Por Cristo, com Cristo e em Cristo

Ao rezarmos a Salve-Rainha, dizemos: “A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas”. Este trecho da oração esconde uma grande verdade. A vida nesta terra é um vale de lágrimas, não porque não temos felicidade aqui, mas porque todo ser humano faz a experiência da dor, do sofrimento, do choro. A verdadeira realização se encontra na eternidade, quando, depois de uma vida de luta nesta terra, seremos admitidos ao convívio dos eleitos, mas suplicamos a Virgem Maria na oração que nos ensine a viver neste “vale de lágrimas” como ela viveu.

:: O pai misericordioso não renega seus filhos

A dor e o sofrimento são inerentes à vida humana. Quem crê em Deus e quem não crê um dia vai sofrer nesta vida. Um dia, derramaremos lágrimas por alguém que partiu, por alguma situação, por uma dor física, por uma doença, um problema, uma frustração, uma decepção e inúmeras outras situações. São tantas as possibilidades de sofrimento nesta vida que nem conseguimos descrever todas elas. Mas diante da dor e do sofrimento, muitas vezes nos perguntamos: qual o sentido de tanto sofrimento? Porque tantas mortes, tantas guerras, tanta dor e tanto sofrimento? Essas perguntas fazem parte daquela categoria de perguntas que não tem resposta.

“Se hoje podemos ter uma relação de amizade com o Pai, é porque o Filho nos reconciliou por meio da sua dor, do sofrimento” | Foto ilustrativa: Julián Iglesias via Cathopic

O sofrimento é um mistério, e por mais que esteja presente em toda vida humana, nem sempre sabemos o porquê. O que conseguimos é dar a ele um sentido, é enxergar que, além da dor, existe esperança e existe a possibilidade de uma vida nova. Se o sofrimento faz parte da vida humana, também podemos dizer que a esperança tem o seu lugar nesta vida. Somos chamados a ser homens e mulheres de esperança, mesmo diante da desesperança.

Outra grande lição que o sofrimento nos concede é de perceber que ele possui uma redenção. Foi somente em Cristo que isso ganhou sentido. Foi o sofrimento do Redentor que nos conquistou tamanha salvação. Se hoje podemos ter uma relação de amizade com o Pai, é porque o Filho nos reconciliou por meio da Sua dor, do sofrimento. Depois deste evento salvífico, todo sofrimento encontra sentido quando unido ao sofrimento de Cristo. Por amor, Ele se entregou e por amor Ele aceitou sofrer. Se pudermos dar uma resposta à pergunta sobre o sentido do sofrimento, ela será: AMOR!

São João Paulo II escreveu uma Carta Apostólica chamada “Salvifici Doloris” em que abordou o tema do sentido cristão do sofrimento humano. Este documento é uma grande preciosidade, e vale a pena ler. Queria destacar, aqui, o número 20, onde o Papa nos diz:

“Se um homem se torna participante dos sofrimentos de Cristo, isso acontece porque Cristo abriu o seu sofrimento ao homem, porque Ele próprio, no Seu sofrimento redentor, se tornou, num certo sentido, participante de todos os sofrimentos humanos. Ao descobrir, pela fé, o sofrimento redentor de Cristo, o homem descobre nele, ao mesmo tempo, os próprios sofrimentos, reencontra-os, mediante a fé, enriquecidos de um novo conteúdo e com um novo significado.”

Os sofrimentos que hoje enfrentamos encontram lugar também no sofrimento de Cristo. Não rezamos a quem é distante de nós e a quem não nos entende, mas rezamos Àquele que se fez carne e sofreu a mesma condição humana que eu e você. No sofrimento de Cristo, existe espaço para unirmos as nossas dores. Ele também sofreu! O nosso sofrimento pode ser unido ao sofrimento dele, e ser para nós também causa de redenção. Podemos unir as nossas dores às dores dele e aprender dele a caminhar. Todos os nossos sofrimentos podem ser vividos por Cristo, com Cristo e em Cristo. Neste vale de lágrimas não caminhamos sozinhos. Existe alguém que sabe da nossa dor, que já passou por dor semelhante e que, hoje, nos ensina a colher todos os frutos que o sofrimento pode me conceder, seja nesta vida terrena, seja na eternidade.

Não permita que os seus sofrimentos sejam em vão! Aprenda a unir a sua dor à de Cristo. Fale com Ele. Nos ensinou o Papa Bento XVI: “Quando já ninguém me escuta, Deus ainda me ouve. Quando já não posso falar com ninguém, nem invocar mais ninguém, a Deus sempre posso falar. Se não há mais ninguém que me possa ajudar – por tratar-se de uma necessidade ou de uma expectativa que supera a capacidade humana de esperar – Ele pode ajudar-me. Se me encontro confinado numa extrema solidão…o orante jamais está totalmente só.” Encontre na oração, na conversa com Deus, o consolo necessário. Não se esqueça que tudo o que vivemos pode ser vivido com Cristo, por Cristo e em Cristo.

Deus te abençoe!