DEVOÇÃO REPARADORA

A relação do quarto Mandamento com a Mensagem de Fátima

Honrar pai e mãe

Este artigo dá continuidade à série sobre a relação dos dez Mandamentos da Lei de Deus com a Mensagem de Fátima, que o Santuário do Pai das Misericórdias está promovendo, por ocasião da Devoção Reparadora dos Cinco Primeiros Sábados, dando continuidade ao estudo do livro “Apelos da Mensagem de Fátima” de autoria da serva de Deus Irmã Lúcia, “pastorinha” que foi escolhida por Deus para propagar a Devoção ao Coração Imaculado de Maria no mundo.

Para explicitar este quarto Mandamento, que consiste em “Honrar pai e mãe”, ela parte da Sagrada Escritura que exprime esta ordem de Deus com os seguintes dizeres: “Honra teu pai e tua mãe, como te ordenou o Senhor, teu Deus” (Dt 5,16). Seguidamente, recorda como são Paulo – de acordo com Êxodo 20,12 – recomenda a prática deste Mandamento aos Efésios mostrando que vem acompanhado de uma promessa: “Filhos, obedecei a vossos pais segundo o Senhor; porque isto é justo. O primeiro mandamento acompanhado de uma promessa é: Honra teu pai e tua mãe, para que sejas feliz e tenhas longa vida sobre a terra” (Ef 6,1-3). Tendo em conta a importância de praticá-lo para alcançar a vida eterna a Irmã Lúcia assim se expressa:

Havemos de respeitar esta lei, que nos prescreve honrar pai e mãe, não só para sermos felizes na terra, mas, sobretudo, para evitarmos a desgraça eterna, dado que proceder em sentido contrário é contra a justiça e a caridade, constituindo, por isso mesmo, pecado grave que nos pode levar à eterna condenação, designada por morte eterna: “Quem amaldiçoar o pai ou a mãe será condenado à morte” (Ex 21,17). (IRMÃ LÚCIA, 2007, p. 230).

Assim sendo, demonstra como a exigência colocada por Deus quanto à obediência deste Mandamento expressa, ao mesmo tempo, a gravidade do pecado contra o mesmo. Vimos nos artigos anteriores que os três primeiros preceitos do decálogo explicitam os deveres do homem para com Deus. Com efeito, pelo fato de Deus nos ter amado primeiro, o seu amor deve ser correspondido pelo gênero humano de maneira primordial, ou seja, a nada devemos antepor o seu amor. Dos outros sete mandamentos, que indicam a ordem da caridade para com o próximo, este quarto Mandamento constitui o primeiro, como bem assegura o Catecismo da Igreja Católica (n. 2197): “Deus quis que, depois dele mesmo, honrássemos nossos pais, a quem devemos a vida e que nos transmitiram o conhecimento de Deus”. De fato, a salvação da pessoa humana está ligada à observância deste preceito que garante a harmonia da família e da sociedade humana, conforme mostra o Concílio Vaticano II: “O bem-estar da pessoa e da sociedade humana e cristã está intimamente ligado com uma favorável situação da comunidade conjugal e familiar” (Gaudium et Spes, n. 47). Pode-se verificar desde a tradição bíblica que a sua não observância acarreta maldições, tamanha é a sua significância para Deus: “Maldito o que despreza o pai e a mãe!” (Dt 27,16). O livro do Eclesiástico ao evidenciar este preceito evoca a dívida de gratidão que os filhos devem ter para com os pais quando diz: “Honra teu pai de todo o coração, não esqueças os gemidos de tua mãe; lembra-te de que sem eles não terias nascido, e faze por eles o que fizeram por ti” (Eclo 7, 29-30). De igual modo, recorda a responsabilidade devida a eles: “Meu filho, ajuda a velhice de teu pai, não o desgostes durante a sua vida. Se seu espírito desfalecer, sê indulgente, não o desprezes, […] pois tua caridade para com teu pai não será esquecida, e, por teres suportado os defeitos de tua mãe, ser-te-á dada uma recompensa” (Eclo 3,14-16). O autor dos Provérbios mostra que o respeito filial se expressa por meio da docilidade e da obediência: “Guarda, filho meu, os preceitos de teu pai, não desprezes o ensinamento de tua mãe. Traze-os constantemente ligados ao teu coração e presos ao teu pescoço. Servir-te-ão de guia ao caminhares, de guarda ao dormires e falarão contigo ao despertares” (Pr 6,20-22). E ainda: “Um filho sábio ama a disciplina, mas o incorrigível não aceita repreensões” (Pr 13,1).

