“Ninguém pode servir a dois senhores. Pois vai odiar a um e amar o outro, ou se apegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro” (Lc 16,13)
Providencialmente, os textos do Evangelho oferecidos pela Igreja, durante este período, iluminam nossos passos e também as nossas decisões, diante e dentro de um mundo desafiador, envolvidos que estamos numa profunda mudança de época, que exige abrir as portas da inteligência e do coração para o discernimento necessário a tantas decisões e opções a serem feitas. Fomos convidados há poucos dias a escolher Jesus Cristo, sua Palavra, sua Cruz e seu seguimento explícito para edificar com solidez a casa de nossa vida e não sermos, na diversidade de pensamentos e formas atuais de organizar a existência, ridicularizados! Ainda que haja pessoas e grupos discordantes de nosso modo de pensar e viver, cabe-nos a coerência e a honestidade, condições para sermos respeitados.
Este é um tempo de polarizações e radicalismos. Quem pensa diferente é considerado inimigo, e não apenas ou eventualmente adversário. Parecemos estar no meio de torcidas num campo de esportes que se agridem violentamente, quase desejando a morte dos outros! Nasça um apelo forte, vindo da fé, em nossa consciência, para pacificar os ânimos e buscar os caminhos adequados à construção de um mundo melhor.
Várias situações pedem nossa tomada de consciência e de posição! Jesus conta uma parábola provocante (Cf. Lc 16,1-13): “Um homem rico tinha um administrador acusado de esbanjar os seus bens. Ele o chamou e lhe disse: Presta contas da tua administração, pois já não podes mais administrar meus bens”. Os noticiários estão repletos de casos de roubo, corrupção, malversação do dinheiro público, fortunas que correm para comprar as opiniões dos outros, manipulação ideológica e outras maldades correntes. Até hoje e sobretudo hoje, assistimos à demissão de administradores infiéis a seus compromissos em todos os campos, com os escândalos decorrentes e muitas vezes jogados para debaixo dos tapetes da história de pessoas, empresas e organismos públicos.
Voltando à parábola, o administrador infiel usou de sua esperteza para rapidamente falsificar as contas dos devedores e seu patrão e encontrar, depois dos fatos consumados, o apoio de que teria necessidade. Esperteza não significa correção moral e ética! “De fato, os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz” (Lc 16,9). O Evangelho nos quer mais ainda dedicados a praticar o bem do que os filhos do mundo e das trevas que se empenham em enganar, corromper e fazer o mal.
A primeira leitura da liturgia dominical que estamos para celebrar nos faz voltar o foco para uma das muitas consequências da corrupção dos tempos antigos e atuais, quando muitos dizem afirmam com estas ou outras palavras: “Quando vai passar o sábado, para expormos o trigo, diminuir as medidas, aumentar o peso, utilizar balanças mentirosas, comprar o fraco por dinheiro, o indigente por um par de sandálias, para negociarmos até o farelo do trigo? (Am 8,5-6)”. A natureza humana se deixa corromper há tanto tempo!
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Diante dos que mais sofrem, lá nos extremos da vida social, os mais pobres, faz-se necessário cerrar fileiras na solidariedade, nas ações sociais e no exercício da caridade, para que encontremos caminhos de superação das escandalosas diferenças entre os mais ricos e os mais pobres. Não haverá solução se continuarmos a buscar as saídas da esperteza, sem abrir os bolsos e os corações para ir ao encontro dos mais sofredores, ampliando as portas de nossas casas, Igrejas e organizações para quem paga, com sua marginalização, os erros de nossa sociedade e nossos pecados pessoais.
A esperança
Podemos perguntar-nos com sinceridade o que pode ser feito! Comecemos na casa de nosso coração, eliminando a mentira e as más intenções. Se porventura nos comprometemos com o mal, trago aqui uma Palavra proposta para a vida nas Fazendas da Esperança há poucos dias, num contexto diferente, mas aplicável à situação da sociedade, quando Jesus encontra a procissão da morte saindo da cidadezinha de Naim (Lc 7,11-17), com o enterro de um jovem, filho único de mãe viúva: “Existem situações que parecem decretar a nossa morte. Podem ser momentos de dores, derrotas e sofrimentos, mas também situações de vícios e erros pessoais. Não importa qual seja a situação, existe uma presença que tem a força para mudar tudo e nos reerguer. Quando somos tocados pela Palavra ganhamos uma vida nova que não permite que continuemos caídos. O Amor de Deus faz de nós pessoas vivas que testemunham a vida. Levantar-se e recomeçar!” Não perder a esperança, acreditar no bem que existe mesmo nas pessoas que erram muito!
O Senhor é transparente em seus ensinamentos: “Eu vos digo: usai o dinheiro injusto para fazer amigos, para que, quando acabar, vos recebam nas moradas eternas. Quem é fiel nas pequenas coisas será fiel também nas grandes, e quem é injusto nas pequenas será injusto também nas grandes. Por isso, se não sois fiéis no uso do dinheiro injusto, quem vos confiará o verdadeiro bem? E se não sois fiéis no que é dos outros, quem vos dará aquilo que é vosso?” (Lc 16,9-12) Amizade, diálogo, convivência com todos. Podemos ser amigos também de pessoas que não compartilham nossa fé ou nossas convicções. Entretanto, radicalidade nas decisões e no dever de manter limpas as mãos e puro o coração! Um centavo ou um milhão, uma mentirinha ou uma mentirona, uma infidelidade ou uma situação totalmente irregular! Em tudo, buscar a fidelidade e a retidão, servindo apenas a Deus e, por causa d’Ele e da verdade de seu Evangelho, servir e amar o próximo!
Outro desafio de nosso tempo é a circulação de notícias de todo tipo, num flagrante desrespeito à intimidade das pessoas, quando as redes sociais se transformam em exposição de misérias e acusações de todo tipo, ou quando até um olhar é tratado como assédio de qualquer tipo, as pessoas buscam processar umas às outras, sem a necessária busca de resolução pacífica de conflitos e pacificação dos corações. Nós podemos mudar, purificando o relacionamento com o próximo, iniciando em nossas famílias e comunidades. Já ouvimos certamente que uma boa conversa com diálogo sincero pode resolver muitas dificuldades!
Rezemos com o salmista (Sl 112,1-2.4-6.7-8). Louvai o Senhor que eleva os pobres! “Louvai, louvai, ó servos do Senhor, louvai, louvai o nome do Senhor! Bendito seja o nome do Senhor, agora e por toda a eternidade! O Senhor está acima das nações, sua glória vai além dos altos céus. Quem pode comparar-se ao nosso Deus, ao Senhor, que no alto céu tem o seu trono e se inclina para olhar o céu e a terra? Levanta da poeira o indigente e do lixo ele retira o pobrezinho, para fazê-lo assentar-se com os nobres, assentar-se com nobres do seu povo.”