“No primeiro dia da semana, estávamos reunidos para a fração do pão.”
Não sei se você já passou por isso, mas acredito que boa parte dos católicos já viveu a experiência de não saber responder quando alguém pergunta alguma coisa a respeito da nossa fé, da doutrina e da maneira com que cremos e vivemos nossa relação com Deus. Por isso é importante o conselho que São Pedro nos dá: “Estai sempre prontos a dar razão da vossa esperança a todo aquele que a pedir” (I Pd 3,15).
Assim, esse artigo tem por objetivo ajudar você a buscar as respostas para essa e outras questões que, talvez, você tenha dúvidas, a fim de viver melhor a nossa fé.
Logo nos primeiros livros da Bíblia, podemos ver que Deus, ao criar todas as coisas e vendo a sua obra terminada, descansou e santificou o sétimo dia, o sábado (cf. Gn 2,2-3), e também, na Lei de Moisés, o Senhor diz para o povo se lembrar da santificação do sábado (cf. Ex 20,8). O próprio Jesus, como bom judeu que era, cumpriu o preceito do sábado.
Porém, não podemos esquecer que Jesus veio trazer à Lei do Antiga Aliança a plenitude, por isso cumpriu plenamente o descanso do sábado no silêncio do sepulcro, no sábado santo, e inaugurou a nova criação, a Nova e Eterna Aliança no Domingo da Ressurreição. Assim, o Domingo, para os cristão, torna-se o Dia do Senhor, o oitavo dia e também o primeiro dia da nova criação, que não mais está sujeita à lei e ao pecado, mas que foi, enfim, libertada do poder da morte e do pecado pela ressurreição de Jesus.
Sucessão Apostólica
É interessante perceber também que essa dúvida é antiga dentro da Igreja, pois, no primeiro século, muitos dos judeus convertidos ao cristianismo queriam que os costumes judaicos fossem seguidos pelos cristãos, como a observância do sábado, a circuncisão e os hábitos alimentares. Porém, a Igreja, desde os Apóstolos, se reunia aos Domingos, no primeiro dia da semana, para celebrar a missa, como está narrado em Atos dos Apóstolos 20,7:
“No primeiro dia da semana, estávamos reunidos para a fração do pão.”
Em I Cor 16,2:
“Quanto à coleta em favor dos irmãos… Todo primeiro dia da semana, cada qual separe livremente o que tenha conseguido economizar, de modo que não se espere a minha chegada para recolher os donativos.”
E também Cl 2,16:
“Portanto, que ninguém vos condene por questões de comida ou bebida, de festa ou lua nova ou sábado.”
Além da Palavra, que atesta que os Apóstolos guardavam o Domingo, o dia da ressurreição do Senhor, também temos o testemunho dos Padres da Igreja dos primeiros séculos, que afirmam a mesma coisa, pois receberam esse costume dos Apóstolos e da tradição da Igreja.
A Epístola de Barnabás, mesmo não fazendo parte da seleção dos livros da Bíblia, é um dos documentos mais antigos da Igreja, escrita no ano 74 d.C., anterior ao livro do Apocalipse, e nos diz:
“Guardamos o oitavo dia (o Domingo) com alegria, o dia em que Jesus levantou-se dos mortos” (Barnabás 15,6-8).
Também temos o testemunho dos santos, como Santo Inácio de Antioquia (✝107), bispo e mártir da Igreja:
“Aqueles que viviam segundo a ordem antiga das coisas voltaram-se para a nova esperança, não mais observando o sábado, mas sim o dia do Senhor, no qual a nossa vida foi abençoada, por Ele e por sua morte.(…) É absurdo falar de Jesus Cristo e, ao mesmo tempo, judaizar. Não foi o cristianismo que acreditou no judaísmo, e sim o judaísmo no cristianismo, pois nele se reuniu toda língua que acredita em Deus” (Carta aos Magnésios. 9,1).
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São Justino (✝165), mártir, também escreveu:
“Reunimo-nos todos no dia do sol, porque é o primeiro dia após o sábado dos judeus, mas também o primeiro dia em que Deus, extraindo a matéria das trevas, criou o mundo e, neste mesmo dia, Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dentre os mortos” (Apologia 1,67).
E São Jerônimo (✝420), doutor da Igreja e responsável por traduzir a Sagrada escritura, nos diz:
“O Dia do Senhor, o Dia da Ressurreição, o Dia dos Cristãos, é o nosso dia. Por isso se chama Dia do Senhor. Foi nesse dia que o Senhor subiu vitorioso para junto do Pai. Se os pagãos o denominam Dia do Sol, também nós o confessamos de bom grado: pois, hoje, levantou-se a Luz do Mundo; hoje, apareceu o Sol de Justiça, cujos raios trazem a salvação” (CCL 78,550,52).
A Didaquê (do grego para “doutrina”), um documento do século I, também conhecido como Instrução dos Doze Apóstolos, escrito por volta do ano 70 d.C, que trata do catecismo cristão ensinado pelos apóstolos aos primeiros cristãos, diz:
“Reuni-vos no dia do Senhor para a fração do pão e agradecei depois de haverdes confessado vossos pecados, para que vosso sacrifício seja puro” (Didaquê).
Assim, o preceito do sábado da Antiga Aliança foi elevado à sua plenitude no Domingo, o Dia do Senhor, que inaugurou por sua ressurreição a Nova e Eterna Aliança. Pois, assim como nos diz São Paulo, na carta aos Hebreus, a Nova Aliança é melhor e superior a Antiga (cf. Hb 8, 6-7.13).
Portanto, vivamos o Domingo como nos manda a Santa Mãe Igreja, como um dia verdadeiramente dedicado a Deus, memorial da ressurreição e da nossa salvação, em que somos especialmente convidados a participar da Santa Missa, à caridade fraterna, a dedicar-se à família e ao descanso. Afinal, “este é o dia que o Senhor fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos” (Sl 118,24).
Deus abençoe você e sua família!
Matheus Cesário
Seminarista da Comunidade Canção Nova