Não foi o Batismo sacramental que Jesus recebeu, pois Ele não tinha o pecado original. João Batista foi o escolhido pelo Pai para preparar o caminho do Redentor, anunciar a Israel a chegada do Messias. Ele é a “Voz que clama no deserto. Preparai o caminho do Senhor, endireitai as veredas para Ele” (Mt 3,3). João deixou claro: “Eu vos batizo com água… Ele vos batizará com o Espírito santo e com fogo” (Mt 3,11). Santo Agostinho diz que “João é a voz, Cristo a Palavra”.
Por que, então, Jesus entrou na fila dos pecadores se Ele não tinha pecado?
Ensina a Igreja que foi para “ser solidário com os pecadores”, e aceitar ser o “Servo de Javé”, que, por Sua Paixão e morte de cruz, salvaria o mundo, pagaria à Justiça Divina a culpa de toda a humanidade, o que nenhum homem poderia fazer (cf. Cat. n. 616).
Ali começou a vida pública de Jesus; o Espírito Santo desceu sobre a Sua humanidade e o Pai confirmou a predileção por Seu Filho. É a Epifania de Jesus a Israel como o Seu Messias, que o povo judeu esperava desde os anúncios dos Profetas.
Diz a Liturgia das Horas que Jesus entrou nas águas do Jordão para “lavar todas as águas, até às fontes”, para a purificação dos cristãos pelo Batismo.
Obediência ao Pai
O batismo de Jesus foi um gesto de obediência à vontade do Pai e de profunda humildade, pelo qual Jesus dissolveu a desobediência e a soberba de Adão. Ele é o Novo Adão. Ali no Jordão “Ele aceitou, por amor a nós, este batismo de morte para a remissão dos nossos pecados” (Catecismo n. 536). E ali Ele recebeu o Espírito Santo em plenitude para ser a fonte do Espírito para toda a humanidade. No batismo de Jesus, “abriram-se os Céus” (Mt 3,16) que o pecado de Adão havia fechado e as águas são santificadas; é o prelúdio de uma nova criação.
O grande são Gregório Nazianzeno (†379), doutor a Igreja, explica de maneira maravilhosa:
“João reluta, Jesus insiste. Eu é que devo ser batizado por ti (cf. Mt 3,14), diz a lâmpada ao Sol, a voz à Palavra, o amigo ao Esposo, diz o maior entre todos os nascidos de mulher ao Primogênito de toda criatura, aquele que estremecera de alegria no seio materno ao que fora adorado no seio de sua Mãe, o que era e seria precursor ao que já tinha vindo e de novo há de vir. Eu é que devo ser batizado por ti. Podia ainda acrescentar: e por causa de ti. Pois sabia que ia receber o batismo de sangue ou que, como Pedro, não lhe seriam apenas lavados os pés.
Jesus sai das águas, elevando consigo o mundo que estava submerso, e vê abrirem-se os céus de par em par, que Adão tinha fechado para si e sua posteridade, assim como o paraíso lhe fora fechado por uma espada de fogo. O Espírito, acorrendo Àquele que lhe é igual, dá testemunho da sua divindade. Vem do céu uma voz, pois também vinha do céu aquele de quem se dava testemunho. E ao mostrar-se na forma corporal de uma pomba, o Espírito glorifica o corpo de Cristo, já que este, por sua união com a divindade, é o corpo de Deus. De modo semelhante, muitos séculos antes, uma pomba anunciara o fim do dilúvio”. (Oratio in sancta Lumina, 14-16)
Leia mais:
:: A diferença entre batismo evangélico e católico
:: Tempo de esperança no Senhor que veio e que vem
:: Qual a razão da sua esperança?
Nós, que também fomos batizados, voltamos a ser filhos de Deus, no Filho de Deus, por adoção (cf. Cat. n. 1250), membros da Igreja, novamente, herdeiros do Céu. Pelo Batismo fomos sacramentalmente assimilados a Jesus, devendo repetir este mistério de rebaixamento, humildade e de arrependimento; descer à água com Jesus para subir novamente com Ele; “renascer da água e do Espírito” (Jo 3)”para tornar-se, no Filho, filho bem amado do Pai” (Cat. n. 537) e viver Nele uma vida nova.
Cumprimento da promessa
No Batismo, somos sepultados com Cristo para ressuscitar com Ele. São Paulo disse: “Se ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto… Pois morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo, em Deus” (Col 3,1-3).
O Batismo, portanto, nos chama a uma vida nova; é a “entrada sacramental na vida da fé” (Cat. n. 1236). Nele o batizado recebe “a semente da fé” que deve fazer crescer, pois “sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11,6), e o “justo vive pela fé” (Rom 1,17). Ao catecúmeno ou ao seu padrinho é feita a pergunta: “Que pedis à Igreja de Deus?”. E este deve responder: “A fé”.
Então, o cristão deve viver pela fé; fazê-la crescer na luta contra as fraquezas da natureza e os pecados. O Batismo nos faz “cristãos”, isto é, “imitadores de Cristo”. São Leão Magno, papa e doutor da Igreja, dizia: “De que vale carregarmos o nome de cristãos, se não imitamos a Jesus Cristo?”
Em nosso Batismo, nossos pais e padrinhos, na fé da Igreja, assumiram por nós as promessas do Batismo, renunciaram o pecado, a Satanás e a todos as suas obras e professaram a Fé da Santa Igreja. Rezaram o Credo!
Será que estamos cumprindo essa promessa?
Será que lutamos todos os dias, sem cessar, para renunciar as obras do demônio? Combatemos os nossos pecados? “Resistimos até o sangue na luta contra o pecado?” (Heb 12,4).
Sem a oração, sem vigilância, sem vida sacramental, com Confissão e Comunhão, não podemos fazer a vontade de Deus.
Com Jesus e Maria, com a intercessão dos santos por nós, sem cessar, cumpramos as promessas do nosso Batismo; nossa salvação!
Professor Felipe Aquino
Apresentador do programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na TV Canção Nova