“Vinde a mim todos vós que estais cansados e carregados de fardos, e eu vos darei descanso”
Fui ordenado padre no dia 15 de agosto de 1973, jubileu de ouro que estou para comemorar em louvor e ação de graças no próximo mês. Neste dia 6 de julho, tenho a alegria de celebrar a gratidão a Deus por 32 anos de Ministério Episcopal. São João Paulo II me nomeou Bispo Auxiliar de Brasília, onde permaneci de 1991 até 1996. Com a criação da Província Eclesiástica e da Arquidiocese de Palmas, em 1996, o mesmo São João Paulo II me fez Arcebispo, com a incumbência, junto com tantas pessoas que se envolveram naquela ousadia do Papa e do Episcopado brasileiro, que insistiu com ele na presença ativa da Igreja na capital do Estado do Tocantins, começamos a magnífica experiência de fundação de uma Igreja Particular, cujo crescimento pudemos contemplar, pela grandeza da ação do Espírito Santo, Padroeiro da Arquidiocese. Ali permaneci até ser chamado, pela palavra forte de Bento XVI, a ser Arcebispo de Belém, onde tomei posse no dia 25 de março de 2010, terra abençoada que fui chamado a servir, junto com o Presbitério, Diáconos, Religiosos e Religiosas, Comunidades de Vida e Aliança, Movimentos, Pastorais e, mais ainda, com o povo santo e bom que labuta nos cinco municípios da Arquidiocese, em cento e três Paróquias ou Áreas Missionárias.
Quando fui chamado ao Episcopado, vários desafios se apresentaram diante de meus olhos, ao assumir a tarefa de Bispo Auxiliar na Capital do País, onde deixei, graças a Deus, muitas amizades e boas lembranças. Encontrei uma Igreja jovem, com a exigente tarefa de conviver com os poderes políticos ali sediados, o crescimento significativo da população e novas áreas nas quais implantar a vida eclesial. De um lado, muita vitalidade, vocações, pastorais, movimentos e serviços muito atuantes, criação de Paróquias, expansão dos trabalhos de Evangelização e trabalho nos Meios de Comunicação. De outra parte, o diálogo e a convivência com mentalidades, pessoas e estruturas diferentes. Dentre tantas experiências feitas, fui encarregado de acompanhar, através do diálogo com as instâncias mais diversas da sociedade, a elaboração da Lei Orgânica do Distrito Federal, o que abriu portas e minha mente para a realidade política, o que resultou num trabalho intenso e fecundo junto ao Congresso Nacional. Durante vários anos, palestras, reuniões mensais, celebrações e retiros me fizeram conhecer este mundo até então distante! Foi uma verdadeira escola, cujas marcas permanecem em minha vida.
Episcopado brasileiro
Em 1996, depois de intensa experiência de Visita ad Limina Apostolorum com São João Paulo II, retornando ao Brasil, pouco depois recebi o chamado a ser Arcebispo de Palmas, onde assumi, no dia 31 de maio daquele ano, com apoio de todo o Episcopado brasileiro, a implantação da Arquidiocese, com tudo o que isso significou. Os anos vividos em Brasília me prepararam, mas foi necessário repensar tudo, pois os 11 municípios do território tinham apenas uma Paróquia, podia contar com apenas um padre incardinado, além de um grupo de sacerdotes religiosos e diocesanos abnegados de outras partes que se agregaram. Começamos sem Casa própria, Cúria, Seminário, uma Catedral provisória, sem recursos materiais, mas a beleza e o encanto da missão! Foram quase 14 anos de verdadeiro paraíso, cujas marcas ficaram em minha alma!
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E desde 2010, Belém, Portal da Amazônia, terra da Rainha da Amazônia, Nossa Senhora de Nazaré, terra do Círio, uma história rica de aventuras eclesiais e missionárias. Quando aqui cheguei, perguntaram-me se tinha um “programa de governo”! Meu programa não era de governo, mas obediência missionária, tendo aqui chegado para dar a minha vida pelo Evangelho, amar esta Igreja e ajudar a mantê-la no zelo pela Evangelização. Aqui, com a ajuda da corda do Círio, entendi a palavra de Deus no Profeta Oséias: “Eu os lacei com laços de amizade, eu os amarrei com cordas de amor; fazia com eles como quem pega uma criança ao colo e a traz até junto ao rosto. Para dar-lhes de comer eu me abaixava até eles” (Os 11,4).
