VOCAÇÃO

Diácono Gleidson: “Sem Cristo, tudo é perda”

No último artigo da Série “Novos Padre para a Igreja”, você vai conhecer a história vocacional do diácono Gleidson Carvalho

Há dois dias da ordenação e mesmo com inúmeras atividades e preparativos, diácono Gleidson consegue manter toda a gentileza e disponibilidade para recordar e contar sua história vocacional. Diverte-se com algumas recordações e se emociona com outras passagens de sua vida, as quais, de forma simples, mas muito concreta, foram sendo encaminhadas até este momento da sua ordenação sacerdotal.

Gleidson sendo acompanhado pelos pais para a ordenação diaconal – Santuário do Pai das Misericórdias. Fotos: cancaonova.com

No seu caminho vocacional para ingressar na Comunidade Canção Nova, Gleidson já cogitou um discernimento também ao sacerdócio, mas foi orientado a dar um passo de cada vez. Mas já no primeiro ano de formação inicial, dentro da Comunidade Canção Nova, na casa de Lavrinhas, percebeu que essa inquietação o conduzia concretamente a esse discernimento.

Ele nos contou que, naturalmente, foi se tornando amigo de alguns dos meninos que ingressaram para a Canção Nova como candidatos ao sacerdócio. E sem que ele fizesse parte oficialmente deste grupo, era sempre chamado para servir no altar. E aquele serviço fazia bem ao seu coração. Mas como tudo acontecia naturalmente, seguiu sua experiência vocacional neste primeiro ano de comunidade.

A surpresa, ele nos disse, foi quando, durante uma missa celebrada pelo padre Luizinho, um dos formadores da casa de Lavrinhas, ele leu um texto de Joseph Ratzinger (Papa emérito Bento XVI), que falava sobre a primeira missa de um sacerdote. E Gleidson disse que, ao ouvir aquele texto, o seu coração ardia de uma forma nova, intensa, e que ele queria pedir aquele texto ao padre, no final da missa, para que pudesse ler novamente, meditar, tê-lo consigo. Porém, antes da missa acabar, o padre disse que daria cópias daquele texto apenas para os rapazes que eram candidatos ao sacerdócio, o que entristeceu o coração de Gleidson.

E ele nos disse que, por mais que parecesse uma coisa simples, aquilo o deixou aborrecido; e não querendo se sentir assim, foi até a capela rezar. Lá, diante de Jesus, falou sobre o que estava sentindo, e disse que se, de fato, fosse para dar um passo concreto em direção ao discernimento ao sacerdócio, gostaria de receber uma cópia daquele texto. “Quando eu saí da capela, encontrei o padre Luizinho, e ele me chamou e perguntou se eu era candidato ao sacerdócio, e eu disse que não. Mas, mesmo assim, ele me pediu uma ajuda: distribuir aqueles papéis entre os candidatos e depois separar um para mim. Quando eu vi que era justamente o texto do Ratzinger, eu fui tomado por uma alegria tão grande, uma felicidade! Eu saí gritando os meninos para entregar os textos, e pulando de alegria. E a partir dali, eu vi que, de fato, era para eu começar esse discernimento. Eu procurei os formadores, que me acompanharam nessa fase.”

De Lavrinhas, Gleidson seguiu para o segundo ano de formação na Casa de Maria em Queluz (SP). Por orientação dos formadores, não foi incluído entre os candidatos ao seminário, para que amadurecesse um pouco mais essa decisão. Disse que lá já não servia ao altar, usando a túnica, como os outros candidatos. E sentia falta. Mas seguia no seu caminho formativo. Até que, um dia, o padre responsável pela casa de formação, com o qual Gleidson não tinha partilhado sobre seu desejo pelo sacerdócio, entrou em seu quarto e pediu uma decisão. “Ele chegou, entrou no quarto e me disse: ‘Você vai ou não fazer este discernimento’”. E eu disse que precisava de um tempo para responder. Ele disse que me daria três meses. Fiquei confortável com aquele tempo, mas, em seguida, ele explicou que, na Casa de Maria, um dia equivale a um mês, então eu teria 3 dias para responder”. 

Gleidson contou que ficou tenso, sem saber como entenderia se era ou não para dar mais este passo. Tentou fugir do formador naqueles dias, mas o terceiro dia dava justamente no Domingo de Ramos, e ele estava escalado para ajudar na liturgia. “Chegou o Domingo, e eu não tinha essa resposta. Fui ajudar a preparar as coisas da liturgia, e pedi ao Bruno (candidato ao seminário que estava na escala junto com ele) para perguntar ao padre se era para servir usando a túnica (como os seminaristas), ou usando a opa (como os ministros). Eu não queria conversar com o padre, por isso pedi esse favor ao Bruno. E, de longe, acompanhei a cena dele conversando com o padre, e os dois dando gargalhadas. Quando o Bruno voltou, ele me disse que o padre havia falado que a decisão de usar a túnica ou não era minha.” 

