NÃO MATAR

A relação do quinto Mandamento com a Mensagem de Fátima

O presente artigo coloca em relevo a relação do quinto Mandamento do Decálogo com a Mensagem de Fátima, com base na obra “Apelos da Mensagem de Fátima” escrita pela Irmã Lúcia, uma das videntes das aparições de Fátima, atualmente em processo de beatificação. Ela era prima de Francisco e de Jacinta, já canonizados pela Igreja que, junto com ela, foram agraciados com as aparições de Nossa Senhora. Para explicitar a sacralidade e a grande importância deste Mandamento integrado nos sete que dizem respeito à ordem da caridade para com o próximo, a interlocutora das aparições parte da Sagrada Escritura com os seguintes dizeres:

“Não matarás” (Dt 5,17). Com este mandamento, Deus proíbe-nos todo e qualquer atentado contra a vida humana. Decidir o termo desta é um direito que Deus reservou somente para Si. Por isso, não nos é lícito aniquilar vida humana alguma, mesmo que esteja ainda em gérmen. (IRMÃ LÚCIA, 2007, p. 235)

Nesta perspectiva, destaca-se o ensinamento do Magistério da Igreja, que a esse respeito afirma: “A vida humana é sagrada porque desde o seu início comporta ‘a ação criadora de Deus’ e permanece para sempre em uma relação especial com o Criador, seu único fim. Somente Deus é o Senhor da vida, desde o seu início até o seu fim” (DONUM VITAE, 5). Diante da necessidade da observância deste Mandamento, bem como da gravidade de sua não observância, a Irmã Lúcia demonstra como o mesmo é posto em evidência nas Escrituras sagradas repetidas vezes, ao referir-se ao relato do assassinato de Abel por seu irmão Caim (Gn 4,2-16) e, também à explicação dada por Jesus Cristo por ocasião do sermão da montanha, a fim atualizá-lo: “Ouvistes o que foi dito aos antigos: Não matarás; aquele que matar terá de responder ao tribunal. Eu, porém, vos digo: todo aquele que se encolerizar contra seu irmão, terá de responder no tribunal” (Mt 5,21-22). Desse modo, Jesus confere a este pecado grave que possui um aspecto moral ao ser praticado, uma orientação ética, a fim de que o mesmo seja erradicado do “coração humano”, que é a sede das nossas decisões. Ainda neste horizonte escriturístico, ressalta as palavras de Jesus dirigidas a Pedro, quando este tomou sua espada e agrediu um dos soldados do Templo para defender a Cristo no jardim das oliveiras, que assim lhe respondeu: “Embainha tua espada, porque todos aqueles que usarem da espada, pela espada morrerão” (Mt 26,52). Assim demonstra como este pecado “Deus o proíbe e repele”. (IRMÃ LÚCIA, 2007, p. 237)

““Sejam quais forem os motivos e os meios, a eutanásia direta consiste em pôr fim à vida de pessoas deficientes, doentes ou moribundas. É moralmente inadmissível.” (CIC, 2277). ” | Foto ilustrativa: cancaonova.com

De acordo com esta temática, a Igreja Católica como uma “Mãe”, que sempre se preocupa com a salvação de seus filhos, ao exprimir a gravidade do pecado do homicídio, ou seja, do assassinato direto e voluntário de um ser humano, salienta também a gravidade de suas variantes, tais como: o aborto, a eutanásia, o suicídio e também o escândalo que leva outrem a praticar o mal, explicitando que são pecados que clamam ao céu por vingança (cf. Gn 4,10). 

No que diz respeito ao aborto, “desde o século I, a Igreja afirmou a maldade moral de todo aborto provocado. Este ensinamento não mudou. Continua invariável” (CIC, 2271). 

Acerca da eutanásia afirma: “Sejam quais forem os motivos e os meios, a eutanásia direta consiste em pôr fim à vida de pessoas deficientes, doentes ou moribundas. É moralmente inadmissível.” (CIC, 2277). 

Sobre o suicídio ensina que “devemos receber a vida com reconhecimento e preservá-la para honra de Deus e salvação de nossas almas. Somos os administradores e não os proprietários da vida que Deus nos confiou. Não podemos dispor dela.” (CIC, 2280). 