Desafio é o crescimento horizontal e vertical de nossa Arquidiocese, com estruturas de relacionamento diferentes, se pensarmos nos vários e diversificados ambientes. Precisamos de pessoas que nos ajudem a levar a Boa Nova aos últimos andares dos Edifícios e às margens de nossos rios. Prédios ou Palafitas, este é o nosso campo de trabalho!
A Boa Nova
Desafio é o diálogo com um mundo em “mudança epocal”, como costumamos dizer, sem medo de pessoas e situações, superando julgamentos e, ao mesmo tempo, estritamente fiéis. O Evangelho é sempre o mesmo por ser sempre novo, provocador de conversão para todos os que o conhecem, não é adaptável às tendências de cada época, mas vai sempre à frente! As situações dos tempos e das pessoas são diferentes, mas sempre passíveis de transformação para melhor. Sabemos que o contato com a Boa Nova de Jesus Cristo não cancela nem prejudica qualquer cultura, mas a eleva e aperfeiçoa, fazendo vir à tona os valores em todas elas presentes.
Qualquer realidade humana confiável foi conquistada a duras penas, passando, inclusive, pela dor, “sangue, suor e lágrimas”. Quem ganha na loteria não sabe o que custou aquele dinheiro e o gasta com facilidade. Por outro lado, há muitas pessoas que conquistaram muito, mas à custa de muitos esforços, renúncias e sacrifícios, por isso sabem o que valem as vitórias alcançadas. Nessa vertente, existem em todos os ambientes pessoas de fibra. Este é um filão de ouro, pelo qual o Evangelho pode entrar. No enfrentamento dos passos a serem dados no dia a dia, cabe-nos fazer escolhas correspondentes às nossas convicções. Buscar um Cristianismo mitigado, no qual se adaptem as exigências evangélicas às situações, é negar a verdade do próprio Cristianismo e a dignidade humana, pois fomos todos feitos para a perfeição e não para a mediocridade.
Desafio é o futuro de nossa Igreja, e dentre tantas perspectivas que se abrem, escolho o tema da juventude, que provoca positivamente nossas estruturas eclesiais, na dimensão missionária aberta por nosso Plano Arquidiocesano de Pastoral. No Segundo Acampamento Arquidiocesano da Juventude, no Retiro Tagaste, em Marituba, no qual necessariamente devem fazer-se representar todas as Paróquias na Arquidiocese, sem exceção. Dentro de poucos dias, serão cerca de 200 jovens os nossos representantes na Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, num encontro privilegiado com o Senhor, conduzidos pelas mãos de Maria e guiados pelos apelos do Papa. De 14 a 31 de agosto, acontecerá a Jornada Vocacional Missionária de nossa Arquidiocese, com atividades em todas as Regiões Episcopais, para que o jubileu do Arcebispo seja de Deus, da Virgem Maria e pelas vocações! A Semana Nacional da Família, que começa no Dia dos Pais, terá o tema da Vocação que nasce das Famílias, envolvendo nossos jovens. No dia 17 de setembro, a grande Festa da Juventude, na Fazenda da Esperança, uma grande jornada de partilha de experiências! No dia 14 de outubro, a Romaria da Juventude, no Círio de Nazaré! Não faltam oportunidades e eventos, o que pode faltar é nossa decisão de abrir horizontes para a juventude. Estejamos atentos aos inúmeros espaços para a juventude em nossa Igreja: Catequese, Oratórios, Grupos de Pastoral da Juventude Paroquiais, Servidores do Altar, Movimento Eucarístico Jovem, Guardas jovens e mirins, Escotismo, Grupos dos Movimentos e Comunidades de Vida e Aliança, Encontro de Jovens com Cristo, Vicentinos, Conselhos de Juventude, Retiros e outras tantas possibilidades! Os jovens de hoje serão os pais e mães de família, sacerdotes, religiosas e religiosos, consagrados nas comunidades, o futuro de nossa Igreja, sabedores que somos que vocações existem para todas as realidades de Igreja. O que falta, digo de novo, é trato, atenção!
Aos jovens e também aos menos jovens chegue o convite do Evangelho: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e carregados de fardos, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e sede discípulos meus, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vós. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11,28-30).