BRILHO DA CASTIDADE

A castidade e a graça

“Não pecar contra a castidade”

Viver a castidade está entre os 10 mandamentos da Lei de Deus, que se origina do previsto em Ex 20,14 – “Não cometerás adultério” –, aperfeiçoado por Jesus em Mt 5,27-28: “Todo aquele que olhar para uma mulher com o desejo de possuí-la, já cometeu adultério com ela em seu coração”. Segundo o Catecismo da Igreja Católica, no nº 2336, a Tradição entendeu que o sexto mandamento comportava o conjunto da sexualidade humana, tendo recebido a seguinte fórmula catequética: “Não pecar contra a castidade”.

:: Somos servos da vontade de Deus

Segundo A. Van Den Born, organizador do Dicionário Enciclopédico da Bíblia (1977, p. 255), a castidade era entendida originariamente como uma pureza apenas externa, correspondendo à condição de quem não praticava relações sexuais. Porém, com o passar do tempo, a noção de castidade assumiu também um conteúdo interno, ético, relacionado à noção de retidão em geral (Pr 20,9), de pureza virginal de um povo eleito que se apresenta diante do esposo (2Cor 11,2), relativa à pureza dos pensamentos (Fl 4,8), ao modelo de pureza (1Tim 4,12) e referente a uma conduta casta das mulheres (Ti 2,5, 1Tm 5,2).

Para a Igreja Católica, a castidade é uma virtude moral e significa “a integração correta da sexualidade na pessoa e, com isso, a unidade interior do homem em seu ser corporal e espiritual” (CIC 2337). Ela garante a integridade da pessoa por meio do exercício da liberdade a partir do domínio de si, cuja conduta traz paz ao homem que comanda as suas paixões e age, livre e conscientemente, a partir de suas convicções e não por impulsos internos ou coações externas. Ela também permite a integralidade da doação de si mesmo, o que acontece a partir do domínio de si que gera a amizade tanto entre pessoas do mesmo sexo, como de sexos diferentes, levando a uma comunhão espiritual entre os irmãos (CIC 2337 a 2347).

A decisão

Ainda segundo o Catecismo da Igreja Católica, há diversas formas de castidade de acordo com os diferentes estados de vida: castidade conjugal para os que vivem o matrimônio e castidade por continência para os demais (virgens, celibatários consagrados, noivos, homossexuais etc.). Os atos que ofendem a castidade são: luxúria (desejo desordenado e gozo desregrado do prazer sexual isolado das finalidades de procriação e união); masturbação (excitação voluntária dos órgãos genitais para conseguir um prazer sexual); fornicação (união carnal fora do casamento entre homem e mulher livres); pornografia; prostituição e estupro (penetração à força, com violência, na intimidade sexual de outra pessoa) (CIC 2351 a 2356).

A decisão de viver a castidade é importante. São Tomás de Aquino diz que a castidade “é a virtude por meio da qual o homem domina e regula o desejo sexual de acordo com as exigências da razão. Seu objeto verdadeiro é o prazer sexual que deve ser colocado, desejado, usufruído e regulado de acordo com uma justa ordem (S. Th. II – II, q. 151, a. 1-2). No esquema tomista, a castidade é inserida na virtude da temperança, entendida como valorização equilibrada das diversas tensões, em uma perspectiva global de valores” (G. CAPPELLI, 2003, p. 96).

Decisão é “o ato pelo qual um sujeito humano escolhe realizar ou deixar de praticar uma ação (F. COMPAGNONI, 2003, p. 174). Esse autor entende a decisão como um processo e não como um simples ato. E por ser processo, envolve liberdade, voluntariedade e responsabilidade, e sendo assim, decorre de uma reflexão ética (de acordo com princípios morais). Por sua vez, a liberdade “explica-se pelo nível de autocontrole consciente, de maturidade humana, de generosidade moral e de informação exigida para o ato. Fundamentalmente, a decisão se desenvolve em três momentos sucessivos: reflexão sobre o fim/objetivo que se tem em mira; apropriação do fim como próprio; escolha dos meios para alcançá-lo”.

A humildade

Com certeza, sem decisão não é possível viver a castidade. Você e eu precisamos nos posicionar diante desse mandamento, primeiro crendo que é possível vivê-lo, e, segundo, tomando a decisão de lutar para não cair.

O fim que se tem em mira para viver a castidade foi respondido por Santa Faustina, no seu Diário, no nº 1415, quando ouviu de Nossa Senhora: “Desejo, minha filha caríssima, que te exercites em três virtudes, que me são as mais caras e as mais agradáveis a Deus: a primeira – é a humildade, humildade e mais uma vez humildade; segunda – a pureza; a terceira – o amor de Deus. Como filha minha, deves brilhar de maneira especial com essas virtudes”. E no número 1706 afirma que a delícia de Deus é um coração puro e livre. Deve-se viver a castidade para agradar a Deus.

G. Cappelli, no Dicionário Teológico Enciclopédico (2003, p. 96), também afirma que ao viver a castidade não se está menosprezando nem recusando a sexualidade e o prazer sexual, mas sim reconhecendo, naquela virtude, “uma força interior e espiritual que liberta a sexualidade dos elementos negativos (egoísmo, agressividade, violência), orientando-a para a plenitude do amor autêntico”.

Conscientes da finalidade da castidade e adotando-a como regra de vida, é preciso definir as estratégias para vivenciá-la no cotidiano.

