primeiro capítulo, Lucas descreve como Jesus, depois de sua Paixão, mostrou-se vivo aos apóstolos por um período de quarenta dias. Após este período, Lucas narra o episódio da Ascenção de Nosso Senhor Jesus Cristo:
“Então, os que estavam reunidos perguntaram a Jesus: “Senhor, é agora que vais restabelecer o Reino de Israel?”. Jesus respondeu: “Não cabe a vós saber os tempos ou momentos que o Pai determinou com a sua autoridade. Mas recebereis o poder do Espírito Santo que virá sobre vós, para serdes minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra.”
Depois de dizer isto, Jesus foi elevado, à vista deles, e uma nuvem o retirou aos seus olhos. Continuavam olhando para o céu, enquanto Jesus subia. Apresentaram-se a eles então, dois homens vestidos de branco que lhes disseram: “Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que, do meio de vós, foi elevado ao céu, virá assim, do mesmo modo como o vistes partir para o céu” (At 1, 6-11). Segundo o Catecismo da Igreja Católica, Jesus foi elevado ao céu e glorificado, tendo assim, cumprido plenamente sua missão: “Após Sua Ascensão, o desígnio de Deus entrou em sua consumação. Já estamos na “última hora” (Cf CIC 670). Diante dessa certeza, a Igreja deve não só aguardar, mas apressar a Sua volta.
Iluminados pela doutrina da Igreja, pode-se afirmar que o tempo presente é, segundo o Senhor, o tempo do Espírito e do testemunho. É o tempo do Espírito que se manifestou no dia de Pentecostes e é o tempo da manifestação da Igreja: “Mas recebereis o poder do Espírito Santo que virá sobre vós, para serdes minhas testemunhas” (Cf At 1,8). Após Pentecostes o Espírito Santo continua a se manifestar na vida da Igreja. Toda a eficácia da ação evangelizadora da Igreja depende unicamente dele. Segundo a Constituição Dogmática Lumen Gentium(n.6) A igreja é chamada “Jerusalém do alto” e “nossa mãe”. É também descrita como a “esposa imaculada do cordeiro imaculado”.
Como é digno de uma esposa, Jesus, o amado esposo da Igreja, se encantou por ela e, também por ela se entregou para a santificar. Como esposa, a Igreja se une a Cristo por um vínculo indissolúvel, vínculo de amor, submissão e fidelidade que a “alimenta e conserva”. Nesta união com Cristo, a Igreja é purificada e cumulada de bens celestes.
Com esta comparação do amor do esposo pela esposa, compreende-se o amor de Deus e de Cristo por nós com uma linguagem humana. Com essa linguagem, Deus se aproxima da Igreja para lhe testemunhar seu grande amor – mas, sabemos que o amor de Deus ultrapassa toda compreensão humana. Enfim, a Igreja, aguarda e apressa ansiosamente a vinda gloriosa do Cristo ressuscitado, assim como a noiva aguarda a chegada do seu amado: “Fiquemos alegres e contentes, e demos glória a Deus, porque chegou o tempo das núpcias do Cordeiro. Sua esposa já se preparou. Foi-lhe dado vestir-se com linho brilhante e puro. O linho significa as obras justas dos santos.” (Ap 19,78)
A respeito da vinda de Jesus, enquanto a Palavra de Deus não se cumpre: “a Igreja está escondida com Cristo em Deus, até que apareça com seu esposo na glória (Cf. Col. 3, 1-4). E o Espírito se une à Igreja para prepará-la para o noivo que virá em breve: “O Espírito e a Esposa dizem: “Vem” (cf Ap. 22,17)!
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Como na Igreja primitiva, somos conclamados a proclamar o senhorio de Jesus (Cf At 2, 36b), a pregar de cima dos “telhados” que Jesus Cristo é o Senhor, que Ele voltará. Como Igreja temos o dever de atrair o máximo de pessoas para Cristo, com uma evangelização eficaz no intuito de “dar almas para Deus”.
Nesta empreitada, nosso testemunho de vida é primordial. Devemos apressar a Sua vinda com a nossa santidade: “Deste modo, qual não deve ser o vosso empenho numa vida santa e piedosa, enquanto esperais com anseio a vinda do Dia de Deus” (2 Pe 3,11-12). Nossa santidade de vida servirá não apenas para nossa salvação pessoal, mas seremos como “fios condutores” que levam o amor de Deus às pessoas necessitadas de salvação e sedentas do amor de Deus.
Diante desta reflexão, somos levados a pensar que entramos num tempo de expectativa e de vigília, pois a partir da Ascenção, o advento de Cristo na glória é iminente. Este acontecimento escatológico pode acontecer a qualquer momento:
“Aparecerá, então, no céu, o sinal do Filho do Homem. Então todas as tribos da terra baterão no peito e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com grande poder e glória. Ele enviará seus anjos com uma grande trombeta; ao seu toque, os eleitos serão reunidos dos quatro cantos da terra, de uma extremidade do céu à outra. Vigiai, portanto, pois não sabeis em que dia virá o Senhor.” (Cf Mt 24,30-31.42)
Portanto, devemos estar preparados, pois Jesus voltará! E, como Igreja, somos convocados a aguardar e apressar Sua vinda gloriosa.
Referências:
BÍBLIA. Tradução da CNBB. São Paulo, Ed. Canção Nova, 2012.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. 3. ed. Petrópolis: Vozes; São Paulo: Paulinas, Loyola, Ave-Maria, 1993.
PAULO VI. Lumen Gentium, 1964. Disponível em: <http://www.vatican.va/ archive/hist_ councils/ii_vatican_council/documents/vatii_const_19641121_lumen-gentium_po.html>. Acesso em: 29 de mar. de 2021.