Como ensina a Santa Igreja?
Lembro que, desde criança, na minha casa, havia a prática de, na sexta feira, comer peixe. Mesmo criança, sem ainda entender o motivo, já esperava algo assim, porque, na sexta-feira, não se comia carne. Essa prática, muitas vezes perdida nos nossos lares cristãos hoje em dia, é, na verdade, carregada de um grande ensino católico e de um profundo sentido espiritual.
O Código de Direito Canônico, que rege as leis da Igreja, nos apresenta no cânon 1251 os dias de observância da abstinência de carne. Diz o código: “Guarde-se a abstinência de carne ou de outro alimento segundo as determinações da Conferência episcopal, todas as sextas-feiras do ano, a não ser que coincidam com algum dia enumerado entre as solenidades; a abstinência e o jejum na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.” Mostra-nos assim que todas as sextas-feiras são dias de abstinência de carne.
É importante destacar que o código também enfatiza que a abstinência não deve ser observada nos dias em que. no calendário litúrgico, apresentar alguma solenidade que caia em uma sexta-feira. Também o mesmo cânon apresentado deixa aberto as Conferências Episcopais determinarem as regras dessa prática. Isso abre precedentes para mudanças.
Na Igreja do Brasil, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) determinou que é possível, às sextas-feiras, fazer uma comutação da abstinência de carne por uma outra prática penitencial. A nota de rodapé deste cânon é clara: “A abstinência pode ser substituída pelos próprios fiéis por outra prática de penitência, caridade ou piedade, particularmente pela participação nesses dias na Sagrada Liturgia”. Com isso, podemos fazer a opção da observância da abstinência ou a sua comutação por outra prática.
É necessário lembrar que essa observância é carregada de matéria grave e é um mandamento da Igreja, por isso o descumprimento de tal observância de forma deliberada é considerado um pecado mortal e precisa ser confessado. A natureza de importância deste mandamento nos mostra quanto a Igreja preza por essa prática e o quanto ela deve ser ainda, nos nossos dias, divulgada e propagada nos nossos lares cristãos.
A pergunta que pode surgir é a seguinte: por que não comer carne na sexta-feira? A resposta é simples. Toda sexta-feira nos recorda a Paixão e Morte de Jesus. Todas as sextas-feiras nos levam àquela bendita Sexta-feira Santa em que o Filho do Homem foi morto na cruz, e a sua carne foi entregue como oferta para expiação dos nossos pecados, por isso a Igreja, como mãe e mestra, convida-nos a, todas as sextas-feiras, nos unirmos a Jesus Cristo na Sua Paixão e Morte; e como nos ensina o apóstolo, “completar, na nossa carne, o que falta a Paixão de Cristo” (cf. Cl 1,24).
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Não estamos falando somente de uma obrigação, mas de uma prática de piedade riquíssima para a nossa caminhada com Deus e a nossa busca pela santidade. Não percamos o olhar espiritual desta prática, carregando-a de um peso, mas usemos de tal prática retirando dela todos os frutos espirituais que ela pode nos oferecer.
Deus te abençoe!