Maria era uma jovem simples, esposa de José, quando Deus enviou o Anjo Gabriel para dizer-Lhe que havia sido escolhida para ser mãe do Messias, por obra do Espírito Santo
Maria pergunta e dialoga com o anjo e, sem compreender o mistério diante dela, ‘’Ela ficou intrigada com essa palavra e pôs-se a pensar qual seria o significado da saudação. O Anjo, porém, acrescentou: ‘Não temas…’’ (Lc 1 29-30) Vamos imaginar a nossa realidade, “pôs-se a pensar’’, podemos dizer que Ela, por um instante, fez uma revisão de vida, fez memória, como poderia Deus escolhe-La para ser Mãe do Seu Filho, uma jovem judia de Nazaré na Galiléia? Na passagem anterior, a Palavra nos traz: ’’uma virgem desposada com um varão chamado José, da casa de Davi, e o nome da virgem era Maria’’ (Lc 1, 26-27). Encontramos um fato crucial para sua época e idade, Ela seguia as leis judaicas, era temente, tinha uma espiritualidade encarnada, sua vida pessoal integrada, comprometida, a alma de Maria estava preparada para responder e aceitar o plano salvífico de Deus para a humanidade.
‘’Quis o Pai das misericórdias que a Encarnação fosse precedida pela aceitação daquela que era predestinada a ser Mãe de seu Filho, para que, assim como uma mulher contribuiu para a morte, uma mulher também contribuísse para a vida.’’ (Lumen Gentium 56)
Maria pertence ao grupo dos anawim ou resto de Israel, os que esperavam fielmente o Messias prometido. Ela é a nova Eva, recebe a missão das santas mulheres já preparada pela Antiga Aliança, a primeira Eva pecou por desobediência, Ela vem trazer o valor irreparável da obediência, vence todo mal que se arrasta para muitos filhos que deixam-se seduzir por respostas imediatas e irrefletidas. Ela responde com uma fé livre e comprometida: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra’’(Lc 1,38).O seu Sim torna-a mãe dos viventes, a Mãe de Deus, a Nossa Mãe, a filha predileta do Pai e esposa do Espírito Santo.
Maria, a primeira vocacionada e discípula do Senhor, Ela aparece nas bodas de Caná com seu pedido, sua intercessão quando fala aos serventes: “Fazei tudo que Ele vos disser” (Jo 2,5). Encontramos na Palavra quando Jesus iniciou o seu ministério, Ela é modelo de discípula que vive os critérios do Reino. Associou-se ao sacrifício salvador de Jesus, recebeu como filha todas as pessoas remidas por Ele e aceitou com esperança a morte de Jesus na cruz. Ela foi a primeira discípula e ensinou-nos que o amor é doação completa, terno e forte, silencioso e eloquente, sempre leva-nos a Jesus, o único salvador, e cuida de nós com amor do céu, motivo por que a invocamos como mãe e ‘‘Medianeira de todas as graças’’.
Nós, católicos, amamos as devoções ao longo do ano litúrgico, alegramo-nos por ter sido livre do pecado original na festa da Imaculada Conceição (08 de dezembro) e por ser a Mãe de Deus (1 de janeiro); louvamos sua virgindade ao conceber Jesus na festa da Anunciação do Senhor (25 de março) e celebramos sua ida em corpo e alma ao céu na na festa da Assunção, o que reforça nossa esperança na vida eterna (15 de agosto), porém, celebramos o dia mais importante sua Natividade dia (08 de setembro).
Consagrada no ventre
Quando penso em meu nascimento, em minha vocação, na paternidade de Deus e na maternidade de Maria, recordo-me da minha história de vida, em todos os momentos fui marcada por eles. Tenho partilhado que não consigo separar as duas gestações: a biológica e a espiritual, verdadeiramente a Virgem Maria tem uma presença forte e determinante em minha vida, que encontramos em Jeremias: “Antes que no seio fosses formado, eu já te conhecia; antes de teu nascimento, eu já te havia consagrado, e te havia designado profeta das nações”(Jr 1,5).
Assim como Maria, na vida do consagrado, esse mistério se renova, a escolha de Deus, o Seu desígnio e predestinação, não por mérito, mas por graça. Não somos dignos, mas é Deus quem nos dignifica, aqui me emociono, pois lembro do nosso pai fundador Padre Jonas Abib, quantas vezes eu fui curada, fui restaurada e resgatada por suas pregações. Por muitas vezes ele falou “é Deus quem nos dignifica, por nós mesmos não somos dignos, a dignidade vem d’Ele”.
Um carta para Deus
Conheci a Canção Nova na minha juventude, morava no Rio de Janeiro, vivendo uma vida normal, morando com meus pais, realizada profissionalmente, me divertindo, com amigos, praias, músicas, mas não realizada como pessoa nos meus afetos e sentimentos, havia um vazio existencial. Reconheci na caminhada a causa, foi por falsas liberdades e escolhas não acertadas. Porém, lá estava Ela, a Virgem Maria, a Maria de Nazaré, a Mãe da Misericórdia, que, na minha infância, dos três aos doze anos, pude homenageá-la no mês de maio, nos cantos e coroações em minha terra natal.
A Canção Nova é uma resposta de Deus a uma carta que escrevi para Ele quando tinha dezessete anos: “Queria estar em lugar diferente, pessoas diferentes, cultura diferentes, pois aqui, em Campos, tudo é comum a todos’’. Eu não imaginava que esse desejo e anseio do meu coração era um lugar, um povo escolhido e bem disposto para uma missão: esperar a segunda vinda do Senhor, a Comunidade Canção Nova.