Jesus Cristo, a revelação suprema do Pai, confirma este Mandamento e assegura que o mesmo precisa ser observado em sua essência ao refutar o legalismo ocasionado pelas distorções e as interpretações criadas para servir a conveniência de alguns grupos de fariseus e de sacerdotes:

Deus disse: Honra teu pai e tua mãe; aquele que amaldiçoar seu pai ou sua mãe será castigado de morte (Ex 20,12; 21,17). Mas vós dizeis: Aquele que disser a seu pai ou a sua mãe: aquilo com que eu vos poderia assistir, já ofereci a Deus, esse já não é obrigado a socorrer de outro modo a seus pais. Assim, por causa de vossa tradição, anulais a palavra de Deus. Hipócritas! É bem de vós que fala o profeta Isaías: Este povo somente me honra com os lábios; seu coração, porém, está longe de mim. Vão é o culto que me prestam, porque ensinam preceitos que só vêm dos homens (Is 29,13). (Mt 15,4-6).

O Senhor Jesus afirmou que não veio para abolir a lei e os profetas, mas sim para levá-los à perfeição (cf. Mt 5, 17). Nesse sentido, Ele exorta o gênero humano a viver este Mandamento e também a ensiná-lo aos seus semelhantes prometendo aos que lhes forem fiéis a recompensa da vida eterna: “Aquele que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar assim aos homens, será declarado o menor no Reino dos céus. Mas aquele que os guardar e os ensinar será declarado grande no Reino dos céus” (Mt 5,19).

Nesta perspectiva, o Catecismo da Igreja (n. 2199) assegura que este Mandamento se estende aos avós e aos familiares com mais idade que merecem o devido respeito; aos deveres dos alunos para com seus professores, dos empregados para com seus patrões, dos cidadãos para com os que administram e governam e dos religiosos para com os seus superiores. Também afirma que implica e subentende os deveres dos pais, tutores, professores, chefes, magistrados, governantes e de todos os que exercem alguma autoridade sobre outros ou sobre uma comunidade.

Uma vez que “exprimem os deveres fundamentais do homem para com Deus e para com o próximo, os dez mandamentos revelam em seu conteúdo primordial, obrigações graves” (CIC 2072): isso significa que a não observância de qualquer um destes preceitos incorre em pecado mortal, que se não for confessado leva à condenação eterna. Logo, pode-se constatar que a relação deste quarto Mandamento com a Mensagem de Fátima pode ser vista no apelo de Nossa Senhora proferido na aparição de agosto de 1917 quando disse: “Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas.” (IRMÃ LÚCIA, 2015, p.179). A partir disso, vamos rezar e nos sacrificar também para que se convertam aqueles pecadores que desrespeitam os próprios pais. Na verdade, a oração e o sacrifício são os dois pilares fundamentais que proporcionam para nós, cristãos, e para todos os homens de boa vontade a graça atual para a prática dos Mandamentos, pois nos mantêm em profunda comunhão com Deus e na centralidade de sua santa vontade, conforme nos mostra Jesus em seus ensinamentos.

Este tema vai ser abordado na catequese temática, que será transmitida por ocasião da Devoção Reparadora dos Cinco Primeiros Sábados, através das redes sociais do Santuário do Pai das Misericórdias (Facebook e Instagram), no dia 06 de fevereiro, com início às 14h, excepcionalmente. Com a Santíssima Virgem, vamos colaborar com Deus nos seu plano salvífico e conscientizando os homens da necessidade de vivenciar os Mandamentos!

Áurea Maria,
Comunidade Canção Nova

Referências

BÍBLIA de Jerusalém. Tradução de Euclides Martins Balancin et al. São Paulo: Paulus, 2002.

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Tradução da Conferência nacional dos Bispos do Brasil. 10. ed. São Paulo: Loyola, 2000.

CONSTITUIÇÃO PASTORAL Gaudium et Spes sobre a Igreja no mundo atual. In: COMPÊNDIO DO VATICANO II: constituições, decretos, declarações. 31. ed. Petrópolis: Vozes, 2016. p.141-256.

IRMÃ LÚCIA. Apelos da Mensagem de Fátima. 4. ed. Fátima – Portugal: Secretariado dos Pastorinhos, 2007.

IRMÃ LÚCIA. Memórias da Irmã Lúcia. 17. ed. Fátima – Portugal: Fundação Francisco e Jacinta Marto, 2015.

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