Eucaristia, Sacerdócio e Caridade

Missa da Ceia do Senhor

Ex 12,1-8.11-14; Sl 115; 1Cor 11,23-26; Jo 13,1-15

Nesta celebração damos início ao Tríduo Pascal, esta celebração se inicia hoje e termina com a Vigília de Páscoa. Nós comemoramos hoje: a Instituição da Eucaristia, o sacerdócio e o “sacramento da caridade”.

:: O que é Tríduo Pascal?

Na Primeira Aliança feita por Deus se deu por ocasião da opressão vivida pelos israelitas no Egito. Realizam trabalhos forçados, estavam fora da pátria, eram escravos do faraó. Deus enviou Moisés para libertá-los, porém o faraó estava com o coração “endurecido” e por várias vezes, apesar das manifestações divinas, o Egito não cedeu a liberdade aos filhos de Israel. 

missa-ceia-do-senhor

Então chegou o dia que finalmente o faraó libertaria Israel e foi instituída a páscoa. O Senhor ordenou que o povo de Deus deveria tomar um cordeiro por família, sem defeito, macho de um ano. A família deveria imolar o cordeiro, untar as portas com o sangue e assar a carne para comer com pães e ervas amargas. As ervas amargas eram para lembrar as dificuldades no Egito, as dores causadas pela opressão do faraó. 

Hoje quais são as ervas amargas que temos provado? Quais foram as ervas amargas já provadas nesses anos, nesse ano, nessa quaresma? A erva amarga da enfermidade, do desemprego, a erva amarga das divisões, da violência, da fome, a erva amarga da falta de ânimo, da depressão. 

As “ervas amargas” aparecem de ano em ano para nos lembrar as dificuldades e lutas superadas, as ervas amargas nos lembram que a “vida é uma bela rosa com muitos espinhos”. 

:: Onde há vivência quaresmal, haverá misericórdia

Os israelitas deveriam os pães, o cordeiro com os rins cingidos, sandálias aos pés e cajado na mão. Comer às pressas porque era páscoa, ou seja, passagem do Senhor. O Senhor iria passar e aqueles que tivessem obedecido não teriam suas casas atingidas pela praga exterminadora. E assim, esse dia deveria ser celebrado como uma festa memorável ao Senhor. Até hoje os judeus comemoram a páscoa e o termo hebraico é “zikaron”, memórial, e há uma tradução melhor ainda “presencialidade”.

Agora vamos da páscoa da primeira aliança para a Nova Aliança em Jesus Cristo. O Evangelho de João diz “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” ((Jo 13,1). O que é a Páscoa do Senhor? É o amor até o fim, é o amor sem fim de Jesus. 

Na ceia o diabo já havia colocado no coração de Judas o propósito de entregar Jesus. Peçamos a graça a Deus de não darmos espaço para o inimigo em nosso coração.        

Mas o Senhor segue com a ceia depois lava os pés dos discípulos. O que é a Páscoa? É o amor sem fim de Jesus. O que é a Páscoa? É a Ceia, a Instituição da Eucaristia seguida do lava-pés, do serviço ao próximo. 

Páscoa

O que é a Páscoa? O “lava-pés”, dar de comer e beber a quem precisa, visitar ou ligar para doentes, rezar pelos doentes e presos, pelos que sofrem. Como, ainda, lavar os pés uns dos outros? Deixar de falar mal, pensar mal, querer o mal… do próximo. 

O que é a Páscoa? O amor de Jesus que vai até o fim, é lavar os pés uns dos outros. 

Hoje comemoramos o sacerdócio, rezemos pelos padres e pelas vocações sacerdotais e religiosas. Rezemos por estes filhos frágeis, pecadores, mas escolhidos para servir. Nesse tempo em que recuamos, mas recuamos para avançar, para cuidar. Recuamos, mas rezamos, recuamos, mas não deixamos de sofrer, recuamos, mas crescemos espiritualmente.

As vezes pensamos “quanta gente desequilibrada, não aguento mais atender, não tenho inspiração nenhuma para ajudar o povo, será que meu sacerdócio tem sentido, tem valor?” 

Hoje sentimos falta, não dos “desequilibrados”, mas estes também precisam de ajuda, mas sentimos falta de celebrar com o povo, de atender, de ser um sinal que aponta para o Alto.

Hoje sabemos que nosso sacerdócio tem valor no silêncio e quando estamos com as pessoas. Porque Jesus exerceu seu sacerdócio com multidões e foi sacerdote ainda no abandono da cruz.

Por fim, hoje comemoramos a instituição da Eucaristia, “a Igreja vive da Eucaristia” (Carta encíclica Eecclesia de Eucharistia n.01), ela é a fonte e o centro de toda vida cristã (LG 11), é o céu na terra “Toda vez que participamos da Santa Missa, em certo sentido, antecipamos o céu na terra, porque da comida eucarística, do Corpo e do Sangue de Jesus, aprendemos o que é a vida eterna” (Papa Francisco). 

Nesse tempo nunca valorizamos tanto a Eucaristia, talvez nunca sentimos tanta falta de recebê-Lo, contudo devemos ter uma grande atenção, não se trata apenas de comungar por comungar, mas trata-se de ser Eucaristia. Dá para considerar alguém eucarístico não porque passa horas diante do santíssimo ou porque comunga diariamente. A pessoa é eucarística porque imita o Senhor e é alimento para os outros, a Eucaristia não deve ser apenas para benefício próprio, uma satisfação espiritual egoísta. A Eucaristia deve nos levar a ser alimento, força, ânimo, esperança para os fracos e desanimados. A Eucaristia deve nos levar a ser perdoadores, homens e mulheres de bem.   

Padre Márcio Prado
Vice-reitor do Santuário do Pai das Misericórdias

Deixe seu comentários

Comentário