Ser submissos à lei do Evangelho
No dia 28 de outubro, a Igreja celebra o dia de São Simão e São Judas Tadeu, dois dos Apóstolos de Nosso Senhor. O primeiro, talvez o menos conhecido dos Doze; o segundo, intitulado santo das causas impossíveis, considerado “irmão” (isto é, primo) de Jesus. Sobre os dois se fala em um apócrifo que percorreram juntos as 12 províncias do Império Persa, onde foram martirizados. Mas o que podemos aprender com a vida desses dois santos para nossa própria vida?
:: Chamados a transformação de vidas
Bem, estamos encerrando o mês missionário na Igreja. Entre tantos chamados na história da salvação, de apóstolos, santos, mártires, sacerdotes, religiosos, leigos, encontramos um ponto em comum, presente hoje na antífona de entrada da liturgia dedicada a Simão e Judas Tadeu. “No seu amor inabalável, o Senhor escolheu”. Sim! Toda vocação a um apostolado está ligada antes a uma escolha divina de seguimento: primeiro, Deus nos quer próximos a Ele, para depois irmos na missão que nos confia. Como nos ensina o Documento de Aparecida, somos discípulos e missionários.
Mas o alicerce central do discipulado na Igreja é o amor inabalável de Deus por nós. Esse amor de eleição é perene, não estremece com as faltas ou se dilui com o pecado, mas, antes, firma os passos do cansado, revigora as almas desanimadas e dá perseverança aos que firmemente seguem os passos do Redentor. E é por conta da força desse amor excessivo com que são amados que os discípulos não conseguem reter para si a experiência de serem pertença de Deus; querem anunciá-lo sem medo a quantos for possível, com um “som que ressoa e se espalha em toda terra” (Sl 18).
Mais uma vez, recorrendo à liturgia de hoje, a oração da coleta de hoje — aquela feita pelo padre logo após o ato penitencial ou do glória (o primeiro “oremos” da missa) — nos ensina dois pontos importantes do apostolado, fruto da intimidade com Cristo. Primeiro que, analogamente aos genitores biológicos, os discípulos de Cristo geram vida em outras almas pela pregação. São Paulo nos ensina que a fé vem pela pregação, pelo anúncio do Reino, tal como fizeram São Simão e São Judas Tadeu: “pela pregação dos Apóstolos, nos fizestes chegar ao conhecimento do vosso Evangelho”. O conhecimento de Cristo que muitos ainda não tem depende também da minha e da sua pregação, do nosso anúncio destemido do amor que nos salva e elege, que nos chama e nos envia; depende do nosso testemunho coerente de vida e entrega à vontade de Deus, submissos e conformes à lei do Evangelho.
Existe uma “Pérsia” para onde Deus quer enviar você! Talvez, sua casa, sua igreja doméstica! Ou no seu trabalho, nas suas redes sociais, nos seus relacionamentos. O amor que Deus derrama em sua vida precisa transbordar na vida de outras pessoas, ainda que isso lhe leve aos pequenos — ou quem sabe os grandes — martírios da existência. Tudo porque somos amados por um amor inabalável!
:: Um coração bate no seio da Trindade
O segundo ensinamento da oração da coleta é de que nem mesmo as situações adversas podem nos impedir de seguirmos e anunciarmos Jesus: “Concedei, pelas preces de São Simão e São Judas, que a vossa Igreja não cesse de crescer”. Claro, que homens que estão na glória, os santos que hoje celebramos não pregam como antes. Porém, sua intercessão vigorosa é a força de Deus agindo na humanidade e na Igreja.
Com isso, podemos aprender que, mesmo em situações em que a pregação não parece possível, as preces também têm poder de propagar o Evangelho. Santa Teresinha do Menino Jesus é considerada padroeira das missões, mesmo sem nunca ter saído dos muros do convento de Lisieux. Outros santos fizeram de sua vida e de seus sofrimentos um ato contínuo de intercessão e oferta de si pela salvação das almas e santificação da Igreja.
Mais recentemente, nós, Canção Nova, experimentamos algo nesse sentido. É difícil não trazer à memória a vida da missionária Jolina Pedreira de Jesus, falecida no último dia 25. Vítima de uma rara doença neuromuscular degenerativa, ela não deixou que a enfermidade lhe roubasse a felicidade, nem diminuísse o estado permanente de missão, fazendo dos seus sofrimentos a face alegre do testemunho de Cristo no carisma Canção Nova.
O que pretendo dizer é que você, ainda que não seja portador de uma doença rara ou seja perseguido ao grau do martírio dos apóstolos, pode, em alguns momentos, se sentir privado da capacidade de anunciar Jesus pelas palavras. Porém, isso não o limita de oferecer suas orações para que mais almas cheguem ao conhecimento do Evangelho e sejam salvas pelo mesmo amor inabalável com o qual o Senhor nos escolheu.
Por isso, neste dia de São Simão e São Judas Tadeu, peçamos ao Pai, por intercessão desses dois santos da Igreja, que sejamos discípulos e missionários, na condição que estivermos, na situação que nos encontrarmos, independente de sermos conhecidos ou não, mas firmados nas bases do invariável amor de Jesus Cristo por cada um de nós!
São Simão e São Judas Tadeu, rogai por nós!
George Lima
Seminarista da Comunidade Canção Nova