Estamos no Tempo Quaresmal! Somos chamados a viver um grande retiro em preparação para a Páscoa e a Igreja assume, neste tempo, por excelência, a missão de reacender em nós o desejo e a necessidade que temos de conversão.
Você pode até se perguntar: o que é viver uma conversão e por que preciso dela?
Precisamos lembrar, em primeiro lugar, que “Pela desobediência de um só homem, a humanidade toda tornou-se pecadora” (Rm 5, 19). Quando Deus criou o mundo, Ele viu que tudo era bom. O homem, por natureza, é bom, pois foi criado à imagem e semelhança de Deus. Ao desobedecerem ao mandamento de Deus, “Adão e Eva perdem de imediato a graça da santidade original”[1] e “uma verdadeira invasão do pecado inunda o mundo”[2]. O pecado destruiu a harmonia que foi criada por Deus e a natureza humana foi corrompida: nós todos trazemos como herança o pecado original.
Quando Deus enviou Seu Filho, Jesus Cristo, ao mundo, foi para nos salvar. Deus se fez homem e, no alto da cruz, “morreu pelos nossos pecados” (1 Cor 15, 3). O sacrifício redentor do Filho nos manifesta o amor misericordioso de Deus por nós e nos faz, novamente, participantes da natureza divina. Pelo Batismo, o pecado original é apagado, mas trazemos as suas consequências em nossa natureza enfraquecida.
É a partir dessa natureza enfraquecida que entendemos o que é conversão. Viver a conversão é trilhar um caminho de volta para Deus, é uma luta diária contra as nossas más inclinações que podem nos fazer pecar, é um caminho que dura toda a nossa vida. Até o nosso último instante de vida, precisamos buscar a nossa conversão, porque buscar a conversão é buscar a nossa salvação. Se desejamos a salvação, a eternidade, o céu, precisamos desejar e buscar a nossa conversão.
A nossa conversão passa por etapas. Antes de tudo, precisamos deixar de lado os nossos pecados mortais. São aqueles pecados cometidos com plena consciência, deliberadamente, ou seja, com intenção, e que ferem diretamente os Mandamentos de Deus. Se queremos levar uma vida na graça de Deus, precisamos lutar para não cairmos em pecado mortal. E se cairmos? Precisamos nos arrepender e buscarmos o Sacramento da Confissão, com firme intenção de não mais cometer esse pecado. Mesmo deixando o pecado mortal, percebemos ainda que não amamos da forma que Deus nos chama a amar, somos apegados, nos faltam ainda as virtudes e a prática do bem. Essas desordens e imperfeições que carregamos, chamamos de pecado venial. O padre dominicano Antonio Royo Marín descreve, no livro Teologia da Perfeição Cristã, quatro principais efeitos do pecado venial:
“priva-nos de muitas graças atuais que o Espírito Santo tinha vinculado à nossa correção e fidelidade; diminui o fervor da caridade e a generosidade no serviço de Deus; aumenta as dificuldades para o exercício da virtude; predispõe ao pecado mortal”.
A luta contra o pecado venial é constante. Exige nossa fidelidade na vida de oração, na participação dos sacramentos, um contínuo exame de consciência e as nossas penitências.
Mas e os pecados de estimação?
Pecados de estimação são pecados veniais, que, por nossa negligência, cometemos no dia a dia. São pecados corriqueiros, mas por estamos muito apegados, caímos no dia a dia e com alta frequência. A irritabilidade, a impaciência, vaidades e apegos são realidades que, infelizmente, ainda fazem parte do nosso dia a dia. São faltas que estão ligadas aos nossos comportamentos, atitudes, temperamento.
São aqueles “pecadinhos” que se repetem na confissão, mensalmente, mas que não transgridem, diretamente, aos Mandamentos de Deus. Apesar de ser um pecado com menor gravidade, a luta contra o pecado de estimação não pode ser deixada de lado. Pode até parecer cômico classificar um pecado como “pecado de estimação”. Mas ele recebe esse nome porque estamos muito apegados a ele ou, até mesmo, nutrimos e cultivamos este pecado. Por exemplo, imagine uma pessoa que se irrita facilmente e, por razões pequenas, torna-se impaciente. Ao primeiro olhar, é algo pequeno, afinal essa pessoa não agrediu nem ofendeu ninguém, física ou verbalmente, nem demonstrou aversão ao outro. Mas, a longo prazo, essa “pequena irritabilidade” pode se tornar uma aversão ao próximo, uma recusa em falar com o outro, pode provocar uma ofensa ou agressão e até a recusa em viver uma reconciliação.
Percebe que uma atitude tão “pequena e simples” pode abrir uma porta para o pecado mortal?
A carta aos Hebreus nos diz: “Vós ainda não resististes até o sangue, vossa luta contra o pecado” ( Hb 12,4). Se queremos uma vida com Deus, uma vida de santidade, se queremos o Céu, não podemos ceder ao pecado. É importante assumirmos, com todas as nossas forças, um caminho de contínua conversão. Precisamos nos arrepender, buscar a confissão sacramental com frequência e levar à confissão os nossos pecados de estimação. Precisamos ter uma vida de oração sólida, diária. Precisamos de Jesus na Eucaristia. Precisamos da intercessão de Maria e dos nossos santos de devoção. E, somado a isso, precisamos estar vigilantes para não ceder a essas pequenas faltas.
Neste tempo quaresmal, tempo extraordinário para a conversão, assuma esse compromisso na luta contra o pecado. Comece com um planejamento na sua vida de oração, identifique os seus pecados de estimação e busque os meios para combatê-los. Busque também a ajuda de um padre para direcioná-lo nessa caminhada.
Seja fiel e perseverante na sua luta contra o pecado. Deus abençoe!
[1] CIC 399
[2] CIC 401
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