RETIRO MENSAL

Da confusão de Babel à comunhão de Pentecostes

No Pentecostes é Deus quem derrama “línguas de fogo”

No dia 28 deste mês, a Igreja celebra a Solenidade de Pentecostes. A palavra grega “pentecostes” significa cinquenta, isto é, os cinquenta dias que se passaram após a ressurreição de Jesus.

Após este fenômeno carismático e espiritual, os apóstolos e os demais discípulos de Jesus puderam iniciar um novo tempo, uma nova expansão da mensagem do Evangelho, com destemor e coragem. O dom da glossolalia, recebido com a descida do Espírito Santo, deu-lhes poder de falar novas línguas e, aos seus ouvintes, a capacidade de interpretá-las, cada qual na sua própria língua.

 

Contudo, se vamos ao livro do Gênesis, no capítulo 11, encontramos um outro relato, que está na contramão do ocorrido em Pentecostes. Estamos falando do famoso episódio da Torre de Babel. Segundo o relato, em toda a terra havia somente uma língua e empregavam-se as mesmas palavras, não havendo idiomas diferentes. Mas os semitas da Babilônia empreenderam a construção de uma torre que alcançasse os céus, pois queriam observar tanto os céus como seus astros. Eles acreditavam que os céus estavam a dois quilômetros da terra. Porém, em sua ousadia, essa observação vinha do desejo de independência de Deus. Queriam implantar uma unidade em favor de si mesmos, mas sem Deus.

Resultado disso foi o fracasso e a confusão entre os habitantes da terra. A unidade que queriam, baseada apenas no fator linguístico, não era mais possível. As línguas são confundidas e o projeto é frustrado. Toda aquela unidade humana rebelada contra o Criador acaba se transformando numa diversidade fragmentada. A ruptura com Deus gera a ruptura social e étnica. Aquele povo percebeu que a unidade nunca é possível sem o fator essencial: Deus. Sem o respeito ao Criador, jamais se chega à comunhão dos corações. Ainda que adotemos uma linguagem inclusiva, ou até mesmo uma linguagem “neutra”, isso nunca será capaz de promover comunhão, mas apenas divisão. A ordem humana será sempre descendente, isto é, de Deus aos homens, do respeito às leis naturais plantadas na constituição de cada ser humano. Qualquer tentativa reversa a esta ordem, produzirá babel, caos.

Como dissemos anteriormente, na contramão da experiência frustrante de Babel está o Pentecostes cristão (At 2). Neste existe a clara obediência às palavras de Cristo de que os apóstolos “haveriam de receber o dom do Espírito”. Todos esperaram que do alto viesse o auxílio necessário, não mais para a construção de uma torre, mas para implantar Cristo nos corações e, por Ele, serem elevados às alturas do Céu, à morada do Altíssimo. No Pentecostes, é Deus quem derrama “línguas de fogo”, que se espalham sobre todos, sobre milhares, mas línguas que produzem a verdadeira unidade porque trazem a própria vida de Deus, a nova lei do amor. Resultado desse episódio, diferentemente daquele de Babel, foi a possibilidade de comunhão na diversidade dos povos e línguas. Todos ouviam na própria língua os apóstolos anunciarem as grandes obras de Deus.

É esse o maior efeito de Pentecostes para os nossos dias. Neste tempo marcado pela pluralidade religiosa, étnica e política, precisamos de uma nova efusão do Espírito Santo, para que nos seja dada a possibilidade de dialogar com todos os nossos irmãos. Para que sejamos capazes de chegar a cada coração e comunicar a Boa Nova do Evangelho. Neste mês de maio, também celebrado como mês mariano, invocamos a materna intercessão de Maria, que também esteve presente em Pentecostes, que com os apóstolos permaneceu fiel em oração aguardando a manifestação do alto. Que ela faça de nós espectadores da graça do Espírito Santo e promotores da comunhão na Igreja de Cristo.

Para viver bem o retiro mensal

1- Reze ao longo deste mês a Oração do Vinde Espírito Santo consagrando a humanidade e seus dramas à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Quando você encontrar alguma dificuldade na comunhão com alguma pessoa peça a intercessão de Maria e reze a ela pedindo seu auxílio.

2- Promova no grupo em que você participa (Grupo de oração, pastoral, movimento eclesial ou ministério) um momento de oração comunitária, meditando o texto de Atos dos Apóstolos 2.

3- Realize um gesto concreto de unidade e comunhão para com uma pessoa do seu trabalho, vizinho ou até mesmo um familiar, que professe um outro credo ou religião. Pode ser uma visita, uma partilha, um presente simbólico ou uma prece juntos.

Bom retiro. Deus te abençoe!

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