SÉRIE: DONS DO ESPÍRITO SANTO

O temor a Deus

De acordo com o Catecismo da Igreja Católica, sete são os dons do Espírito Santo. ¹Estes dons admiráveis que, na Sagrada Escritura, foram descritos pelo Profeta Isaías² são: sabedoria, entendimento, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus. São estes dons infusos que recebemos em plenitude nos sacramentos do batismo e da crisma, que sustentam a vida moral dos cristãos, por meio de disposições permanentes, que tornam o homem dócil aos impulsos do Espírito Santo. ³Os dons do Espírito Santo, que também são chamados de dons de santificação, são infusos em nossa alma por Deus, e nela habita para nos tornar dóceis à ação de Deus, no caminho da perfeição.

“O temor é um dom que Deus infunde em cada ser humano para que ele fuja do mal.” | Foto ilustrativa: cancaonova.com

Sobre o temor de Deus, o salmista vai dizer: “Vinde, filhos, escutai-me, eu vos ensinarei o temor do Senhor” (Sl. 34,12). Vai dizer ainda: “Feliz é quem teme o Senhor e muito se alegra nos seus mandamentos” (Sl. 112,1). Muitas são as citações bíblicas que nos exortam a viver no temor de Deus. Mas o que isso realmente implica? São Tomás de Aquino, Doutor da Igreja e um dos maiores expoentes da filosofia e da teologia católica, nos ensina que há duas formas de temer a Deus. A primeira é a maneira como um escravo ou servo teme o seu senhor. Este é o temor servil. E a outra é a maneira como um filho teme desagradar o seu pai. Este é o temor filial. 4Portanto, de acordo com o Doutor Angélico, o temor é um dom que Deus infunde em cada ser humano para que ele fuja do mal.

Abandonar o pecado

No temor servil, nos aproximamos de Deus e abandonamos o pecado, sobretudo o mortal, porque nos lembramos do castigo e da condenação eterna, caso venha a morrer na inimizade com Deus. No temor filial, diferentemente do temor servil, não é por medo do castigo ou da condenação ao inferno que fugimos do pecado, mas pelo medo de desagradar a Deus, ofendendo-o com os nossos pecados. Dessa forma, o temor de Deus nos faz reconhecer que os nossos pecados ofendem e ultrajam a Deus. E o que é pior: nos afasta de Deus.

Os Escritos Sagrados nos ensinam ainda que “o começo da sabedoria é o temor do Senhor” (Pr. 9, 10). Por meio de uma vida virtuosa, o cristão que luta para vencer as tentações, consegue se afastar do pecado. Com o auxílio do temor de Deus, somos impulsionados pelo Espírito Santo na luta contra as tentações e, por essa razão, a vitória se torna certa. A esse respeito, Santa Teresa D’Ávila dizia: “em face de tantas tentações e provas que temos de padecer, o Senhor nos concede dois remédios: amor e o temor. O amor nos fará apressar o passo; o temor nos fará olhar bem onde pomos os pés para não cair”5.

Muito embora seja listado como último dom, o temor de Deus é o primeiro e a base para todos os outros. É ele o primeiro passo no caminho da santidade e o primeiro degrau na escada da perfeição que os cristãos são chamados a subir. Infelizmente, muitas pessoas parecem ter perdido o temor de Deus. Sobre essa realidade, São José Maria Escrivá dizia: “há uma grande propensão nas almas mundanas para recordar a Misericórdia do Senhor. E assim, se animam a continuar em seus desvarios”6. Escrivá dizia ainda: “É verdade que Deus Nosso Senhor é infinitamente misericordioso, mas também é infinitamente justo. E há um julgamento, e Ele é o Juiz”7.

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Portanto, peçamos ao Espírito Santo que, mediante este dom, nos ajude a reconhecer com sinceridade de coração as nossas faltas e a sentir profunda dor por tê-las cometido. “Em posse dessas promessas, purifiquemo-nos de tudo o que contamina o corpo e o espírito, realizando plenamente a nossa santificação no temor de Deus” (2Cor. 7,1).

“Em conclusão, agora que ouvistes estas coisas, teme a Deus e observa os seus mandamentos, pois é este o dever de todo homem” (Ecl.12,13).

1 – Catecismo da Igreja Católica nº 1831.
2 – Isaías 11,02.
3 – Catecismo da Igreja Católica nº 1830.
4 – São Tomás de Aquino. Suma Teológica, II-II. q. 19.
5 – Santa Teresa, Caminho de perfeição.
6 – José Maria Escrivá, Caminho, n. 747
7 – José Maria Escrivá, Caminho, n. 747

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