Quanto ao escândalo, explicita que “é a atitude ou o comportamento que leva outrem a praticar o mal. Aquele que escandaliza torna-se o tentador do próximo. Atenta contra a virtude e a retidão; pode arrastar seu irmão à morte espiritual.” (CIC 2284). 

Nesta perspectiva, a Irmã Lúcia coloca em destaque outros casos que propiciam a morte quando afirma:

Ordinariamente não se tem em conta certos gêneros de morte lenta, que são infligidos ao próximo, e, no entanto, eles pesam na balança de Deus. A injustiça com que muitas vezes se sacrifica o próximo; a calúnia com a qual se lhe rouba o bom nome, a dignidade pessoal e o respeito que lhe é devido; o abuso com que ele é despojado dos próprios direitos; e tantas outras coisas do mesmo estilo, com as quais o próximo vai sendo martirizado e se lhe vai causando lentamente a morte. (IRMÃ LÚCIA, 2007, p. 236)

 

Neste sentido, esclarece que é preciso conhecer qual o pecado que temos mais inclinação a praticá-lo, para assim dominá-lo, conforme Deus orientou a Caim: “Se procederes mal, o pecado deitar-se-á à tua porta e andará a espreitar-te. Cuidado, pois ele tem muita inclinação para ti, mas deves dominá-lo” (Gn 4,7).

Pode-se verificar a intrínseca relação da Mensagem de Fátima com este quinto mandamento no apelo que ambos encerram para que se promova a paz entre os homens e se evite a guerra, devido a todas as injustiças que este mal provoca. Com efeito, a este respeito, Nossa Senhora assim se expressou na aparição de julho: “Continuem a rezar o terço todos os dias, em honra de Nossa Senhora do Rosário, para obter a paz do mundo e o fim da guerra, porque só Ela lhes poderá valer.” (IRMÃ LÚCIA, 2015, p.176). 

:: O apelo a seguir o caminho do Ceú na Mensagem de Fátima
:: O apelo à santidade na Mensagem de Fátima

O Catecismo da Igreja (2307) quando orienta para que se cumpra o preceito de “não matar” faz referência à realidade da guerra ao afirmar: “O quinto mandamento proíbe a destruição voluntária da vida humana. Por causa dos males e das injustiças que toda guerra acarreta, a Igreja insta a cada um a orar e agir para que a Bondade divina nos livre da antiga escravidão da guerra”. De fato, é preciso considerar que as guerras exteriores têm o seu início no coração dos homens que se deixam arrastar pelo desejo de vingança e pelo ódio, contrários ao ensinamento de Cristo: “Bem aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9). Por isso, é preciso orar e se sacrificar pela conversão dos pecadores como nos pede Nossa Senhora, para que, em comunhão com Cristo, possamos colaborar em sua obra redentora, na qual também estamos incluídos. 

Este será o tema da catequese que acontecerá na Devoção Reparadora dos Cinco Primeiros Sábados, no Santuário do Pai das Misericórdias, no próximo dia 06 de março de 2021, com início às 10h. Esse momento mariano será aberto ao público no Santuário e também será transmitindo pelas redes sociais Facebook e Instagram, para que, juntos com Nossa Senhora e com Jesus Cristo, possamos crescer na prática do amor fraterno, reparando, desse modo, os pecados que levam à morte espiritual e física do nosso próximo!

Áurea Maria,
Comunidade Canção Nova

Referências
BÍBLIA de Jerusalém. Tradução de Euclides Martins Balancin et al. São Paulo: Paulus, 2002.

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Tradução da Conferência nacional dos Bispos do Brasil. 10. ed. São Paulo: Loyola, 2000.

CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ. Donum Vitae: Instrução sobre o respeito à vida humana nascente e a dignidade da procriação. 22 fev. 1987. Disponível em: https://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19870222_respect-for-human-life_po.html.  Acesso em: 28 fev. 2021.

IRMÃ LÚCIA. Apelos da Mensagem de Fátima. 4. ed. Fátima – Portugal: Secretariado dos Pastorinhos, 2007.

IRMÃ LÚCIA. Memórias da Irmã Lúcia. 17. ed. Fátima – Portugal: Fundação Francisco e Jacinta Marto, 2015.

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