Os preparativos para a missa estavam prontos, mas a escolha não. E Gleidson contou que a procissão já estava organizada, mas ele e o Bruno estavam ainda na sacristia. “Entrou uma irmã da comunidade e disse que tínhamos que ir logo, porque estavam nos esperando, e que tinha pressa. Naquela hora, eu respirei fundo e peguei a túnica. Eu fiz ali a minha escolha. E foi a melhor decisão que eu poderia tomar.

E eu nunca me arrependi de ter pegado aquela túnica. Sem essa escolha, nada teria acontecido, Deus não iria me obrigar. Graças a Deus, tomei aquela decisão. 

Formação e mais decisões

Gleidson entrou oficialmente para o seminário, onde viveu todas as etapas de estudo e formação. Um tempo longo, exigente, mas muito necessário, afirmou. “Eu poderia dizer que a formação nos forja homens para a vivência com o povo, e para a vivência com o sagrado. Entrei um menino e saio um homem. Este tempo de formação foi essencial.”

Ordenação diaconal – Santuário do Pai das Misericórdias. Fotos: cancaonova.com

E entre o curso de Filosofia e Teologia, os seminaristas vivem um ano pastoral, em que são enviados para alguma casa de missão da comunidade Canção Nova. Gleidson disse que, nesta fase, viveu uma experiência bem difícil. “Eu não estava em crise vocacional, ligada ao chamado ao sacerdócio, mas eu estava fisicamente muito cansado, me sentia esgotado. Tinha acontecido o acidente com o carro em que alguns dos seminaristas estavam, e o meu irmão de quarto, o Tiago, faleceu. Então, tudo isso me esgotou muito; e quando eu fui para a missão, eu não queria mais voltar para o seminário, não tinha vontade nenhuma.”

Mas nesta falta de disposição entrou a providência de Deus, que conduziu tudo para que Gleidson participasse, mesmo sem querer, do retiro para seminaristas. “Eu fiz de tudo para não participar, até marquei um grande evento na missão, para ter desculpas pra não sair naquele final de semana. Mas a formadora comprou a passagem e colocou na minha mesa. E mesmo com raiva, eu viajei. Só que, naquele encontro, Deus me visitou de uma forma nova, e justamente através da fraternidade, do convívio com os irmãos seminaristas. Eu saí daquele encontro contando os dias para voltar para o seminário”.

O ano pastoral se encerrou, e quando perguntaram a Gleidson qual era a sua decisão, se voltar ou permanecer na missão, ele respondeu: “Eu quero e preciso voltar para o seminário”. E afirmou: “Ali, eu decidi de novo colocar a túnica, fiz, mais uma vez, uma escolha por responder a este chamado”. 

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Lema

O lema sacerdotal escolhido pelo diácono Gleidson manifesta este desejo de se decidir todos os dias por Cristo, partindo de uma experiência de ter sido tocado por um Amor maior que tudo. “O que era para mim ganho, tive-o como perda, por amor de Cristo” (Fil 3,7). Gleidson nos explicou que uma das traduções desta passagem o apóstolo Paulo diz que considera lixo, esterco o que está fora de Cristo. E afirmou: “Este lema pra mim tem um significado muito forte: se Deus não estiver em tudo aquilo que eu for fazer, então tudo é lixo, tudo é perda. Tudo é feito por amor de Cristo, porque sem o amor nada acontece, não tem sentido. O amor de Cristo que me leva a querer que ele esteja em todas coisas, porque se ele não estiver, tudo acaba sendo perda. Se tiro Cristo, tudo vira lixo.”

Daqui a dois dias, o diácono Gleidson vai ser ordenado, e no coração que decidiu escolher pela Túnica, ou seja, pela Vontade de Deus, pelo Sacerdócio, está o desejo de decidir-se, todos os dias, pelo amor de Jesus Cristo, e comunicar este Amor através do ministério sacerdotal.

Saiba mais: 

Dia – 12 de junho de 2022
Hora: 9h30
Local: Santuário do Pai das Misericórdias – Canção Nova
Celebrante: Dom Joaquim Wladimir Lopes Dias – Bispo de Lorena (SP)

Ficha Técnica 

Diácono Gleidson de Souza Carvalho é brasileiro, nascido em Valença (RJ). É Membro da Associação Internacional Privada de Fiéis – Comunidade Canção Nova, desde 2012, no modo de compromisso do Núcleo. Foi ordenado diácono no dia 12/12/2021, no Santuário do Pai das Misericórdias.

Diáconos ordenados em visita ao Monsenhor Jonas Abib
Fotos: cancaonova.com

 

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