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Maria em minha vocação e apostolado
Foi Ela quem me conduziu, me apresentou e continua cuidando de mim como uma Mãe que cuida da felicidade dos seus filhos. Minha vocação e escolha de estado de vida têm as mãos d’Ela.
“Na Canção Nova é Ela quem tudo faz, e nada é feito sem Ela’’. Assim também quando somos acompanhados e assumimos compromissos definitivos, como é o caso do estado de vida, dentro da comunidade temos: casados, solteiros, sacerdotes e celibatários. Maria teve sua intervenção em minha escolha do estado de vida, Ela me acompanhou, eu fui dócil e atenta aos sinais, não caminhei sozinha, tudo com a sua presença materna e amiga e das autoridades designadas para me ajudar nesse discernimento.
Durante os anos de 2009 a 2014, eu fui missionária da missão em Fortaleza, lugar que recordo com carinho e muito amor pelo acolhimento, cuidado e zelo do povo cearense pelos missionários da Canção Nova. Eles têm o padre Jonas Abib como um pai espiritual, e, em gratidão, cuida dos seus filhos, foi assim que me senti: amada, cuidada e apoiada em meu apostolado e missão por todos eles.
Um dos apostolados foi trazer os peregrinos para a Canção Nova e passar pelo Vale do Paraíba: Santuário de Aparecida, Frei Galvão – Guaratinguetá, Bethânia – Lorena e Canção Nova. Quantas recordações, quantas emoções, histórias de um povo apaixonado por Deus e pelo Carisma Canção Nova! Naquela ocasião, o Santuário do Pai das Misericórdias estava em construção, muitos peregrinos trouxeram suas doações de ouro, mesmo sabendo que poderia não ver a obra terminada em vida, atos de fé, de amor e generosidade. De fato, algumas contemplam do céu a beleza desse lugar santo.
Avançou na peregrinação da Fé (Lumen Gentium 58)
Essas idas e vindas resultaram em um convite vindo das próprias peregrinas: “Quando você fizer uma peregrinação para Terra Santa, nós iremos com você”. Eu era nova dentro da missão na comunidade e respondia que somente os missionários compromissos definitivos e guias poderiam fazer. Mas aqui a palavra do Anjo se concretizou em minha vida também, pois “para Deus nada é impossível’’. Um dia, uma das peregrinas falou: “Minha mãe vai fazer 85 anos e o meu presente para ela é leva-la ao Pentecostes, com os padres e pregadores que ela gosta. Forme o grupo que eu vou te ajudar”. “Se a voz do povo é a voz de Deus’’, dei um passo na fé, primeiro vi no calendário qual datas estaríamos lá na Terra Santa, vi que dia 24 de maio seria um dos dias, que dia lindo e caro ao meu coração de Canção Nova e Família Salesiana, Dia de Nossa Senhora Auxiliadora! Em três meses formamos um grupo com exatamente 24 pessoas.
Fiz experiências memoráveis e decisivas em minha vida, ninguém que faz peregrinação volta o mesmo, como peregrinos crescemos na fé, fazemos escolhas decisivas, somos envolvidos pelo mistério da passagem do Filho de Deus na terra, que nos convida a viver como eternos peregrinos.
Em 2014, fui remanejada para frente de missão em São Paulo, fui para viver o novo desígnio de Deus, algo profundo que Deus queria fazer em minha vida. Fui para iniciar juntos com a equipe o Projeto Canção Nova Abraça São Paulo, porém, eu quem fui abraçada, pela missão, pelo povo e pela cidade. Foi o ano da canonização de José de Anchieta, Apóstolo do Brasil, santo que eu consagrei a minha missão e apostolado naquela capital, e a Ela, a Virgem Auxiliadora dos Cristãos.
Foi um tempo de enamoramento por Deus, tempo de olhar para o meu interior e ver adentrar nas verdades e desejos do meu coração que era somente um, ser fiel ao chamado de Deus e cumprir sua missão em vida de vocação. Em São Paulo, em meio à agitação e correrias, tive a graça de parar e ouvir a Deus quanto ao meu estado de vida. Não foi fácil, mas fui envolvida por uma força interior uma ‘santa’ inquietação e fui movida a dar passos da fé e dizer para o Pai “Seja feita a Vossa vontade’’. Deus me chamava a assumir o meu estado de vida aceitar o “convite’’ a ser celibatária pelo Reino dos céus.
“O celibato é um dom. A iniciativa é de Deus que cria a pessoa para este
estado de vida. Pelos sinais dos acontecimentos, a pessoa se descobre
assim chamada por Deus. Dócil à descoberta feita, a pessoa assume
com generosidade.” (Estatuto Semente, art. 108)
Rezei, pedi a intercessão de Dom Bosco, pesquisei a novena de Nossa Senhora Auxiliadora… E, para minha surpresa, encontrei na memória históricas de Dom Bosco que ele havia feito uma novena para escolha do seu estado de vida. No caso, ele fez de Nossa Senhora das Graças (a mesma da minha primeira devoção, quem eu cantava e coroava) e, no dia 16 de novembro, Dia da Mãe da Misericórdia, fiz o meu compromisso definitivo de celibato pelo Reino dos Céus, dentro do Carisma Canção Nova, na paróquia Nossa Senhora Auxiliadora – Bom Retiro, em São Paulo, a mesma em que Padre Jonas se ordenou no ano de 1964.
Simone Nunes
Missionária da Com. Canção Nova