Existem critérios?

Por que nem todos recebem milagres?

Qual o critério utilizado por Deus para atender ou não uma oração?

Quando nos encontramos em momentos de necessidade extrema, uma enfermidade, uma internação hospitalar, um infortúnio, uma situação que está longe do nosso alcance e poder de interferência, resta-nos apenas uma opção: clamar a Deus, suplicar! Se recebemos de Deus uma interferência positiva, e somos atendidos em nossa oração, nosso peito logo se enche de alegria e louvor, afinal, fomos ouvidos, e pensamos que há Alguém a cuidar de nós, Alguém que viu nosso sofrimento, teve compaixão e decidiu conceder-nos o que pedimos. Mas o que acontece com o nosso interior quando não recebemos a intervenção que esperávamos e pela qual tanto rezamos, às vezes, em prantos suplicamos?

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Esse é um ponto crucial no amadurecimento da fé de todo cristão que, de fato, deposita a sua confiança em Deus e na Sua divina providência que tudo rege e governa. É um divisor de águas. Quando uma criança de cinco anos é acometida de um câncer e, após lutar muito, receber oração de milhares de pessoas, ainda assim não resiste e morre, alguma coisa não fica bem dentro de nós. Quando uma esposa reza a vida inteira pela conversão de seu marido, mas ele não muda nem um pouco; quando um pai de família clama a Deus por um emprego para poder alimentar seus filhos, mas não é atendido, uma pergunta surge dentro do nosso coração: Qual o critério utilizado por Deus para atender ou não uma oração?

“Milagres de fato acontecem, e temos inúmeros testemunhos disso na história da humanidade” | Foto ilustrativa: stevanovigor by Getty Images

Em toda a história da humanidade existem verdadeiros relatos de milagres, verdadeiras intervenções de Deus que, de forma extraordinária, contradizem a compreensão humana, a ordem natural das coisas, e estão além do alcance de explicação da ciência. São Tomás de Aquino nos dá a definição de milagre em sua Suma Teológica: “Portanto, chamam-se milagres aquelas coisas feitas por Deus fora da ordem de causas conhecidas por nós.” (Suma Teológica, I, q. 107, art 7).

Os milagres

Milagres de fato acontecem, e temos inúmeros testemunhos disso na história da humanidade, e talvez até conhecemos alguma pessoa que tenha sido miraculada, nome que se dá a alguém que recebeu de Deus um verdadeiro milagre. O Cânon 4 do Capítulo III da Constituição Dogmática Dei Filius nos diz que: Se alguém disser que não pode haver milagres, e que portanto todas as narrações deles, também as contidas na Sagrada Escritura, se devem relegar ao reino da fábula e do mito; ou disser que os milagres nunca podem ser conhecidos com certeza, nem se pode por eles provar a origem divina da religião cristã seja excomungado [cf. nº 1790].

Se os milagres são uma verdade tão importante para a fé da Igreja Católica, é interessante que antes de respondermos o porquê nem todos alcançam milagres, entendamos porque Deus faz milagres. 

Em primeiro lugar, Deus realiza milagres porque Ele pode e quer. Deus também realiza milagres porque, de alguma forma, com o auxílio do Espírito Santo, eles servem de prova exterior da Revelação Divina ao demonstrar a onipotência e a sabedoria infinita de Deus. Se grandes são os benefícios dos milagres, por que Deus só atende a alguns e não faz milagres a todos? Será que Deus não nos atende porque rezamos pouco? Será que Deus não nos ouve por causa dos nossos pecados passados pelos quais agora precisamos pagar? Será que Deus gosta mais daqueles a quem atende e cujas orações escuta do que daqueles a quem não ouve?

No Evangelho de São João, capítulo III, versículo 17, no diálogo com Nicodemos, Jesus diz: “De fato, Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”. O que será que Nosso Senhor queria dizer-nos com isso? Que estaríamos livres de todos os sofrimentos? Que não precisamos mais passar por nenhuma situação difícil e contrária a nossa vontade ou razão humana?

Sabedoria de Deus

O Papa São João Paulo II nos responde isso na encíclica sobre o sentido do sofrimento humano, Salvifici Doloris. No parágrafo 15, ele explica: “Deus dá o seu Filho unigênito, para que o homem « não pereça »; e o significado deste « não pereça » é cuidadosamente determinado pelas palavras que lhe seguem: « mas tenha a vida eterna ».

O homem « perece » quando perde a « vida eterna ». O contrário da salvação não é, pois, somente o sofrimento temporal, qualquer sofrimento, mas o sofrimento definitivo: a perda da vida eterna, o ser repelido por Deus, a condenação.”

Aqui está uma importante chave de leitura para a resposta de nossa pergunta. Deus, de fato, interfere na história e realiza milagres, e duvidar da existência de milagres seria duvidar da própria encarnação de Deus que se fez homem como nós, mas o verdadeiro e maior interesse que Deus tem ao agir em nossa vida é o de salvar a nossa alma. O maior sofrimento do qual Deus quer, de fato, livrar-nos, apesar de o fazer de acordo com sua pedagogia própria para cada homem, não é apenas curar-nos de uma doença, não é apenas livrar-nos dos nossos sofrimentos temporais, mas sim livrar-nos da condenação ao inferno, do sofrimento eterno. Isso significa que Deus, em Sua infinita sabedoria, dispõe o recebimento de graças e milagres de acordo com o plano salvífico que possui para cada homem.

Nós, com nossa limitada visão, que nos impede de enxergar muito além das coisas que importam a nós ainda aqui neste mundo, na maioria das vezes somos incapazes de entender o que Deus está, de fato, realizando para a Vida Eterna. Qual garantia nós temos de que aquilo que pensamos ser o melhor de fato o seria? Será que não seria a perdição de nossa alma ou de outra pessoa se recebêssemos exatamente aquilo que pedimos a Deus?

Resta a nós uma confiança filial em Deus que tudo dispõe segundo o seu interesse maior de salvar as nossas almas e levar-nos para o Convívio dos Eleitos, que é, de fato, a única coisa que importa. Ainda que muitas pessoas recebam através da oração inúmeros milagres, curas e prodígios, um dia todos nós chegaremos ao fim de nossa caminhada neste mundo, e os milagres que tiverem ou não tiverem sido realizados não terão mais nenhuma importância, pois seremos capazes de enxergar todo o caminho que Deus trilhou conosco e entenderemos qual a pedagogia que ele escolheu para que pudéssemos compartilhar com ele a alegria da Vida Eterna.

Kaique Santos
Seminarista da Comunidade Canção Nova

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