“Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,9)
Aproximamo-nos de uma data muito significativa para a Igreja, com uma particularidade toda especial para a Canção Nova: a Solenidade da Santíssima Trindade. Nesta data, comemora-se também a Festa do Santuário do Pai das Misericórdias, este ano com o tema “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,9).
Deus, desde sempre, revelou Seu amor pelo homem. A própria criação do universo, do cosmo, deixa rastro desse amor. O universo existe em função do ser humano. Não dá para imaginar um mundo sem gente, um mundo formado apenas pela natureza, pelos astros, pelas estrelas e tudo o que há nele. O sentido de tal existência está em cada pessoa criada à imagem e semelhança de seu Criador. O homem é, por assim dizer, o coroamento e, ao mesmo tempo, o sentido de toda criação.
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A criação é obra de Deus, e disso não temos dúvida. Porém, descobrimos que Ele não é sozinho, não vive em uma solidão infinita, mas em comunhão de luz e amor com o Filho no Espírito Santo. Revela-se como Deus uno e Trino – “Eu e o Pai somos um!”. Tal mistério exige de nós não uma compreensão meramente racional, mas, em vez disso, contemplação. Diante de algo tão grande, a razão deve abaixar-se, dando lugar à contemplação.
Santíssima Trindade, três pessoas que são um só Deus. O Pai é amor. O Filho é amor. O Espírito Santo é amor. Na Trindade, existe a comunhão mais perfeita. Relação sem confusão. Pensando no universo, a maneira como é formado, vemos que em tudo há relação. Desse modo, como afirma nosso querido Papa emérito Bento XVI, “num certo sentido, em tudo está gravado o nome da Santíssima Trindade, porque todo o ser, até as últimas partículas, é um em relação e, assim, transparece o Deus-relação, transparece, por fim, o amor Criador. Tudo deriva do amor, tende para o amor e se move impelido pelo amor”.
São Paulo descreve: “Bendito seja o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das Misericórdias e o Deus de toda consolação” (2 Cr 1,3). O Pai é a fonte da Trindade. O Pai gera o Filho, e a comunhão do Pai e do Filho gera o Espírito Santo.
Em cada Eucaristia, celebramos o mistério pascal de Jesus: Paixão, Morte e Ressurreição. Porém, vale recordar uma coisa muito importante: na maioria das vezes, as orações são dirigidas a Deus Pai, por meio do Seu Filho, Jesus. “Tudo isso nós vos pedimos, oh Pai, por Cristo Nosso Senhor”. Compreendendo que é do Pai que o Filho é gerado na comunhão do Espírito Santo.
Você pode perguntar-se: “Por que a Festa do Santuário do Pai das Misericórdias é celebrada neste dia que, de fato, é a solenidade da Santíssima Trindade?”. Eu explico a você — a primeira coisa a saber: o Santuário é dedicado ao Pai. A Igreja, no decorrer do ano litúrgico, celebra memórias, festas e solenidades, em sua maioria recorda a vida ou o martírio dos santos, ou ainda, a dedicação de basílicas, como é o caso da Basílica de São Pedro. Dedica ainda solenidade ao Filho e ao Espírito Santo. Como, por exemplo, o Natal e a Páscoa, celebração da festa do Filho; Pentecostes, a festa do Espírito Santo. E não existe uma festa específica para o Pai.
Se tivermos de falar em festa para o Pai, teremos de dizer da solenidade da Santíssima Trindade. Chegou-se a esse discernimento, a partir da consulta feita ao nosso querido Dom Benedito Beni dos Santos. Atualmente, bispo emérito da diocese de Lorena. Uma vez que o Santuário é dedicado ao Pai, ele definiu, como bispo da época, que o Santuário do Pai das Misericórdias deveria celebrar como festa essa data.
Destaco uma outra peculiaridade do nosso Santuário: não se trata de uma devoção como em todos os outros santuários do mundo, e sim de uma espiritualidade. Ninguém pode ser devoto de Deus. A espiritualidade central do Santuário é o amor misericordioso de Deus pelos Seus filhos. A maior alegria do Pai é a conversão de cada filho que, estando longe, volta para sua casa novamente.
Assim sendo, sabendo que Deus é amor e, portanto, fonte de toda misericórdia, a festa do Santuário é a festa do amor e da misericórdia. Amor e misericórdia sem limite do Pai por Seus filhos. Preparemo-nos para viver juntos esse grande dia, a festa do amor e da misericórdia do Pai.
Pai das Misericórdias e Deus de toda consolação, ouvi-nos!
Padre Elenildo Pereira
Sacerdote da Comunidade Canção Nova