Porém, essa luta pode se tornar desigual porque pode envolver vários fatores: emocionais, psicológicos, comportamentais, mentais, psiquiátricos, orgânicos, os quais muitas vezes não controlamos, mas que podem ser trabalhados e superados com a ajuda de especialistas (psicólogos etc.) e ministeriados da Igreja.

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O Catecismo da Igreja Católica, no nº 2340, informa que: “Aquele que quer permanecer fiel às promessas do Batismo e resistir às tentações se empenhará em usar os meios correspondentes: o conhecimento de si, a prática de uma ascese adaptada às situações em que se encontra, a obediência aos mandamentos divinos, a prática das virtudes morais e fidelidade à oração”.

A virtude

Santo Afonso de Ligório, no livro Glórias de Maria (2021, p. 429-430), afirma que a castidade é a virtude mais difícil de o homem praticar, depois da queda de Adão. Diz que por essa virtude se luta diariamente, mas que raramente se obtém a vitória. Traz o grande modelo de pureza, que é a Virgem Maria, acompanhada, nessa virtude, por São José. E comenta que os adultos se perdem no vício do pecado contra a castidade porque não usam os meios para combatê-lo, quais sejam: jejum (mortificação dos olhos e da gula), fugida das ocasiões e a oração. Relata citando o venerável João D’Ávila, que muitas pessoas venceram esse vício só por meio da invocação a Maria Imaculada.

G. Cappelli (2003, p. 97) afirma que “a castidade como equilíbrio psicossexual exige o domínio de si, a formação do caráter e o espírito de sacrifício. Nessa perspectiva, vigilância, prudência, oração e recurso aos sacramentos constituem as condições necessárias para um amadurecimento cristão da sexualidade”.

Ocorre que não se pode esquecer que a natureza humana foi ferida pelo pecado original em suas próprias forças naturais, ficando privada da santidade e justiça originais e estando submetida à ignorância, ao sofrimento e à morte, com inclinação para o pecado. Essa tendência para o mal chama-se concupiscência. O sacramento do Batismo apaga o pecado original, mas a natureza enfraquecida e com tendência ao mal permanece.

“Precisamos contar também, e muito, com a graça de Deus.” | Foto ilustrativa: cancaonova.com

Porém, a nossa natureza enfraquecida não é nada diante dos desígnios de Deus.

Graça de Deus

O Catecismo da Igreja Católica, no nº 2517, afirma que “a luta contra a concupiscência da carne passa pela purificação do coração e pela prática da temperança”, por meio da simplicidade e inocência; do exercício da caridade; da vivência da castidade; do amor à verdade; e pela doutrina correta da fé. A pureza de coração “nos concede ver segundo Deus, receber o outro como um ‘próximo’; permite-nos perceber o corpo humano, o nosso e do próximo, como um templo do Espírito Santo, uma manifestação da beleza divina” (CaIC nº 2519).

Por meio do sacramento do Batismo, somos purificados de todos os pecados, mas devemos continuar lutando contra a concupiscência da carne, auxiliados pela indispensável graça de Deus.

Sobre a graça, Santo Agostinho escreve: “Sim, a graça de Deus dada por Jesus Cristo nosso Senhor deve ser bem compreendida; só por ela os homens são libertados do mal e sem ela não fazem absolutamente qualquer bem, seja por pensamento, seja pela vontade ou pelo amor, seja pela ação. Ela não é somente uma indicação que lhes dá a conhecer o que convém, mas um auxílio que lhes dá realizar com o coração o que conhecem”. Esse comentário de Santo Agostinho corrobora com a passagem bíblica que está em Jo 15,5: “[…] porque sem mim, nada podeis fazer”. E assim o fruto da vivência da castidade é também “a santidade de uma vida fecundada pela união com Cristo” (CaIC, n° 2074).

Então é importante destacar que para viver o mandamento da Castidade não basta apenas decisão. Precisamos contar também e muito, com a graça de Deus.

A estratégia

Você precisa criar estratégias para combater o pecado, fugir dele e resisti-lo. Além das dicas mencionadas acima, outras têm me ajudado a viver a castidade: fugir das ocasiões de pecado evitando ambientes, programas de televisão e internet e conversas que possam estimular os sentidos; combater os pensamentos, renunciando-os já no início, os quais podem levar à prática de atos contra a castidade; vigilância quanto ao sentido da visão que estimula os desejos do coração. E fazer a seguinte oração: Meu Jesus, estou com vontade de pecar contra a castidade e sei que sozinha não posso vencê-la, mas com a tua graça, pelas mãos da Virgem Maria, eu conseguirei e então peço-Lhe que venha em meu socorro agora e me dê a condição para não pecar. Meu Jesus, Misericórdia!

Não tente viver a castidade sozinho, mas caminhe rumo à santidade de mãos dadas com Jesus e Maria, pois castidade e graça andam juntas.


REFERÊNCIAS:
BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 2002.
BORN, A. Van Den. Dicionário Enciclopédico da Bíblia. Petrópolis: Vozes, 1977.
CAPPELLI, G. Dicionário Teológico Enciclopédico. São Paulo: Loyola, 2003.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA (CaIC). São Paulo: Loyola. Brasília: CNBB, 2000.
COMPAGNONI, F. Dicionário Teológico Enciclopédico. São Paulo: Loyola, 2003
SANTA FAUSTINA. Diário: a misericórdia divina na minha alma. Curitiba: Apostolado da Divina Misericórdia, 2014.
SANTO AFONSO DE LIGÓRIO. Glórias de Maria. Aparecida: Santuário, 2021.
SANTO AGOSTINHO. In: GOMES, C. Folch. Antologia dos Santos Padres. São Paulo: Paulinas, 1979.

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