Humildade, confiança e obediência
Segundo a Doutrina da Igreja Católica, a Virgem Maria foi dotada de excelsa dignidade pela Santíssima Trindade para acolher, em seu seio virginal, o Cristo Senhor. Sobre ela repousam todas as graças – ela é a cheia de graça! Ela é a mulher virtuosa citada nas Sagradas Escrituras: “A mulher de valor, quem a encontrará? Ela é muito mais preciosa do que as joias” (Prov 31,10).
:: Nossa Senhora no Mistério da Redenção
Na Economia da Salvação, a Virgem Maria foi escolhida para a mais bela função: ser a Mãe do Salvador. Enriquecida por Deus, o fundamento da sua função consiste em sua íntima união com Jesus no dia da Encarnação quando torna-se Mãe do Filho-Deus. Diante do anúncio do anjo, toda a obra redentora depende do seu Fiat. Maria sabe o que Deus lhe propõe e consente livremente com seu plano salvífico, com plena consciência, sem qualquer restrição ou condição: “O seu Fiat responde à magnitude da proposta divina e alcança toda a obra Redentora. Portanto, Maria é mãe do Redentor e, por sê-lo, será associada à obra redentora. Ocupa, na ordem da redenção, o lugar que Eva teve no da nossa ruína espiritual”. (Tanquerey, 2018)
Portanto, Maria tem uma relação muito íntima com as três Pessoas da Santíssima Trindade, é a filha amada do Pai, associada à obra da Encarnação. E em função do papel que exerceu colaborando na obra da salvação e santificação dos homens, a Igreja afirma que “ela é o templo vivo, santuário privilegiado do Espírito Santo, […] a sua Esposa”. E, “ao tornar-se Mãe de Jesus segundo a carne, tornou-se simultaneamente Mãe dos membros de Jesus segundo o espírito”. Deste duplo título de Mãe de Deus e Mãe dos homens é que se origina o papel que Maria exerce em nossa vida espiritual. Ela é colaboradora na obra da nossa santificação.
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Segundo São Bernardo: “Aquela que era cheia de graça, deixou transbordar essa graça sobre nós”. Depois de Jesus, Maria é o mais belo modelo a imitar. Ela é a primeira discípula do Seu Filho. O Espírito Santo fez dela uma imagem viva das virtudes de Jesus e, dentre estas virtudes, destaca-se uma intensa vida de oração.
O silêncio de Maria
As Sagradas Escrituras narram as diversas vezes em que Jesus se retirava para orar. Ele exercia seu ministério, junto aos seus discípulos e em meio ao povo. E, após, se retirava para orar, para estar a sós com o Pai. As Escrituras também revelam que “Maria guardava todas as coisas no seu coração”. Com certeza, o silêncio de Maria é fruto de sua vida interior, de uma vida de total abandono a Deus através da oração. Só o coração orante consegue silenciar, ouvir, obedecer humildemente com total confiança. As virtudes da humildade, confiança e obediência é fruto de sua vida de oração e total abandono à vontade do Pai.
Segundo o Papa Paulo VI, em sua Exortação Apostólica Signum Magnum (1967), a santidade da Virgem Maria não foi apenas fruto da liberalidade divina, foi também, fruto da contínua e generosa correspondência da vontade dela às moções interiores do Espírito Santo. Segundo o Papa há uma perfeita harmonia entre a graça divina e a Virgem Maria, que em sua natureza humana, rendeu glória à Santíssima Trindade com total humildade, confiança e obediência. Abnegada, renunciou a própria vontade sendo ela mesma, a primeira discípula a viver a Palavra do Seu Filho: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz , cada dia, e siga-me. Pois quem quiser salvar sua vida a perderá, e quem quiser perder sua vida por causa de mim a salvará” (Lc 9, 23-24). Diante disso, como não a amar? Como não se confiar à sua especial proteção?
Com essa reflexão, somos convidados pelo próprio Deus a examinar nossa vida. Nesse tempo tão propício, quando a Igreja vive o tempo quaresmal, somos convidados a romper com o pecado, praticar penitências e, também, viver as virtudes. Diante dos desafios encontrados no exercício desta prática, peçamos a intercessão da Virgem Maria. Assim como ela, busquemos corresponder à vontade de Deus e assim, render-lhe glória.
Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós!
Referencias:
BÍBLIA. Português. Bíblia de Jerusalém. Trad. Gilberto da Silva Gorgulho; Ivo Storniolo; Ana Flora Anderson (Coord.). Nova ed. rev. amp. São Paulo: Paulus, 2002.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. 3. ed. Petrópolis: Vozes; São Paulo: Paulinas, Loyola, Ave-Maria, 1993.
PAULO VI. Exortação apostólica Signum Magnum, 1967.
TANQUEREY, Pe Adolphe. Compêndio de Teologia Ascética e Mística. São Paulo: Cedet, 2018.