O apelo à santificação da Família na Mensagem de Fátima

De acordo com a sessão temática, que o Santuário do Pai das Misericórdias tem proporcionado por ocasião da Devoção Reparadora dos Cinco Primeiros Sábados, com base no livro “Apelos da Mensagem de Fátima” escrito pela Ir. Lúcia, este é o décimo sexto apelo explicitado.

Para colocar em relevo o seu entendimento acerca desse apelo, a serva de Deus parte da última aparição em Fátima que se deu em outubro de 1917, em que a Sagrada Família se fez presente: “Vimos, ao lado do sol, São José com o Menino e Nossa Senhora vestida de branco, com um manto azul. São José com o Menino pareciam abençoar o Mundo com uns gestos que faziam com a mão em forma de cruz.” (IRMÃ LÚCIA, 2015, p.181). Assim sendo, assegura que essa aparição diz respeito a um apelo à santificação das famílias, obra prima da criação de Deus que, por amor, confiou aos pais a nobre missão de conduzir os filhos (frutos do amor conjugal) à pátria celeste. Ao considerar a sublime vocação à santidade designada por Deus às células familiares, a Ir. Lúcia sublinha a oposição das forças malignas que a todo o custo tentam afastá-las do plano original de Deus, nestes termos:

“Nestes tempos em que a família, tantas vezes, aparece mal compreendida na forma como foi constituída por Deus e se vê afetada por doutrinas erradas e opostas aos fins para que o Criador divino a instituiu, não terá Deus querido dirigir-nos uma chamada de atenção para a finalidade com que Ele estabeleceu no mundo a família?” (IRMÃ LÚCIA, 2007, p. 162).

Fecundidade no matrimônio

Assim sendo, ao ressaltar a grandeza da vocação à instituição familiar, coloca em destaque sua dimensão unitiva que tem como fundamento o vínculo indissolúvel recebido pela união conjugal expressa desde o Antigo Testamento: “Por isso o homem deixa o seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne” (Gn 2, 24). Logo, ressalta o valor desta sagrada união defendida por Jesus Cristo ao refutar os opositores de sua época: “Não lestes que o Criador, no começo, fez o homem e a mulher e disse: Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher; e os dois formarão uma só carne? Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu” (Mt 19,4-6).

:: O grande valor da comunhão espiritual

Quanto à dimensão procriativa do matrimônio (Gn 1,28), ressalta que a beleza deste dom consiste na fecundidade proveniente desta união sacramental, que tem como finalidade primordial povoar o Céu, aludindo assim às palavras de santo Irineu de Lyon: “A Vida do homem é a visão de Deus”. Essa verdade demonstra que é somente na visão de Deus, ou seja, é em comunhão com Ele enquanto se caminha para a eternidade que o homem encontra a verdadeira Vida (Jo 14,6) e o sentido de sua existência, como bem coloca a Constituição Pastoral do Concílio Vaticano II: “Na realidade, o mistério do homem só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente” (GAUDIUM ET SPES, 22). Portanto, sem a visão de Deus em seu horizonte, o homem se perde, morre espiritualmente e assim não pode revelar a Sua glória. Sim, ‘o homem vivo’ revela a glória de Deus, como afirma santo Irineu, nestes termos: “A glória de Deus é o homem vivo.”

Finalidade do Matrimônio

Ao considerar a beleza e as finalidades do matrimônio, a Ir. Lúcia enfatiza que, na Mensagem de Fátima, Nosso Senhor convida a humanidade a olhar para a família de Nazaré, com quem Jesus conviveu e por isso nos concedeu um modelo a imitar. Explica que, quando o homem não respeita esta sagrada instituição com todas as suas atribuições, transtorna o plano original de Deus e não cumpre a missão que lhe foi confiada. Isto posto, pode-se constatar que a desobediência do gênero humano no que diz respeito à santificação das famílias, apresenta-se hodiernamente face à legalização do aborto, à promoção do uso de anticoncepcionais e à manipulação de células-tronco de embriões humanos com o fim de clonar e de fecundar in vitro, dado que são práticas contrárias ao conceito de família originada no matrimônio.

:: Tempos difíceis não são tempos de graça

Nesta perspectiva, destacam-se as afirmações da Congregação para a Doutrina da Fé acerca do matrimônio e do inestimável dom da vida humana:

“O ensinamento da Igreja acerca do matrimônio e da procriação humana afirma ‘a conexão indivisível, que Deus quis e o homem não pode romper, entre os dois significados do ato conjugal: o significado unitivo e o procriador. Com efeito, o ato conjugal, por sua estrutura íntima, enquanto une os esposos com um vínculo profundíssimo, torna-os aptos para a geração de novas vidas, segundo leis inscritas no ser mesmo do homem e da mulher’. […] A contracepção priva intencionalmente o ato conjugal da sua abertura à procriação e, dessa forma, realiza uma dissociação voluntária das finalidades do matrimônio. […] A fecundação é querida licitamente quando é o termo de um ‘ato conjugal de per si apto para a geração da prole, ao qual, por sua natureza, se ordena o matrimônio, e com o qual os cônjuges se tornam uma só carne’. Mas do ponto de vista moral a procriação é privada da sua perfeição própria quando não é querida como o fruto do ato conjugal, isto é, do gesto específico da união dos esposos.” (1987, PARTE II).

Em conformidade com a doutrina da Igreja, a Mensagem de Fátima convida as famílias do mundo inteiro a incutir no coração de seus filhos o amor a Deus como a maior dádiva que se pode oferecer, na certeza de que, assim, as gerações futuras serão salvaguardadas de toda espécie de contradições morais que se levantam no decurso dos tempos contra esta sagrada instituição.

:: O valor do Sacramento do Matrimônio

Este tema será abordado na catequese temática que será transmitida por ocasião da Devoção Reparadora dos Cinco Primeiros Sábados, através do Instagram e do Facebook do Santuário do Pai das Misericórdias, no próximo dia 02 de maio, com início às 10h. Até que passe este tempo de pandemia, nos encontraremos por meio dessas redes sociais, na certeza de que, desta maneira, continuaremos unidos na intenção de reparar os sagrados Corações de Jesus e de Maria tão ofendidos por nós pecadores.

Áurea Maria,
Comunidade Canção Nova

Referências

IRMÃ LÚCIA. Apelos da Mensagem de Fátima. 4. ed. Fátima – Portugal: Secretariado dos Pastorinhos, 2007.

IRMÃ LÚCIA. Memórias da Irmã Lúcia. 17. ed. Fátima – Portugal: Fundação Francisco e Jacinta Marto, 2015.

CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ. Donum Vitae: Instrução sobre o respeito à vida humana nascente e a dignidade da procriação. 22 fev. 1987. Disponível em: https://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19870222_respect-for-human-life_po.html. Acesso em: 25 abril 2020.

CONSTITUIÇÃO PASTORAL Gaudium et Spes sobre a Igreja no mundo atual. In: COMPÊNDIO DO VATICANO II: constituições, decretos, declarações. 31. ed. Petrópolis: Vozes, 2016. p.141-256.

SCHOKEL, Luís Alonso. Bíblia do Peregrino. Tradução de Ivo Storniolo, José Bortolini e José Raimundo Vidigal. São Paulo: Paulus, 2002.